sábado, 31 de dezembro de 2016

PRESENTE DE NATAL


©José Teixeira


Antes de dar ou receber presentes de Natal,
Eu quero ser Presente de Natal,
Junto das pessoas do meu Mundo.

Presente nos afetos que abrem corações.
Presente nos sorrisos que dão vida à alma.       
Presente na dor para dar consolo.
Presente na vida dos que mais precisam.
Presente no combate à solidão que mata
Presente nos abraços que transmitem calor.
Presente em ti meu irmão.

Este “Ser Presente” não têm custo monetário.
Não se gasta nem desgasta
E pode usar-se todos os dias do ano.

Faz de mim uma pessoa feliz
Porque recebo sorrisos gratuitos de felicidade.

José Teixeira ©2016,Aveiro,Portugal

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Fazedores de sonhos


                                                                                                                                 ©  Albertina Vaz    


Encontraram-se num vão de escada, disputando o espaço e meia dúzia de cartões que lhes serviam de abrigo. Naquela noite, cada um dormiu de costas voltadas. Não apareceu ninguém com sopa quente e as meninas das carrinhas deviam estar muito ocupadas com outros sem abrigo de outra rua. De noite, a fome apertava tanto que se enroscaram sobre si mesmos até adormecerem.

De manhã, acordaram abraçados e sorriram. Ela tinha uma cara rosada, bem queimada pela aragem fria, e um dente a menos que lhe conferia um ar extravagante e original. Ele vestia todas as camisolas que conseguira encontrar nos caixotes de lixo que, invariavelmente, rebuscava todas as noites. O cabelo espesso e desgrenhado e uns olhos azuis, qual mar pardacento num fim de tarde, tornavam-no um pequeno gigante que se gostava e se amava.

Foram dias e dias de descobertas sem fim – ruas insondáveis, caminhos sem saída e regressos ao ponto de partida, sempre que a noite chegava e o sol se punha. Falavam do presente e guardavam, numa cela fechada, um passado que não queriam partilhar. E sorriam, pedalando pela calçada deserta, num jogo de esconde e de descoberta.

À noite imaginavam presentes para se darem.

- Tenho aqui uma casa branquinha, com lareira acesa e uma estrela na porta da entrada – e desenhava, no ar, os contornos dum sonho que queria materializar.

- Olha, eu tenho aqui uma panela, cheia de sopa, e um café quentinho que vamos beber juntos. Chschschs … Está tão docinho!

- Pois eu quero dar-te um bolo, com passas e nozes, e um cálice de licor – e continuava desenhando no ar, presentes imagináveis que acariciavam a noite fria.

- Para ti tenho aqui os sonhos que a minha avó fazia e o cheirinho da canela no arroz doce que escorre da panela. Cuidado, não te queimes.

Era a noite a seguir ao natal.Do outro lado da rua, uma criança de colo sugava sofregamente o peito de uma mãe que se deixava escorregar da parede ao chão. Um som vazio e um choro chocante marcaram a realidade e destruíram a magia.

- Anda, vamos lá ver se encontramos alguma coisa para ela comer. O menino, se ela não come, também não tem leite e ele já está tão fraquinho. Ontem é que foi natal, hoje temos mas e que ir à vida e mudar este mundo.

Ontem foi a noite dos sonhos e as estrelas no céu anunciaram um caminho de luz. No mundo dos mendigos, partilhou-se a fome e, com um pouco de nada, construiu-se o Natal de todos os dias.


Albertina Vaz ©2016,Aveiro,Portugal

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Ser PRESENTE no Natal

© José Teixeira e Albertina Vaz   
                                                                                                                                        

Pela frincha da janela, olhava a rua e a chuva que caía insistente. As palavras iam e vinham e não se quedavam. Um vazio imenso apoderou-se do espaço. Desde que ela partira tudo se enublara. Até a luz do sol parecia ter-se diluído. Olhou-se no tempo e sentiu-se perdido. Só, e sem nada a que se agarrar.   

Caminhava ligeiro pela ingreme rua. Não entendia porque tinha tomado tal atitude, ao cair da noite. Sentia necessidade de partir. Talvez ver as luzes da cidade. Caminhar…esquecer…porque afinal era véspera de Natal, no seu mundo de solidão.  

Tiveram apenas um filho e há muito que não recebia notícias dele. Aquela terra, lá longe, para onde partira, roubara-lhe os dias para ver crescer os netos. Nunca foi com eles ver o mar nem ouvir os trinados das gaivotas, espraiando as asas em dunas de areia.  

Até ao momento nada o tem afastado da sua casinha, onde se dedica a cultivar leguminosas e hortícolas que reparte com os vizinhos. Foi construída com o seu suor e o da Ermelinda, a sua eleita e amada. Ali viu nascer o filho. Dali o viu partir, em busca dum futuro melhor. Criou família e deu-lhe dois netinhos. Ao princípio, vinha passar férias. Até construiu uma casa e o seu sonho era regressar um dia. Porém, as voltas que a vida foi dando, afastaram-no da terra mãe.

- Que estranho! – pensou – este ano nem o meu cunhado me convidou para comer uma rabanada, - e sentiu-se sozinho. Ele e os seus velhos, lá, naquele lar, aonde não tinha coragem de voltar.  

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