Júlia Sardo
Ao ler estas simples palavras deve
pensar: é a história duma ave. Pensou? Pois está enganado. Melro era o nome de
um gato; um verdadeiro gatarrão. De cor parda, uma mistura de cinzento com
riscas pretas.
Era na realidade um gato bonito, de
olhos verdes e esbugalhados, grande, gordo, pachorrento e de cauda cortada,
mais ou menos, a meio da ponta.Veio de longe; trouxe-o um oficial dos
barcos, da pesca longínqua, da Terra Nova.
Veio com o propósito de ser oferecido
à minha avó paterna.Era um gato muito mimado e muito senhor do seu nariz. Quando queria estar num determinado
lugar, ninguém mais se podia aproximar. Era dono e senhor, apropriando-se desse
lugar.
Cheio de manias, fazia-se dono duma
cadeira, que tinha uma almofada, bem fofa, de cabedal, que havia no escritório. Houvesse alguém, com audácia, de se
sentar nela. O Melro chegava, sentava-se ao lado da pessoa que estivesse na
cadeira, olhava-a com olhos bem abertos e bem fixos.
Com esta pose ele assustava de tal
maneira, que a pessoa saía.
Alimentava-se de peixe frito. Era
guloso e esquisito.
Como passava o dia? Simples; ele tinha
um espaço enorme para percorrer, por baixo daquelas mesas de secar o bacalhau.
Dava algumas corridas atrás dos patos mas depressa se cansava. É verdade, falei nos patos, porque existiam
bastantes. Faziam os ninhos por todo o espaço da seca, onde punham bastantes
ovos. Talvez o Melro também comesse alguns, não sei.
Depressa se cansava e então ia dormir
para a sua almofada preferida.Eu tinha algum medo dele, porque se
não estivesse bem-disposto atirava-se às pernas das pessoas.
Só obedecia à dona.
Pois este gato, chamado Melro, começou
a ficar triste e a não sair do seu canto.Estava a preocupar a dona, visto o
Melro ser a sua companhia predominante durante a semana.Ela vivia numa casa que havia na seca,
só indo passar os fins de semana a casa.Não havia veterinários e um
trabalhador resolveu fazer de médico.Como o homem sofria do estômago e
tomava uma medicação para lhe passarem as dores, resolveu fazer a experiência
com o Melro.
Já estão mesmo a ver o que aconteceu;
o homem pôs-lhe um comprimido pela goela abaixo e o Melro morreu sufocado.
Foi triste o fim do Melro.
Há dias em que me lembro dele e como
gostava de ter um gato assim, embora ele fosse um gato selvagem em toda a plenitude
da sua natureza.
Ele há melros e gatos e há gatos que são Melros. Este gato era um grande melro, Julinha! E os patos também por lá andavam? E ele comia-os? Não me acredito: ele era um gato bomzinho... Adorei: lindo!
ResponderEliminarUm gato com carisma! Bem merecia um fim menos prosaico! Fica a homenagem nesta bela história.
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