domingo, 30 de junho de 2013

À volta de uma palavra

Estamos a publicar textos subordinados à temática AMIGOS e AMIZADE. Colabore e remeta-nos o seu texto ou poema inédito para publicação. Ouse! A diversidade fortalece a amizade.  

Albertina Vaz

Quando penso numa palavra, solta-se-me sempre a palavra “amigo”. E amigo é bom, é aconchegante, sabe bem quando soa o toque do sino no alto da montanha. Amigo é um calor no peito e um sabor a gelado na boca; amigo é uma flor que se colhe e uma borboleta que esvoaça; amigo é um canto que se ouve ao longe e se vem chegando devagarinho. Amigo é uma estrela que se esconde e um som que brilha cintilante e a mil cores.
Amigo é amigo e nada mais!
Amigo é amigo e nada mais!
Amigo pode estar longe mas sabemo-lo sempre perto; amigo é o toque dum telefone, uma mensagem, um e-mail - ou longos dias de silêncio que se esvaem pela planície e parecem não chegar nunca ao fim dum arco íris que se desenha na linha do horizonte.
Os amigos escolhem-se ou talvez não! Um amigo pode ser um companheiro que sempre nos acolhe, um parceiro que voga pelos nossos caminhos, um igual que nos acarinha, um semelhante que nos contraria, um par que nos ajuda, um amante que connosco partilha passo a passo os dias de sol e as noites geladas.
Mas um amigo pode ser alguém que nos contraria, nos encontra, nos despista, nos confronta, nos agasalha - sem palavras, sem gestos, sem promessas. Pode ser um desconhecido que se cruza connosco numa esquina florida ou numa ruela discreta; pode ser um anónimo que se atravessa e nos diz: bom dia!
Um amigo pode ser um acordo ou um permanente desacordo, mas, mesmo assim, um amigo
Pode ser um sonho,
mas nunca é uma utopia
é um amigo e sabe a flores silvestres e giestas coloridas em dias de Primavera, quando o sol nasce e a lua se esconde por detrás da quimera. Pode ser um sonho, mas nunca é uma utopia.
Grave mesmo é quando um amigo se perde; grave mesmo é quando um amigo engana o seu amigo. Aí quebra-se o elo de união e os amigos deixam de o ser e as noites passam a ser mais longas e mais distantes e os dias começam a arrastar-se num pesadelo do não querer, das recordações que se querem esquecer e das lembranças que pretendemos olvidar.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

AMIGO É…

EVOLUIR agradece ao autor o envio deste texto para publicação


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Lindonor Silveirinha

Aquele ou aquela que nos dá a sua amizade e auxílio sem pedir nada em troca; que está sempre disponível na hora em que precisamos dele; que mesmo estando longe não se esquece de nós nos momentos festivos, como nos dolorosos; que sabe ouvir sem fazer perguntas; que é directo se nos tem que censurar; que ensina quando não sabemos e aprende connosco humildemente; que rejubila com as nossas vitórias e não nos amachuca quando falhamos.
Segundo diz a canção de Rod Stewart “I’ll be on your side for evermore, That’s what friends are for” ( Estarei sempre do teu lado É para isso que servem os amigos).Muitas outras canções, poesias, textos louvam a amizade, porque  a amizade é mais segura do que o amor.
Como alguém disse : “Um dia o amor e a amizade encontraram-se e o amor perguntou: Para que existes se eu estou aqui? E a amizade respondeu: Estou aqui para trazer sorrisos enquanto tu trazes lágrimas”.
20 de Julho é o dia dedicado ao amigo, mas eu acho que dia do amigo são todos os dias, porque ele ou ela estão sempre disponíveis em qualquer dia e a qualquer hora.
Um montezinho de pelo macio
Costuma dizer-se que o cão é o melhor amigo do homem, exactamente porque este amigo está sempre junto do dono, ajuda-o, protege-o, ouve-o em silêncio, alegra-se com as suas brincadeiras e respeita os seus silêncios.
Quando o cãozinho chegou, no dia dos anos dela, era um montezinho de pelo macio que se enroscava no colo da dona como uma bola preta e branca. Toda a família se reuniu à volta dele, querendo pegar-lhe, afagando-o, encantados com o brinquedo novo.
Surgiu  a dúvida acerca do nome que lhe iam pôr. As sugestões eram as mais variadas, mas parecia que nenhum nome se adaptava àquela maravilha, até que dona gritou: “ Vai ser Curly , porque ele tem o pelo todo encaracolado” Era realmente um pelo de arame

quarta-feira, 26 de junho de 2013

O Fruto da Amizade

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Helena Maltez
Nem só com palavras se escreve um poema
Para a Isabel Maria

Nem só com palavras se escreve um poema. As
mãos das mulheres sabem gestos milenares de
rimas e harmonia.  Silenciosamente criam uma
arte que sustenta a vida e ilumina o quotidiano.

Imaginemos o fruto, eterna sinédoque do Paraíso.
Os dedos femininos separando a casca, golpeando
a polpa, conjugando os ingredientes. Ao fogo, então,
lentamente amadurecem cores, odores, sabores.

O que as mãos das mulheres mais tarde guardam em
frascos é sol coalhado, magma de poesia.
O que as bocas escolhidas mais tarde saboreiam é
a perfumada doçura da amizade.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Curto, mas não "grosso"...

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Jorge Santos

Os verdadeiros amigos não existem: co-existem

Os amigos são a família com quem partilhamos tudo, menos o sangue; são os que ficam, quando todos os outros partem; são os que estão lá quando deitamos a primeira lágrima e que fazem de tudo para que deitemos a última. Os amigos não são os que vêm com palavras doces, mas os que insultam quando sabem que precisamos, e os que sempre perdoamos, mesmo que nunca se desculpem. Os verdadeiros amigos não existem: co-existem, misturando o seu ser com o nosso, sem nunca pedir nada em troca. Não queremos que seja de outra forma, não podemos existir sem isso – se pudermos, não seremos, de facto, amigos…


sábado, 22 de junho de 2013

Deixa-te disso, Felisbela!

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Conceição Cação

Corpo esguio, membros delgados de veias azuladas a sobressair na pele macilenta, pescoço alto, encimado por um rosto sempre em remodelação ─ eis a minha amiga Felisbela. Abençoada com um rosto perfeito e um corpo elegante, rejeitou sempre as imperfeições com
Obcecada pela aparência...
que o tempo patenteia implacavelmente a sua passagem, mantendo, com ele, uma luta encarniçada da qual teima em sair vencedora. Num esforço desmedido e cego contra adversário tão poderoso, foi gastando recursos, esgotando energia, sacrificando outros interesses, paulatinamente abandonados, adulterando a sua própria identidade. Obcecada pela aparência, renunciou à boa comida, ao convívio, aos amigos…
Quando se aproxima, esperando de mim, um elogio à sua elegância, emudeço, reprimo uma lágrima. Em jeito de vingança, pelo meu silêncio, a Felisbela lança-me olhares e palavras de desdém, visando as marcas com que o tempo me presenteou. Por trás do ar altivo, percebe-se, cada vez mais, naquele rosto uma expressão, de insatisfação, de melancolia…
Sinto uma profunda saudade da minha amiga Felisbela, que distribuía alegria e sorrisos em todos os lugares.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

O conceito de amizade é muito relativo

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Júlia Sardo

Para mim, a amizade não é um sentimento que nos «obrigue» a comunicar com a pessoa, ou pessoas, com quem pensamos que a amizade é verdadeira.
A amizade deve ser aquele sentimento que nos leve a ajudar a ou o amigo, quando precisa do nosso apoio.Quantas vezes nos enganam aqueles que juramos, a pés juntos, que são nossos amigos e que nunca nos traem.
Há amizades que se vão formando ao longo dos anos e que se vão consolidando, mas mesmo essas não são, na minha opinião, eficazes.
Fui crescendo como irmã, ou uma amiga muito querida, com um vizinho. Quando já cresciditos, conversávamos muito, sobre os nossos namorados, e sobre os estudos.
Fomos sempre muito amigos. Casámos, fomos ao casamento um do outro e, enfim, a vida, como sempre, encarregou-se de nos afastar, porque cada um seguiu o seu percurso.
Quando nos encontrávamos
era uma festa
Quando nos encontrávamos, cada um com a sua família formada, era uma festa que fazíamos; era tanta a alegria e algazarra, que as pessoas que passavam ou que estavam nas redondezas ficavam a rir.
Até que, para grande tristeza, o pai dele faleceu e eu, como amiga que me prezava de ser, fui imediatamente dar-lhe o meu conforto.
Os anos foram passando e continuávamos a fazer uma festa, quando nos encontrávamos, a dizermos aqueles disparates que só os amigos com muita confiança admitem dizer, sem levar a mal.
Fomos ficando mais velhos e aí mais paródias fazíamos a falar dos nossos cabelos brancos.Entretanto, chegou a minha vez de precisar de uma palavra amiga da parte dele.
Pois, por mais incrível que pareça, a ausência mais sentida foi a dele.Eu desculpava a mesma situação a qualquer pessoa, mas a ele, não.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Amizade – nome comum, abstracto…

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Cristina Teixeira Pinto  

A ternura de um abraço

Nome comum abstracto que contraria a própria definição gramatical do seu conceito.
Se é um nome comum abstracto porque envolve afecto, tacto? Não poderia, esta palavra, passar a nome comum concreto, se a mesma é intransigente e carece de uma outra pessoa: um inquebrável tecto? Um tecto que nos abriga, um apego que não fatiga.
Corda que nos prende na ternura de um abraço; sem-abrigo me sinto, mesmo perdida, sem o teu ombro amigo – e perco-me num desvendável labirinto.
Palavras sinceras proferidas, por vezes, palavras que amargam: laço que nos une pela sinceridade: amizade de uma profunda lealdade.
Olhar gradeado por uma protecção – e nem soldando poderás derreter o que une o coração.
Longe - ou perto - nunca deixará de o ser: teu amigo; um amigo que pára para te escutar, aconselhar - tudo e algo mais tem para te dar; não é – de todo – um castigo: apenas a prova da vossa existência, aliança, ligação, como o cordão umbilical que vos deixou a marca do umbigo.
Projecto voluntário, não esforçado; nada pede em troca - mas faz bombear o coração – e, meticulosamente, toca.
Gesto que nos surpreende: termos, ao lado, alguém que nos entende.
Sem ti, meu ombro amigo, o que seria de mim? Uma vida solitária infinita, interminável – e viveria só como a primeira nota musical da flauta bisel: o dó.
A amizade não tem idade: fraternidade que nos fortalece: sentimento imaterial que nos enriquece.
A amizade cresce, rejuvenesce – e tudo acontece – e renasce para quem acredita, algures, numa outra vida, num outro lugar. E uma outra alma surgirá, ainda mais, fortalecida. E esta que seja a LEI DA VIDA, a nossa sentença anunciada numa cela partilhada.

domingo, 16 de junho de 2013

Um Passeio até à praia

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Maria Jorge

Depois dum inverno tão rigoroso, o dia amanheceu primaveril e uma ida até à praia para fazer uma caminhada pela areia molhada estava mesmo a apetecer-me. Uma leve brisa sacudia-me os cabelos, assim como o pensamento. Tirei a trela ao meu cão. Também ele, com toda a certeza, gostaria de se presentear com esta aragem, e esticar um pouco as patas, e dar asas à sua imaginação e criatividade.
Um passeio pela praia
Especialmente nestes dias, um passeio pela praia dá-me muita paz e tranquilidade e a paisagem convida-me sempre a uma reflexão. Olhei ao meu redor, muito poucas pessoas, talvez as mais aventureiras, já de fato de banho iam aproveitando os ainda fracos raios solares, outras, principalmente homens e rapazes, no seu passatempo favorito, jogando à bola, e outras ainda, tal como eu, de fato de treino e ténis nas mãos deambulando pelas areias, secas ou molhadas, caminhando por onde lhes desse mais prazer. As gaivotas também nos faziam companhia, sinal que havia peixe por perto, contrariando o ditado “gaivotas em terra, tempestade no mar”. Procurei areia seca para me sentar um pouco. Contemplei até onde a minha vista alcançou a imensidão desse mar tão relaxante quanto perigoso e fixei o meu olhar no vaivém das ondas, ora se afastando, ora se aproximando de mim.
Curiosamente dei por mim a pensar em todas as pessoas que já passaram ou ainda estão
A família não se escolhe
presentes na minha vida. Na família, que, como qualquer ser humano, não a escolhemos, mas é aquela que temos que, com todos os seus defeitos e virtudes, fazemos parte dela e ela de nós. Fomos aprendendo ao longo da vida a amá-la e a respeitá-la, mas, infelizmente, já desapareceram quase todos e quanta falta me fazem! Nos amigos que, esses sim, posso escolher, mas nem sempre o fiz ou faço da melhor maneira. 

sexta-feira, 14 de junho de 2013

O AMIGO AFONSO HENRIQUES

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José Carreto Lages

As elevações arredondadas dos velhos maciços de terreno obrigavam a que as casas, na maioria brancas, construídas ao longo do serpentear da velha estrada, em duas fileiras, se arrimassem umas às outras num “chega pra lá” como se da proximidade resultasse incómoda a vizinhança. O Passat, não se lamentava dos seus cinco ocupantes: eu e meu cunhado Zé Amaral, colado ao banco da frente esquerdo e atrás a Sãozinha, minha mulher, a Mila, minha cunhada e a comadre desta, a Tieta que desde que deixámos o aprazível local da boda não se calavam, numa contínua galhofeira, apenas interrompida pelas repetidas sugestões e ordens dadas para o banco da frente, ao condutor. Decidiram que o carro que seguia mais adiante era o dos realizados pais do noivo, o Dr. Francisco Carvalhosa e a sua mulher, Ana Cristina. Só que depois de uma rápida aproximação verificámos que não era o carro deles. E seguimos a estrada, numa vaga esperança de os alcançar. 
A noite estava estrelada e quente
A noite estava estrelada e quente, recortando a sua velada luz  o tamanho das casas, geralmente baixas, de um só piso ou de lojas com um piso superior para habitação, construídas no último meio século, fruto de alguma melhoria de rendimentos advindos do melhor desempenho da economia  e da remessa de divisas obtidas com o último surto da emigração. E a insípida voz metálica da menina do GPS continuava a tartamudear prescrições ao percurso da estrada que devíamos percorrer, em direcção à aldeia da Merceana, ditando ordens, para a direita e para a esquerda, numa confusa e patética indicação contraditória e alienante, o que nos levava a desdenhar e chacotear do seu comando, e a decidir parar na berma da estrada.
Á frente, a luz ténue dos médios de dois faróis denunciavam a estranha presença de alguém só, dentro de uma viatura estacionada, mas prestes a partir. Como se havia lido, uns duzentos metros antes, na placa da JAE, de anúncio e sentinela à entrada da povoação, estávamos em Arneiros, noite dentro, nas primeiras horas de 4 de Julho.
Depois de abrirmos o vidro da janela, adoçando a voz, demos as boas noites em direcção do ocupante da viatura, que nos pareceu um cavalheiro.
Numa efectiva apreensão e com justificado receio de que o carro iniciasse a marcha, saímos da nossa viatura, em posição lateral ao condutor da viatura estacionada, e, embora já adivinhando a resposta, perguntámos se estávamos no caminho correcto para a Merceana.
Não tardou o senhor a inquirir:
Querem ir para Merceana?
- Querem ir para a Merceana?
E logo, categórico, afirmou:
- Bem, estão perdidos e bem perdidos.
Não estranhámos nada a informação, porque dela suspeitávamos já. Queríamos era saber qual a direcção da estrada a seguir para o nosso estabelecido destino onde íamos passar o resto da noite no complexo habitacional e vitícola da Quinta de Arneiros do Sr. Dr. Francisco Carvalhosa.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Amizade

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José Luís Vaz

É complicado falar de amizade! A existência de amizade pressupõe que há seres que se dizem amigos. A palavra amigo é única e tanto simboliza confiança, como transparência, lealdade, cumplicidade, ajuda, reciprocidade, disponibilidade, orgulho, entendimento, diálogo,
Ser amigo não se explica
alegria, e até tristeza.
Ser amigo é, às vezes, uma atitude que não se explica. Para se ser não se fazem contratos, dispensam-se juramentos, não há necessidade de regras. Os amigos acontecem, não se premeditam. A amizade nasce, muitas vezes, sem se saber porquê. O tempo constrói a amizade, mas o contrário também é verdade. Há empatias, à primeira vista, que desaguam em grandes amizades. Entretanto, quantas desavenças não se transformam, mais tarde, em fortes relações de amizade.
A amizade cultiva-se, mas como se alimentam aquelas que na infância germinaram e que só o tempo preserva? Ser amigo é um estado que transcende as relações amistosas do quotidiano, vai muito para além da amabilidade, do civismo, da cortesia. Ser amigo é mesmo o contrário de inimigo. Não é difícil ser amigo. Difícil é defini-lo. A amizade é bela e linda e não é compatível com limites. 
A traição é a arma mortífera da amizade. Tudo é perdoável. A traição é antítese da relação
A amizade não tem limites
entre amigos. A hipocrisia em situação alguma pode disfarçar quem trai. A amizade não pode coexistir com o disfarce, com o parece bem, com o faz de conta, com a mentira, com o superficialismo do consumível. A amizade existe, é muito boa. Basta haver dois seres e a amizade pode acontecer.
Nas minhas recordações de criança vou ainda hoje buscar uma das mais belas amizades que o tempo não apagou. Desde que me lembro de mim, quando procuro lá longe, na minha meninice vem de imediato ao meu encontro a minha “valeta”. Era uma cadela caniche de porte médio toda preta com farta pelagem encaracolada. Inteligente, muito fácil de ensinar, era uma companheira das pessoas com quem vivia. Usufruía de toda a liberdade movimentando-se entre a casa e o quintal onde, por vezes, ladrava incessantemente, parecendo com isso querer mostrar serviço. 

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Uma história de amigos

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Fernanda Reigota

Ter amigos é ter com quem brincar, é ter a certeza de poder partilhar com alguém aquela
Ter amigos é ter com quem brincar
ideia que nos perturba ou persegue, aquela ideia que temos medo de ser considerada louca. Ser amigo é compreender sem questionar, é ter a certeza de que aquele olhar nos transmitiu cumplicidade, é ter afeição muito para além de qualquer retribuição, é sentir a simpatia como bafo em dia gélido, é entender sem explicação, é acorrer quando se pressente um chamamento, é encantarmo-nos com a felicidade do outro…
Sim, ter amigos e ser amigo são duas realidades que se irão definindo e redefinindo enquanto o homem for homem. Cada um escolhe a definição que mais se afeiçoa à sua idade, cada um escolhe a perspetiva que mais preenche a sua visão do mundo e dos outros.
Cumplicidades de qualquer ocasião
Semelhanças de qualquer nível, ideais de qualquer esfera, cumplicidades de qualquer ocasião, tudo pode irmanar na amizade enquanto esta perdurar. Os sábios ficariam aqui a conjeturar defesas e subtilezas para sustentar suas posições. Eu passarei, neste texto, a dedicar-me àquela amizade que nasceu e perdura. Da outra, não sei o endereço, esfumou-se, porque, no lugar de um amigo que foi, fica sempre um vazio, um vazio que nem cresce, nem diminui, um vazio-amigo-saudade, quase sem rosto, nunca um inimigo de rosto a abater.
Então, uma história de amigos!

sábado, 8 de junho de 2013

Geração grisalha à rasca


Maria Jorge

Uma senhora de 65 anos, vivendo sozinha e já reformada, sofrendo de hipertensão já há alguns anos, toma habitualmente medicação adequada para o controlo da mesma.
O isolamento na falta de saúde
Durante alguns dias começou a sentir sintomas de que algo não estava bem. Resolvendo medir a tensão pôde verificar que a mesma estava bastante alta. Como tinha consulta de rotina marcada para o dia 27 de maio, deslocou-se ao Centro de Saúde para pedir a antecipação da consulta, tendo sido informada que o sistema informático estava avariado e que iria demorar uns dias a ser reparado.
Estando a tomar dosagem de 5mgs de determinado medicamento, podia ir até 20mgs, mas só por indicação médica. Por sua iniciativa dobrou a medicação. Substituiu a água por chá natural próprio para a hipertensão, tomou comprimidos para dormir (a sua hipertensão é de origem nervosa). Mas nada fazia efeito. A tensão continuava a subir. Sábado à tarde, dia 25 de maio, uma vez mais, mediu a mesma: 189 – 101. Entrou em pânico, porque já teve dois pequenos acidentes, felizmente sem sequelas de maior, apenas algumas poucas células cerebrais mortas. Deslocou-se ao hospital de Aveiro a fim de ser observada, por volta das 18:30h.
Fez a sua inscrição, explicando os motivos que a levaram lá. Ficou deveras admirada quando lhe pediram dezoito euros pelo valor da consulta. Quase não acreditando no que estava a ouvir, pediu para lhe repetirem o valor, queria confirmar se estaria a ouvir bem, porque saiu apressada de casa apenas com a preocupação de ser vista por um médico e verificou que não tinha dinheiro, mas resolveu a situação pagando através do Multibanco.
Dirigindo-se para a sala de espera, ficou muito admirada por ver tão poucas pessoas e
...tão poucas pessoas!
pensou que, rapidamente, iria ser atendida. Enquanto esperava foi observando o ambiente. Enfermeiro para cá, enfermeiro para lá, maca para aqui, maca para acolá, mas sempre muito pouco movimento, tudo muito à vontade, com exceção dos doentes impacientemente à espera de serem chamados. Olhou para o relógio e para as pessoas que já lá se encontravam aquando da sua chegada. Pensou que se em mais de uma hora tinham sido chamados apenas três doentes, estaria ali a noite toda para ser vista por um médico de serviço. Seria agora, numa urgência hospitalar, que iria ter um verdadeiro AVC?

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Deixemos a natureza continuar a ser natural! O PANDA

EVOLUIR agradece ao autor o envio deste texto para publicação

Lindonor Silveirinha

O Panda

Estava-se no mês de Junho. Um dia, pelo correio, os pais do Pedro receberam uma carta a dizer que tinham sido premiados com uma viagem ao Nepal por terem preenchido um inquérito de uma companhia aérea, onde tinham feito uma viagem.
Eles nem sabiam onde ficava o Nepal e, por isso, tiveram que consultar um Atlas. Se fosse hoje iam à internet…
O Nepal é um pequeno país, encravado nos montes Himalaias, lá para os lados da China.
O Pedro ficou entusiasmadíssimo, porque adorava conhecer esses países orientais, onde havia religiões e costumes diferentes. Os pais é que não gostaram muito da ideia, porque teriam preferido ficar pela Europa. Mas o prémio era aquele!...
A 15 de Julho partiram de avião em direcção ao Nepal e aterraram em Katmandu, que é a capital.
O aeroporto estava cheio de pessoas, todas de estatura baixa e de pele amarela, muito parecidas com os chineses.
Foram para o hotel, que lhes estava reservado e, no dia seguinte, cumpriram o programa traçado pela companhia que lhes oferecera a viagem. Estava um dia bonito mas quente, de uma temperatura húmida que tornava difícil a respiração. Sentiam-se muito cansados a subir as montanhas na visita  aos templos budistas que lá existiam.
A certa altura deram por falta do Pedro, mas pensaram que ele tivesse ido à frente com os guias.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

A MINHA MONTANHA

EVOLUIR agradece ao autor o envio deste texto para publicação

José Carreto Lages


Imóvel no espaço,
A MINHA MONTANHA
do silêncio se veste para afirmar a majestade
da grandeza de ser rainha do tempo
sem fim e sem idade;
a essência da sua natureza
é o tamanho e a altura, na beleza
de filha natural de mãe casta;
sem ostentação
mostra-se desnuda ou vestida,
do alapado sopé ao cobiçado cume,
toda a roupa aceita, quanto lhe serve e basta.
Aceita quem quer que a procure
para o prazer ou com ânimo de conquista
aceita quem a ame e quem dela guarde azedume
quem a queira como mãe ou como madrasta.
A neve, de frequente visita,
se com manto a superfície ingreme lhe arrefece,
lhe traz a paz e a alma conforta e aquece.
Sabe que a observam e invejam como senhora bela
mas, para que a temam e se ajoelhem a seus pés,
não precisa que lhe erijam altar nem construam capela

domingo, 2 de junho de 2013

VALHA-NOS O CSGG!


José Luís Vaz

Existe há muito tempo um pequeno país ladeado por água, não se sabe, se foi porque a natureza assim o quis, se pela água metida pelos “regedores do reino”. Do lado oposto, virado a leste e também a norte, um outro país, maior, com pessoas, de menos brandos costumes, e talvez por isso, sem grandes “confianças” de vizinhança. A sul, mais água, mas em menor quantidade. Um barquito razoável chega a terra em pouco tempo. Dizem que são terras de África!...
Era um pequeno país
Então conta-se que, naquele país, por influência dum “velho regedor” que por lá se manteve uma série de anos, ainda hoje praticam uma filosofia influenciada pelos “orgulhosamente sós”, “somos pobrezinhos, mas honestos“, “cada um em sua casa é que está bem” e uns tantos outros que os herdeiros do reino foram implantando conforme o que mais lhes convinha. Quando livres do velho ditador, porque a morte o encaminhou, tiveram uma ideia fantástica. Qual “orgulhosamente sós” qual carapuça, vamos é tratar de vida. Havia uma organização, lá para a Europa, a que chamavam CEE, segundo constava formada por gente com ideais que tinham por princípio a solidariedade. Na época, era uma palavra que naquele país pequeno, ladeado por muita água, era como se fosse uma coisa oca. Não fazia lá muito sentido…Todos juntos, objetivos comuns?... “Cada um em sua casa é que está bem”, o povo sempre o disse, sabe-se lá porquê? Se bem o pensaram, melhor o fizeram. 
Foi uma festa! Agora, dinheiro não ia faltar! Havia uma condição: fazer auto-estradas. Sem
Dinheiro não ía faltar...
óptimas vias de comunicação era impossível o desenvolvimento. E então deitaram mãos à obra e toca a desenvolver o país pequeno que agora tinha oportunidade de se modernizar e até de crescer… Lá para o lado do mar podiam-se fazer uns quilómetros de estradas… Os donos das empresas construtoras nem sabiam para onde se virar, tais eram as solicitações. E os ministros dos transportes? Esses, coitados, dedicavam-se tanto à causa pública que mais ano menos ano caíam lá, nessas empresas, e aqueles infelizes ficavam uma vida inteira a fazer estradas. 
Naquele país pequeno, havia agricultores e pescadores. Os primeiros, viviam do rendimento obtido no cultivo de terrenos rústicos. Os pescadores iam para o mar, logo ali ao lado, e assim angariavam a sua subsistência. 
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