Albertina Vaz
Naquela terra havia janelas
de todas as cores – vermelhas, verdes, amareladas, lilases, azuladas,
branquinhas e até da cor do mar. E de formas muito diversas, umas redondas,
outras retangulares, outras em forma de triângulo, outras arredondadas no topo.
Até os tamanhos – que promiscuidade enorme: umas grandes, outras pequenas, umas
esguias a lembrar vitrais, outras enormes a rasgar paredes.
Em todas as casas se viam
janelas - vidros pequenos e cortinas branquinhas a bordar dentro delas. E havia
também muita cor – e a cor era um passo de dança e um som a compasso vibrando
no ar.
E o espaço estava cheio – E de
que maneira!!! – com aquelas janelas de mil formas e mil cores.
Mas aquelas janelas viviam
nas casas e as casas também tinham portas. Portas antigas de madeira maciça e
aldrabas pesadas cujos batentes soavam em eco quando se batia nelas. Portas
leves como plumas esvoaçando ao vento norte portador da mensagem do longe e da
distância que se esfuma na linha do horizonte.
E as portas também eram de
muitas cores e de muitas formas e de muitos materiais. Umas finas que nem
papel, outras pesadas, gordas. Imensas. Umas até tinham um quadradinho, feito
janela, por onde o sol entrava. Às vezes, nesses postigos – porque de pequenos
postigos se tratava – havia cortinas iguais às das janelas.
E as casas também tinham chaminés:
umas altas, de grande porte, outras médias a misturarem-se sem se fazerem
notadas, outras pequeninas de pedra sobreposta, outras tapadas para impedir a
entrada da chuva, umas cinzentas do fumo da lareira, outras branquinhas
pintadas a cal.
No centro da terra até havia
uma igreja e uma escola e um parque cheio de árvores frondosas e bancos, para
se sentarem, e uma fonte de água que cai em repuxo da boca de um menino de
pedra feito arte e magia.
Naquela terra havia tudo mas
tudo parecia nada. Naquela terra as folhas amontoavam-se pelas ruas e as ruas
desciam para o rio tal como a vida evolui, em crescendo, em direção ao mar.
Naquela terra tudo parecia perfeito como perfeito era o sol que continuava a
brilhar cada dia que se renova no tempo que se esvai.
Só não havia pessoas,
pessoas de verdade! Era uma cidade abandonada, num país perdido, onde as casas
e as janelas se foram fechando – semicerrando. As pessoas foram-se para longe –
para muito longe. E quando voltarem – se voltarem – as cores das janelas já não
serão azuis nem amarelas; as cores das janelas terão perdido a sua cor.
O teu texto, repleto de cores, remete-me para temas sombrios, como o isolamento e a desertificação. Sem pessoas nada faz sentido.
ResponderEliminarZECA AFONSO E JOSÉ M: BRANCO
ResponderEliminarNo céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas pela noite calada
Vêm em bandos com pés de veludo
Chupar o sangue fresco da manada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
A toda a parte chegam os vampiros
Poisam nos prédios poisam nas calçadas
Trazem no ventre despojos antigos
Mas nada os prende ás vidas acabadas
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
No chão do medo tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos na noite abafada
Jazem nos fossos Vítimas dum credo
E não se esgota o sangue da manada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
São os mordomos do universo todo
Senhores à força mandadores sem lei
Enchem as tulhas bebem vinho novo
Dançam a ronda no pinhal do rei
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Realmente, é uma tristeza ver tantas aldeias desertas. Fogem os mais novos à procura de novos horizontes. Ficam os mais enraizados à sua terra. Por nada a querem deixar, enquanto tiverem um fôlego que os deixe respirar o ar da terra mãe.
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