José
Luís Vaz
Saí de casa, sem carro,
desejoso de caminhar sem destino, espairecer, respirar ar puro, descontrair,
desligar do quotidiano dos noticiários que, quanto mais longos, mais
deprimentes. Começa a ser muito penoso ser uma pessoa minimamente informada.
Notícias, umas a seguir às outras, sempre, sempre, a falar da crise e sempre da
pior forma. Caminhava descontraidamente, saboreando o tempo, que ao tempo não
tinha, para relaxar e desfrutar as coisas mais simples da vida. O silêncio da
natureza, harmonizado, aqui e ali, pelo chilrear de um pássaro que, senhor do
seu bico, faz questão de dizer que, aqui quem “canta” sou eu. Andei bastante, o
suficiente, para me apetecer sentar num dos bancos de um jardim, muito
frequentado por pessoas idosas, que ali deixam passar o tempo que teima em não
parar. Julgava eu, continuar o meu salutar alheamento de tudo e de todos os que
diariamente nos massacram. Mas não. Próximas de mim, num banco ao lado,
conversavam compulsivamente três senhoras, sobre um assunto muito pertinente, a
crise! Arrependido de me ter levantado, disfarcei, passeei um pouco por ali e
voltei a sentar-me. Estava disposto a usufruir de um lugar, pelo qual nada
paguei, para poder assistir a um verdadeiro espectáculo popular que me fazia
recordar o tempo em que a “revista à portuguesa” nos informava e mobilizava
divertindo-nos profundamente.
– Olhe menina, eu agora
decidi deixar essa malandragem e ir aos mercados.
Com um dito destes, é
evidente, que qualquer um se colava ao assento procurando nada perder dum novo
estilo de abordagem da famigerada crise.
– O quê? Ó Guilhermina, isso
nem parece seu? Então, vive tão perto de um ótimo supermercado, com três
empregados tão simpáticos, e vai andar aí a dar voltas, à procura dos mercados?
– Também digo, ainda se
valesse a pena?