terça-feira, 29 de janeiro de 2013

História da Dona Redonda


EVOLUIR agradece este texto para publicação


Lindonor Silveirinha
       

Quando eu era pequena, ofereceram-me um livro de histórias, que se chamava Dona Redonda e os seus fanicos.

A Dona Redonda era mesmo redonda e a história contava que ela fora um dia por uma ribanceira abaixo e se desfizera em fanicos, ou seja, dezenas de pequenas donas redondas iguaizinhas a ela.

A história em si era muito complicada, até metia um dragão que fazia um barulho horrível e pouco me lembro dela, a não ser da D. Redonda e dos seus fanicos.

Assim, resolvi escrever a minha versão da história, como eu acho que ela deveria ser, para que crianças pequenas a entendam e lhe achem graça. A autora da história original, Virgínia de Castro e Almeida, que me perdoe, pois não pretendo plagiá-la, nem depreciar o seu trabalho.


A Dona Redonda vivia sozinha numa casinha também redonda, com janelas redondas e até a porta era redonda e larga, para que a Dona Redonda pudesse entrar e sair facilmente. Ela tinha mandado fazer a casa de propósito, porque não cabia nas casas normais. No entanto, tinha pena de ser assim tão redonda, sobretudo porque os miúdos, que às vezes são mauzinhos, quando passavam por ela diziam:” Ó bolinha ! Ó bola de futebol! Qualquer dia dou-te um pontapé que vais parar à lua!” Era por isso que ela se afastava das crianças de quem tanto gostava.
Um dia foi dar um passeio a pé pela estrada para ver se emagrecia e, de repente, veio um vento tão forte, que a Dona Redonda levantou voo, como se fosse um balão.
Deu voltas e mais voltas, sem conseguir poisar no chão e, assim, foi percorrendo terras e mais terras, na direcção em que o vento a levava. E ela deixava-se ir. Que havia de fazer? Ia-se entretendo a ver as cidades, vilas e aldeias, rios, montanhas e florestas e as pessoas que, cá em baixo, pareciam formigas. De vez em quando um avião cruzava os ares e os passageiros olhavam espantados para aquele balão com pernas e braços que parecia divertir-se com as voltas e reviravoltas que dava no ar.
A certa altura, o vento parou de repente e a Dona Redonda, que não tinha pára-quedas, espatifou-se no chão, fazendo-se em mil fanicos todos iguaizinhos a ela. Logo começaram a falar todos ao mesmo tempo, a dizerem que tinham fome e a correrem por todos os lados como tolos.
Foram dar a uma quinta muito grande, onde havia vacas, porcos, galinhas, patos, coelhos, enfim uma grande variedade de animais. Os donos eram ainda novos e tinham dois filhos pequenos, o Tó de sete anos e a Ana de seis.
Quando Tó e a Ana viram os fanicos da Dona Redonda, começaram aos gritos a chamar os pais:” Pai, mãe, venham ver, chegaram os extraterrestres” e os pais pensaram o mesmo, ficando atarantados sem saber o que fazer. Quem não ficou nada atarantado foram os animais, sobretudo as galinhas e os patos, que, pensando que aquilo eram grãos de milho, começaram a comê-los. Só que uma coisa horrível aconteceu: logo que engoliam os fanicos começavam a inchar, a inchar até que rebentavam.
“Ai que ficamos sem animais, corram, vão buscar um saco, depressa”. Pais e filhos puseram-se a apanhar os fanicos e, em breve, tinham-nos todos metidos num saco. Quando se viram todos juntos, - Ó maravilha das maravilhas, os fanicos fundiram-se todos e formaram outra vez a Dona Redonda.
Esta, logo que se viu inteira, pediu aos lavradores que a deixassem ir embora para sua casa, mas eles gostaram tanto dela que a convidaram a ficar com eles para sempre. Quem ficou mais contente ainda foram a Ana e o Tó porque já tinham com quem brincar. Atiravam a Dona Redonda um ao outro, como se ela fosse uma bola. Mas ela não se importava, porque finalmente tinha encontrado crianças amigas que gostavam de brincar com ela. Além disso, como as galinhas e os patos tinham comido alguns fanicos, ela já não estava tão gorda.
Tinha encontrado a felicidade.

7 comentários:

  1. Benvinda Lindonor! Gostamos muito de a ter connosco. Este blog é isso mesmo: uma partilha de saberes e um encontro de vivências.Ficamos à espera de futuros trabalhos. Obrigado pela sua participação.

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  2. É uma história adorável e muito pertinente nos dias de hoje. Gostei imenso. Vou partilhá-la com as minhas netas e depois lhe contarei do que elas me disserem. É que nada melhor do que uma criança para comentar o que escrevemos a pensar nelas. Obrigado pela sua participação.

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  3. Bonita história. É sempre bom recordar o que vivemos ou então aquilo que ouvimos a outras pessoas que nos dizem tanto em termos afetivos.

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  4. É bom recordar a infância, e a Lindonor fez-me recordar os momentos em que entretinha a minha filha a contar-lhe histórias que nos deliciavam às duas.No meu tempo de criança, os tempos também eram difíceis e não havia o hábito de me contarem histórias, por isso vivia-as enquanto as contava.

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  5. OLÁ, LINDONOR, GOSTEI IMENSO DE VER O SEU NOME E O SEU ESCRITO NESTE BLOG.
    ATÉ BREVE, CARÍSSIMA COLEGA!
    GM

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  6. Gostei muito!!!!!
    Porque é bom ler.
    E esta história é muito bonita!

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  7. Lindonor o comentário anterior é de uma criança de 9 anos: como vê eu tinha razão... afinal as crianças também lêem este blogue e também gostam daquilo que escreve! Parabéns! Nada melhor do que um elogio de uma criança para animar o nosso sorriso.

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