Fernanda Reigota
Quatro duplas vivências de escrita
nas suas vertentes antagónicas: TEMPO, ESPAÇO, PERSONAGEM, AÇÃO.
Foram estes os elementos que deram corpo ao psicodrama que em mim se
desenrolou: o som da ave da imagem que fotografei muito impulsionou esse
psicodrama.
PRIMEIRA
Tempo sem tempo
Corria aquele mês em que o tempo é lento.
De tempos a tempos uma ave deslizava,
Mas os olhos sem tempo não colhiam o momento.
O céu, no seu tempo, continuava azul.
Dar tempo ao tempo e ele aí estaria, o mês perfeito.
Mas os olhos queriam o Norte e o tempo deslizava para Sul.
Sem rumo, sem norte, que apareça a Estrela Polar.
A noite dos tempos envolveu os mares, a terra e a vida,
Mas o Sol, no céu cristalino, continuou a brilhar.
Tempo com tempo
Corria aquele mês em que o tempo é leve.
De tempos a tempos uma ave deslizava,
E os olhos com tempo colhiam o momento.
O céu, no seu tempo, continuava azul.
Dar tempo ao tempo! Eis o mês perfeito.
E os olhos deslizavam de Norte a Sul.
Com rumo e com norte apareceu a Estrela Polar.
A noite dos tempos desvendou os mares, a terra e a vida,
E o Sol, no céu cristalino, continuou a brilhar.
SEGUNDA
Espaço sem espaço
Nuvem parada
Janela fechada
Rosa muralhada
Barcos sem cais
Ilhas infernais
Casas transversais
Sentimentos superficiais.
Afetos nevoentos
Abraços cinzentos
Seres pardacentos.