terça-feira, 31 de dezembro de 2013

NOITE VELHA

EVOLUIR agradece ao autor o envio deste texto para publicação


A sua vinda é afirmada e repetida, vezes sem conta, nos constantes telejornais de todas as estações televisivas.
Pelas cinco e meia da tarde...
Pintam-lhe o rosto em tudo o que é imprensa diária, com vedetismo, para que ninguém se esqueça: vai chegar a noite. Nos mais simples indícios da aproximação dos grandes centros urbanos, gigantes “outdoors” promovem a sua chegada, com as melhores vestes e sonoras promessas de brindes e magia que deixam adivinhar o encantamento da grande festa. E ela tem o rigor de vir cedo. Pelas cinco e meia da tarde dá sinais que vai descer a cortina festiva para o espetáculo da sua apresentação. Faz acreditar que vem cheia de mistério. Mais e melhor que todas as outras que a precederam. Há bastante tempo que a sua entrada no círculo do espaço é motivo de tagarelice ocasional para uns e de objectivos - que são sonhos - para outros. Com a maquilhagem de luzes para a celebração a preceito, com o toque de borbulhas das taças de champanhe, vai chegar dentro de momentos. É a sua entrada pela primeira vez e que será a única. Antes ninguém tivera o sortilégio de a contactar na sua ronda astral porque ainda não havia lugar para ela na esteira da astronomia. Apesar de infinito não cabia no espaço que, para isso acontecer, tinha que se acrescentar. Astrónomos colocavam a si mesmos a hipótese de ela ter o berço num dos buracos negros do universo, que a ser certo seria parida de um buraco mais negro que todos os outros. Negro, negro, mas mesmo negro. Mas a ser verdade, tal astronómica e estranha ocorrência, o facto não se podia demonstrar, porque se o buraco era todo negro também a noite, que é negra, e, para mais, nova, não se podia  examinar. Ao certo, o que se sabia é que aquela noite, pela primeira e única vez, ia chegar. E não ia faltar, porque até então, embora tenha havido apostas perdidas, que alguns, mais eufóricos e audazes, fizeram, nunca deixara de vir. Nem sequer de se atrasar. À hora calendarizada, no preciso ponto anunciado, ela chegaria nem que fosse só para  dizer estou aqui, reparem bem em mim, só para afirmar a sua grandeza e não deixar mal o oráculo.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Natal

EVOLUIR agradece ao autor o envio deste poema para publicação




Maria da Conceição Lages©2013,Aveiro,Portugal

domingo, 29 de dezembro de 2013

ACONTECER NATAL

EVOLUIR agradece ao autor o envio deste poema para publicação




Maria Celeste Salgueiro ©2013,Aveiro,Portugal

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Amanhã será NATAL












É urgente que se faça noite
E que as luzes se apaguem!
É urgente calar o ruído e disseminar o silêncio
É urgente instalar a escuridão
E caminhar a passo, devagarinho
Para não cair no fosso sem fundo
E desaparecer no fim do nada.

É urgente instalar o silêncio
E ouvir o passo sibilino da gaivota
Que corta o espaço em voo rasante
E rasga o horizonte
E se entrelaça no adejo picado
Da águia imensa e medonha
Cuja sombra escurece a praça deserta.

Aí ouviremos o tilintar das moedas
E as caixas automáticas
A registarem a vertigem
Dum consumo que se instala
E duma ânsia de adquirir
Que escorrega pelas nossas mãos
E se agarra ao nosso corpo
E não se desprende
Nem se desliga, nem se deslaça.

Onde ficaram os abraços
Os sonhos esquecidos e os sonhados?
Aquele prato de sopa partilhado
Ou aquele sorriso repartido?
Onde paira a magia duma noite de Natal
Em que o calor sabe a mel
E o carinho se multiplica na rua?

Onde ficou o entrelaçar de vozes
E o aconchego do lume da lareira
Cuja dança bruxuleante
Canta o som misterioso
Dum sino que na montanha
É um sinal de esperança?
Onde paira a alegria
Dum recomeço ou dum nascer de dia?

É urgente, sim é urgente
Que cada dia renasça num Natal!

2013/12/23

Albertina Vaz ©2013,Aveiro,Portugal

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

SE EU FOSSE O PAI NATAL…

Com este trabalho, de um pai que já foi menino, e que escrevia assim aos 10 anos de idade, terminamos o ciclo de publicações das crianças que quiseram partilhar connosco a sua mensagem de Natal.

EVOLUIR agradece a todos os meninos que quiseram participar e deseja que todos tenham tido um bom natal e algumas prendas no sapatinho.

Se eu fosse o Pai Natal, daria tudo por tudo, para que as crianças tivessem presentes. Nem que fosse só um cartãozinho, que muitas vezes vale mais que muitas coisas caras e sem interesse!
Mas se eu fosse mesmo,mesmo o Pai
do Mundo!...
Se eu fosse o Pai Natal, fazia com que as crianças e os adultos não andassem nas ruas, desamparados, a pedir esmolas, aos cantos das cidades ou vilas. Fazia com que elas tivessem um conforto, um sorriso profundo numa poltrona suave que lhes oferecesse comodidade… Ai, se eu fosse o Pai Natal!... Acabaria com a guerra, com tudo o que há de mal neste mundo cruel!!
Mas se eu fosse mesmo o Pai Natal mudaria o mundo, o Planeta inteiro! A todos dava um sorriso, um sorriso de alegria que afugentasse a tristeza.
Mas se eu fosse mesmo, mesmo o Pai do Mundo! … Na noite de 24 de Dezembro distribuía a paz e a ternura pelas famílias do mundo. Eu faria com que os que andam na guerra tivessem uma vida melhor e mais amorosa!
O Natal devia ser para juntar os países que estão em guerra, para tornar o MUNDO FELIZ!!!

Daniel Vaz ©2013,Aveiro,Portugal

10 anos

Uma história de Natal

Era uma vez um senhor muito rico chamado Donaldo. Era um senhor já de idade avançada e não sei porquê não gostava do Natal.
Todos os anos, nesta época, não queria sair à rua.
Teve um amigo, colega de trabalho, que já tinha falecido, chamado Pateta.
O senhor Donaldo estava sozinho, porque o seu empregado tinha tirado uma folga para passar um tempo com a família, que eram a mulher e os três filhos.
Um deles, o Peter, tinha uma perna partida e por isso tinha de andar com uma muleta.
O senhor Donaldo era uma pessoa invejosa e nesta época nunca ajudava os pobres. Até que um dia foi visitado pelo espírito de um amigo que tinha falecido.
Ele avisou-o que seria visitado por outro espírito, mas não lhe podia explicar mais nada.
Então o tal espírito chegou à meia noite e levantou-o da cama com um simples toque de despertador.
Ele aterrorizado, olhou-o e exclamou:
- Oh, estava eu cheio de medo e afinal és tão pequeno!
O espírito abriu a janela do quarto e foi com ele visitar o Natal passado. O Donaldo viu-se a dançar com uma senhora muito bonita.
A seguir foram visitar a casa do seu empregado e viu que na mesa estava só um peru.
Mas era só o peru e três ervilhas
O menino que tinha a perna partida estava contente por terem tanta comida e dizia ele: ena tanta coisa boa!...
Mas era só o peru e três ervilhas. Como a perna do peru calhou ao menino que tinha a perna partida, ela ofereceu-a ao pai, que estava a comer só uma ervilha. Claro, o pai não aceitou.
O Donaldo ao ver aquilo (tanta pobreza) veio-lhe uma lágrima ao olho.
Então o espírito levou-o ao cemitério e ele percebeu que estava no Natal futuro.

O Pai Natal


Maria Miguel ©2013,Aveiro,Portugal

7 anos

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

NATAL

Nuno Ferreira ©2013,Aveiro,Portugal

9 anos

Hoje é dia de Natal

Hoje é dia de Natal
Onde em pleno inverno o estamos a festejar
No quentinho da lareira
Para ninguém se congelar.

Com doces e salgados
Na mesa natalícia
E ao lado da árvore de Natal
Nada vai faltar  para uma noite de Natal feliz passar.

Com o presépio ao lado enfeitado
Com a família em casa
E com o Pai Natal a chegar
O que mais poderia eu desejar?



Talvez saúde, alegria e felicidade
Mas isso com a família por perto
Já está tudo concretizado.

Joana Antunes ©2012,Aveiro,Portugal

10 anos

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Um Dia de Natal Maravilhoso

Era uma vez uma menina que se chamava Carla, tinha uma voz encantadora e o maior espanto é que ainda só tinha dez anos.
"Canta, canta!"
Um dia, escrevendo a carta ao Pai Natal, pôs-se a cantar e, como era pobre, colocou em pensamento o dinheiro que a família tinha para lhe comprar as prendas. Triste, pensou apenas num presente que sem gastar dinheiro todos lhe poderiam oferecer. Então, desistiu da carta e na véspera de Natal disse a toda a família para assistirem ao “concerto” que ela ia dar e que seria o melhor presente que lhe podiam oferecer.
Então no dia de Natal cantou para toda a família e até os vizinhos que a escutavam nas suas casas choravam de emoção por ouvirem tão doce voz. A mensagem espalhou-se muito rapidamente pela pequena cidade e todas as pessoas se dirigiram para ao pé da sua casa, gritando: “Canta, canta!”

Carla, também emocionada com tanto sucesso, cantou para toda aquela gente que a aplaudia entusiasmada, acabando por ser aquele o melhor Natal de sempre.

Bruna Correia ©2013,Aveiro,Portugal

10 anos

O menino que deu uma prenda ao Pai Natal

Era uma vez um rapaz que se chamava Manuel. Naquele ano, ele queria dar uma prenda ao Pai Natal. Pensou em dar-lhe uma prenda com a forma do Pai Natal e feita pelas suas próprias mãos.
Na noite de Natal, Manuel atirou uma bola de portal que tinha o poder de o transportar para a casa do Pai Natal.
Eu queria oferecer-lhe uma prenda....
Lá dentro, escondeu-se, mas, claro, um duende encontrou-o e levou-o ao Pai Natal.
— O que faz este rapazinho aqui? — perguntou o Pai Natal.
— Eu queria oferecer-lhe uma prenda feita por mim!
O Pai Natal sentou-se na sua cadeira e disse ao Manuel que lha podia entregar. Ele, que dava tantas prendas, agora ia receber uma! Quando a abriu, ficou muito impressionado com a prenda e exclamou.
— Uma escultura de gelo igual a mim! Até parece que me estou a ver ao espelho!
O Pai Natal agradeceu e também deu uma prenda ao Manuel: um trenó e renas para ele regressar rapidamente a casa onde estava a família à espera para celebrarem o Natal todos juntos.
Naquele ano o Manuel deu e recebeu as melhores prendas de Natal da sua vida!

Tiago Rendeiro Carvalho ©2013,Aveiro,Portugal (texto e ilustração)

8 anos

domingo, 22 de dezembro de 2013

O Natal

Realmente o Natal é um tempo de surpresas e de esperanças: queiramos ou não, aí estão elas! Já chegaram: são O FUTURO! Sem percebermos como invadiram o nosso espaço e chegaram cheios de sinos a tocar, de luzes tremeluzentes e de cheiros a rabanadas e a bolo de chocolate.
EVOLUIR tem o grande prazer de abrir este espaço às crianças e com elas partilhar a magia duma noite que se repete de cada vez que uma estrela se destaca no firmamento e é apanhada a sorrir.

...porque se reúne a família
e recebemos presentes
O Natal é uma festa que se realiza no dia 25 de Dezembro.
Para mim é uma festa muito bonita, porque se celebra o nascimento de Jesus.
No Natal faz-se o presépio com o menino Jesus, Maria, José, o burro, a vaca, as ovelhas, os pastores e os três reis magos. Também se faz a árvore com as bolas, as luzes, as fitas, os presentes falsos e a estrela.
Na noite de Natal come-se: bacalhau couves e batatas. Depois comemos os doces tradicionais: velharacos, filhós, sonhos, rabanadas, bolo rei, arroz doce, etc.
Eu gosto muito desta festa, porque se reúne a família e recebemos presentes.

Levi ©2013,Aveiro,Portugal
8 anos

sábado, 21 de dezembro de 2013

ELE, O NATAL… E EU

EVOLUIR agradece ao autor o envio deste texto para publicação.


Não fosse uma ou outra gaivota cruzar o ar morno em voo de refúgio da noite e dir-se-ia que a única coisa que mexia, naquele fim de tarde, era o Sol, na sua queda lenta mas perceptível sobre a linha do horizonte, lá para ocidente.
... o dia passaria o testemunho à noite
Dentro em pouco, o dia passaria o testemunho à noite, nessa sucessão de reinados que governam toda a vida na Terra. Mas, antes que isso acontecesse, quiseram as águas da baía de Luanda quedar-se em espelho quase perfeito, parecendo assim que o céu tinha alargado os seus limites para que nele coubessem todas as cores visíveis aos nossos olhos, todas as cores da Natureza, materializadas nas nuvens ricas, profusas, eloquentes…
Em contra-luz, os grandes navios ancorados reflectiam-se nas águas azuis e quedas da baía numa inversão de imagens tão perfeita que suscitaria, num primeiro relance, a visão dramática dum naufrágio colectivo.
Por sua vez, vista dali, a Ilha de Luanda, mais um istmo que uma ilha, estirava-se até à entrada da baía, escondendo dentro de si, como réptil hibernado, traços de vida em formas de silêncio.
Também os guindastes do cais se haviam quedado, adiando as suas evoluções lentas e poderosas. E as pequenas embarcações que sempre animam as águas dos portos no seu vaivém incessante estariam agora, com ou sem os seus homens, amarradas em um qualquer canto do cais.
Tanta quietude assim arrastava consigo um tal silêncio que só não era aterrador porque a Natureza, ela própria, espalhava no ar, em formas de prodígio, um certo odor de santidade.
... seria eu a única forma viva
 daquele cenário?
De pé sobre o tombadilho do meu navio, para além das gaivotas seria eu a única forma viva daquele cenário? Então, uma certa inquietação pôs-me a andar dum lado para o outro, em passos de guerreiro que tomou o campo por abandono, sem conquista…
Na ânsia de ver semelhantes, dei a volta à casaria do navio e espreitei o cais ao qual estávamos atracados. A luz, já um tanto difusa do anoitecer, permitiu-me ainda divisar duas manchas brancas que tamborilavam por sobre, penso eu, grãos de cereal derramado.
Dum contentor para outro, um rato enorme correu, veloz. E um vulto errante, pardo, farejava a borda do cais no desespero do navio perdido.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Memórias de uma noite de Natal

EVOLUIR agradece ao autor o envio deste texto para publicação




A nossa história começa muito antes de existirmos. Esta história começa com uma Albertina, que não sendo eu, já havia dentro dela um pedaço de mim. Na altura ela não sabia que teria uma neta com o mesmo nome e, heranças, a mesma altura também.
Havia dentro dela um pedaço de mim
Espera-se de cada história um tesouro; um dos tesouros da minha avó era um prato muito grande, dos lados afloramentos a branco e azul, no centro do prato um peixe azul. Nesse prato comiam quatro pessoas, uma vez por ano, na véspera de Natal.
Ela partiu muito jovem, não viu os netos nascer. Mas quis o destino que esse prato enorme sobrevivesse anos e anos até que os seus netos o pudessem tocar.
Uma vez por ano.
Na véspera de Natal levantava-me com duas ou três tarefas marcadas no calendário. A primeira era cantar a noite feliz até cansar os ouvidos mais carinhosos, a segunda era levar à tasca e mercado do Sr. Joaquim, pai do meu amigo Tóni, uma garrafa de litro, vazia, para encher com vinho tinto e trazer os dois cacetes encomendados para as rabanadas de vinho, porque a minha mãe não tinha o hábito de fazer rabanadas de leite, e a terceira tarefa, a principal, a que acompanhava a banda sonora era observar a minha mãe naquele ritual de Natal.
Começava por acender
o fogão de lenha
Começava por acender o fogão de lenha, podíamos sentir o aroma a madeira subir pelas paredes e terminar num fio branco a sair pela chaminé, as couves por arranjar ocupavam a banca, as batatas separadas numa bacia, o cheiro a canela que subia do leite a ferver para o creme ou na aletria em forma de quadrados, por fim as rabanadas que perfumavam toda a casa com uma mistura de canela e vinho; se a fantasia pudesse ter um cheiro, seria esse. Todos juntos e em movimento, a televisão a chamar-me para ver os bonecos que lançavam estrelas, a mãe a chamar-me para lhe chegar uma colher, um pano, para com ela descer os quatro degraus para a garagem, pegar no prato azul com um peixe escondido pelo pó e finalmente sentir dentro de mim que a noite de natal estava a chegar.
Éramos quatro, número perfeito para esse prato perfeito. Cada um tinha o seu sítio marcado e era perfeito. Calorosamente, repetidamente, perfeito.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Não se passa nada!

Com este trabalho interrompemos o Ciclo denominadoViolência sobre o ser humano” que temos vindo a desenvolver: a participação de muitos colaboradores e a importância que lhe queremos dar leva-nos a voltar ao mesmo no inicio do próximo ano.

E porque é Natal gostaríamos de desafiar as crianças e os seus pais a participar no EVOLUIR e a enviar-nos os seus trabalhos para podermos festejar a partilha, a dádiva, os sentimentos que sempre nos visitam e a família que queremos presente.

Pairava no ar algo estranho, havia um não sentir nada, mas um palpitar não sabia o quê, uma inquietação do improvável, um estar lá longe de tudo e de todos. O coração intranquilo de uma mãe, como outra qualquer que se deita a adivinhar o inimaginável que, na sua opinião, possa perturbar algum dos seus. Mortifica-se, pensa, observa, quebra os seus próprios silêncios para não se denunciar.
O jantar com toda a familia reunida
Durante o jantar, finalmente, com toda a família reunida, a satisfação, mas também o cansaço de mais um dia daqueles que passaram e nada deixaram, aquela inquietação em nada ajudava a construir a personagem vital daqueles poucos momentos de partilha, de convívio com as alegrias ou frustrações agora despejadas no cesto das intimidades de uma família. Três filhos eram a bandeira daquele casal. Por eles faziam tudo e tudo era sempre pouco para quem tudo lhes queria proporcionar. Bens materiais? Alguns, os indispensáveis, não eram ricos, longe disso, mas os pais preocupavam-se no investimento possível que proporcionasse aos filhos o alargar de horizontes, a aquisição de conhecimento, a experiência de novas oportunidades, a descoberta dos outros, sempre aprendendo com e respeitando a diferença, fomentando neles o ser solidário indispensável à nova sociedade global. À noite, cada um procurava no recanto do seu quarto corresponder às respetivas exigências académicas e os pais, na sala, entremeavam com os afazeres inadiáveis o diálogo natural dum casal que quer pôr a conversa em dia depois de mais um dia de trabalho.
— Lena, dá para perceber que tiveste um dia esgotante. Estás muito cansada, não estás?
Há qualquer coisa com a
nossa menina
Completamente surpreendida tentou recompor-se, passou a mão pelo cabelo e numa atitude aparentemente descontraída, pestanejou, sorriu e respondeu:
— Sabes que naquela casa trabalha-se muito todos os dias… É curioso é estares tão preocupado. Simpatia tua, Jorge.
— Não, não continues a disfarçar… Já te conheço há uns anitos e não me consegues enganar. Alguma coisa te preocupa, eu sei. Não queres falar?
— És incrível… Desta vez, guardou o sorriso, franziu os olhos e com ar preocupado deu-se por vencida.
— Há qualquer coisa com a nossa menina… Ela anda muito esquisita e eu não sei o que se passa… É muito triste perceber que a nossa filha não anda bem e nem sequer a posso ajudar…

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Bullying

Os atos que esta palavra tão esquisita referencia e que só há pouco tempo se tem vindo a ouvir e a falar com frequência, existem desde sempre.
Há muitas maneiras de praticar bullying e nos mais diversos lugares, como, por exemplo, na casa onde se habita, partindo de pessoas de quem menos se está à espera.
Aquelas pessoas que todos pensamos amar o seu próximo, que têm obrigação de defender os mais frágeis, aí reside um dilema grande.
A familia parece unida
Há casas onde a família parece unida, sólida, mas onde existe uma mágoa tão grande, um desconforto e até um medo atroz.
Uma rapariga ainda nova, com a matrícula feita na universidade, ia ingressar no curso que tanto prazer lhe dava. Pois essa menina encantou-se com a conversa de um rapaz bem mais maduro que ela, que já tinha ido à guerra do ultramar, namorou e casou debalde os conselhos da família, nomeadamente do pai.
Foi um desgosto grande que o pai teve, mas se era da vontade dela…não podiam fazer nada. Quando o encanto do casamento passou, essa menina passou a viver um verdadeiro inferno. A bebida era muita o que originava mau estar na família toda. Aos poucos foi passando para as agressões verbais.
Entretanto nasceram os filhos que iam assistindo a todas estas situações.Por muito apoio que a família lhe desse, não compensava a tristeza e o sacrifício que ela passava em casa.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

De mãe para filha

Inês, vou-te contar a minha história de amor. A única na minha vida.
Amei profundamente um homem, o Afonso, teu pai. Conheci alguns homens antes do Afonso
Amei profundamente
um homem, o teu pai
entrar na minha vida, mas nunca havia conhecido alguém como ele, capaz de me mudar para sempre. É que com o Afonso tudo parecia fazer sentido e o meu instinto dizia-me para não recuar, não recuar e não recuei.
Conheci o teu pai em Novembro de 2003, estava num bar habitual com o meu grupo de amigos, e vi-o no balcão, sozinho, a fixar-me sedutoramente, um homem lindo, maduro – eu tinha vinte e cinco anos. Lembro-me que ao enfrentar aquele olhar fiquei nervosa, suei por inteiro, entrelacei as mãos, cruzei as pernas, tentei usar em mim a minha própria força, tudo para combater o desejo de me levantar e tocar naquele homem que não parava de me olhar. Eu nunca senti algo tão intenso na minha vida.
Não falamos nessa noite, nem nas noites que se seguiram, eu na mesa, ele no balcão, muita gente, mas só os dois, como num filme. Assim, com esta intensidade, durante um mês.
Em Dezembro de 2003 fui convidada para estagiar numa grande multinacional nos Estados Unidos, uma oportunidade única e para a qual trabalhei imenso. Sentia-me estasiada, realizada e apenas uma imagem esmorecia este encantamento, aquele homem do bar. Retirei-o da minha mente, havia programado outro rumo para a minha vida: liberdade, independência financeira. Enfim, filha, ser dona da minha vida e depois quem sabe, mais tarde, o amor viesse ao meu encontro.
Festança até cair
Para festejar o grande acontecimento combinamos, os mesmos do costume, uma festança naquele bar; beberíamos até cair, brindaríamos ao futuro brilhante que todos teríamos, e eu, no fundo, esperançava vê-lo uma última vez. Não apareceu. No final da noite decidi que iria para casa enquanto o resto do grupo brindaria pela noite fora. E, Inês, é aqui que a história de amor da tua mãe começa e sem que eu imaginasse, a tua vida também.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

André e Raquel

Dia Internacional pela Eliminação da Violência


Simbolicamente iniciamos hoje a publicação de uma série de textos que retratam a violência sobre o ser humano nos seus múltiplos aspetos. Convidamos todos os que queiram participar nesta reflexão de molde a enriquecer  sempre este local de troca de saberes e partilhas.

Abstraído das pessoas e olhando pela janela, André ia relaxando do treino de duas horas que acabara há pouco. Faltava um jogo para a equipa assegurar o primeiro lugar na competição regional: a esta preocupação de que, no que dependesse de si, a equipa não falhasse, acrescia alguma tensão com a aproximação dos exames. Até àquele seu 9º ano, já fizera outros exames e várias provas intermédias. Os resultados não iam ser decisivos, era apenas o brio próprio que estava em causa: queria tirar boas notas como acontecia a maior parte das vezes ao longo dos anos de estudo que já percorrera.
O som de fundo do motor do autocarro e a luz exterior, que deliberadamente absorvia, fizeram-lhe sentir uma distensão de todo o seu ser. A menos de um mês do início do verão, os reflexos do cair da tarde chamavam a luz mágica do aproximar da noite.
As casas já festejavam a chegadas das pessoas que as humanizavam. Era o alvoroço das crianças que tudo querem contar sobre o longo dia passado fora, era a alegria do reencontro dos que nelas partilham cumplicidades, era o bem-estar por um dia de trabalho responsável, era! Era também o jogo das incertezas e das surpresas que a vida a cada momento nos propõe.
Mais uma paragem. E, naturalmente, despertou um pouco. Fixou o movimento
Que estaria Raquel a fazer
naquele lugar?
compassado das pessoas a entrarem, um ou outro atropelo de quem muito quer um lugar sentado, uma ou outra hesitação de quem já não sente toda a firmeza da juventude e os seus olhos fixaram um vulto feminino que, de costas, permanecia sentado no banco da paragem. Não fazia sentido: naquela rua só passava aquela carreira e o vulto tinha qualquer coisa de familiar…Que estaria Raquel a fazer naquele lugar? Ela vivia noutra zona da cidade…
Saiu na paragem seguinte e correu até à amiga. Quando os seus olhares se cruzaram, Raquel não conseguiu disfarçar as lágrimas e as tremuras que a sacudiam a espaços. André agarrou-lhe as mãos. Conheciam-se desde o jardim de infância. Sempre foram amigos inseparáveis até terminarem o 6º ano e amigos continuaram depois, mas em escolas diferentes. Quis saber o que lhe tinha acontecido. Raquel olhava à sua volta como animal ferido que tem medo de ser descoberto. Fixou o sol que aspergia os últimos pontos luminosos daquele dia sobre a Terra com a mensagem “Amanhã será um novo dia”. Reviu em filme algumas gargalhadas infantis dadas em conjunto com André e sacudiu a cabeça em sinal de assentimento.
– André, estou aqui apenas para me acalmar e poder ir para casa sem levantar suspeitas. Confio em ti para manteres em segredo o que te vou dizer. Estou a passar uma fase de namoro menos boa. Eu sei que vai passar!
Eu quero saber o que se passou.
– Eu quero saber é o que se passou. Tu não consegues deixar de olhar à tua volta e continuas a tremer.
André abraçou-a para ver se conseguia acalmá-la. A resposta foi um longo grito de dor, enquanto afastava André.
– O que tens?


sábado, 23 de novembro de 2013

O moliceiro, o amante da ria



O moliceiro, o amante da ria,
Flutua leve, silencioso,
Rompendo a madrugada,
Rasgando o manto misterioso
Da neblina que os veste;
E com a ajuda do sol nascente
Aparece imponente à luz do dia.

Com a sua proa pintada,
A sua vela içada
Prenhe de vento, de maresia
Vai lavrando
As salsas águas da ria.

O moliceiro, o amante da ria,
Carrega no seu ventre
O húmus, a semente,
Que fecunda a terra
Terra que abraça a ria,
Rotunda de seiva, de alegria.
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