quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Pensar Alto


Júlia Sardo


  Estamos a viver um momento, a nível mundial, bastante grave.
  Esta situação tem consequências muito nefastas, a nível europeu; logo os que mais sofrem são os países com uma economia pobre, como o nosso.
  Muitas vezes dou comigo a pensar nos mais jovens; o que será o futuro deles? Terão futuro?
  O país está num caos; as médias e pequenas empresas estão a fechar sem conseguirem ver algo que lhes dê alento e coragem de continuar a laborar. Fecham as portas e simplesmente dizem aos empregados que não têm possibilidades de continuar. Dizendo isto aos empregados, alguns patrões viram-se para o lado e choram, porque muito sofreram para ter aquele bem, pedindo empréstimos ao banco e agora foi tudo destruído; os seus sonhos e o futuro dos seus filhos. Assim ficam tantas fábricas fechadas, algumas com matéria-prima que ainda lhes dava margem para laborar mais algum tempo.
  Todos os dias encerram postos de trabalho, deixando tantos agregados familiares sem possibilidades de pagarem os encargos a que se tinham comprometido.

  Esta quantidade de desempregados começa a ser preocupante: o que podem as famílias fazer para dar de comer aos filhos; como lhes podem comprar os bens essenciais? A solução para alguns tem sido a Cáritas dar-lhes as refeições. Segundo as estatísticas, todos os dias aparecem mais 350 para comer. É arrepiante.
  O que poderão fazer as centenas, senão milhares, de jovens licenciados que andam à procura de uma ocupação, para poderem sobreviver e, assim, deixarem de dar canseiras aos pais? E estes que foram tão sacrificados ao longo dos anos que eles andaram a estudar!
  Estes jovens não veem luz ao fundo do túnel, nem sequer uma oportunidade para ficarem no seu país. Não têm outra alternativa senão pensarem na emigração. Tentarem a sua sorte, noutros países, fora ou dentro da união europeia.
  Tantas famílias que se estão a desintegrar devido à necessidade de emigrarem à procura de oportunidades que não têm no seu país de origem.
  Claro que já se passaram momentos de grandes necessidades no nosso país, e houve muita emigração. Mas nesse tempo as pessoas que emigravam iam à procura duma situação melhor para a sua vida e da sua família, porque sempre viverem muito mal e com muita pobreza; portanto, qualquer emprego que arranjassem era muito bom.
  Hoje não; os jovens, que são obrigados a emigrar, viveram no seio de uma família que tentou dar-lhes, com ou sem sacrifícios, uma vida boa e estável.
  Com esta emigração perdem-se os valores de união, de família, que são tão necessários à educação dos seus filhos, quando conseguirem formá-la.
  Além disso, perdem-se grandes talentos que são aproveitados pelos países de acolhimento.
  Os jovens que emigram para outros países, mesmo que seja o mais longínquo, tentam fazer a sua vida, com muitos sacrifícios. Quantas refeições ficarão por fazer, por não terem possibilidade monetária. Quando têm a sorte de se relacionarem ou de conhecer outros jovens na mesma condição, lá arrendam uma pequena casa, que geralmente é velha e sem condições, e assim partilham as despesas.
  Mas quantos, antes de isso acontecer, comem um pão, sentados num banco de jardim, regado com as lágrimas que teimam em correr, ao lembrarem-se do aconchego da casa dos pais. Que boa refeição deviam estar a fazer naquele momento… E que quentinhos deviam estar; assim, adormecem até acordarem com os ossos enregelados.
  Penso muitas vezes, com apreensão, no futuro dos meus netos. Será que, no momento em que precisarem de oportunidades para organizarem a sua vida familiar, continuarão a sentir estas dificuldades?
  Que Deus os proteja e que os homens, que têm o poder na mão, sejam mais inteligentes.

4 comentários:

  1. Uma reflexão demasiado profunda que não deixa indiferente quem a partilhe. Coloca-nos inúmeras questões sem solução à vista. Neste momento as questões económicas sobrepuseram-se às pessoas e esquecemo-nos de que sem pessoas não se constroem sociedades. E sabemos todos que o trabalho é um fator determinante da realização humana: sem ele uma parte de nós fica inacabada.

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  2. Gostei muito do seu texto. É muito interessante constatar que todos nós refletimos, no que escrevemos, grandes preocupações sociais. O mundo está ao contrário! As pessoas têm que deixar de ser escravas dos números e esses, que terão sempre que existir, deverão servi-las.

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  3. Júlia, o seu texto também faz eco das minhas preocupações. Vamos continuar a dar voz à nossa angústia.Aí reside a nossa esperança. Eu acredito no poder da palavra!

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  4. Aida Viegas 8 de Abril de 2013

    Sempre gostei de "Pensar Alto" e partilhar o meu pensar. Repartimos e ficamos mais ricos.
    É bom ouvir (ler) o que os outros pensam.
    Obrigada pela partilha.

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