Extracto de um artigo
publicado originalmente na revista Ilustração
Portuguesa, em 1913. Através do mesmo podemos abordar a questão da origem
da palavra “machimbombo” que muitos
atribuem a uma utilização do inglês (machine pump) em contextos africanos.
Parece afinal que essa não será a sua origem
O rapazio chegava a ter
tanta familiaridade com ele que se lhe punha a fazer gaifonas adeante e não
raras vezes se viam atravessar-lhe pela frente com todo o descanço pessoas
circunspectas que tinham a obrigação de conhecer as manhas perigosas daquele bicho.
Era esta cega confiança que vitimava muita gente. Só fugiam d’ele, ali no Camões,
quando dava uma volta vertiginosamente rápida na raquete para muda de linha,
com perigo de sair das calhas e ir parar ás Duas Egrejas ou ao Alecrim com
grande destroço de vidas e da fazenda.
A companhia encarrega-se de
responder pelos jornaes, anunciando a venda d’eles como proprios para barracas
de banhos, para eiras, para casa de guarda nos campos, etc, etc.
A
Morte do Maximbombo
Morreu o Machimbombo da
Estrela! Há mais tempo que se tivesse sumido, o mostrengo, para dar logar a
coisa mais moderna, mais decente. Aquilo era mesmo um mostrengo: pesado,
incomodo, infecto e amaldiçoado como um assassino. A terra lhe seja pesada, e
bem pesada, como ele o foi em vida!
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O maximbongo morreu |
Alambazado de feitio, tosco
em todas as suas peças, apertado e asfixiante como um baú, as portas eram tão
acanhadas que um mortal mais favorecido de volume tinha de se espremer e uma dama
de abas avantajadas ou de penacho hirto tinha de se pôr de cabeça de banda, ou
de cócoras, para poderem entrar. E havia sempre logar! Por mais cheio que
fosse, nunca ficava ninguém em terra. No colo ou sobre os joelhos dos outros
passageiros, equilibrado milagrosamente no estribo ou entalado no alto da
plataforma entre uma dúzia de pessoas, sempre se lhe dava um geito. Ninguém se
podia mecher, nem ao menos para tirar o lenço e limpar o suor que lhe camarinhava
a cara em bagas aflitivas!
Um inferno como o do
reverendo Tobias Weley, que metia milhões de condenados n’uma milha quadrada.
Ali é que se via bem o limite da compressibilidade humana. E póde calcular-se o
que os corpos dariam, submetidos a tal apertão. O mais engraçado, porém, era á
noite, quando o cheiro detestavel da acetilene, escapada a uma combustão
imperfeita, fazia olhar de soslaio, umas para as outras, as pessoas que não lhe
conheciam a procedência e a tomavam por suspeita.
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E aquilo a andar! |
Por mais que se abrissem as
portas e as vidraças, abafava-se ali sempre. Não havia ar que acabasse com
aquele cheiro a próximo e a acetilene, mesmo de inverno em que o ar frigidíssimo
se precipitava pela fenda do leito, onde trabalhava parte da engrenagem, e,
metendo-se por entre as réguas dos bancos toscos, enfiava-se-nos pela espinha
acima com arrepios de pneumonia.
E aquilo a andar! O
ronceirão! Ora, arrastando-se sonolentamente atraz de uma carroça que parecia
reboca-lo; ora rodando livremente com um ranger infernal de rodas sobre as
calhas, a fingir de expresso; aqui, dando uma guinada medonha, ao largar o cabo
para o apanhar mais adiante, e baldeando os passageiros uns por cima dos
outros; acolá. Parando de repente por um dos mil desarranjos a que estava
sujeito, e fazendo os passageiros o resto do trajéto a pé sem direito a
reembolso nem a um pedido de desculpa, ao menos!
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Ainda estou a ver aquela avantedsma! |
Ainda estou a vêr aquela
aventesma! De noite, quando as lojas já estavam fechadas e a Calçada do Combro
era apenas iluminada pela bruxoleante luz municipal, esperei-o muitas vezes so
pé da rua do Seculo, á vinda do Camões. Uma noite, já cançado de esperar e com
a vista perturbada de a trazer fixa por tanto tempo no ponto d’onde ele havia
de surdir, tive como que um pesadelo que me deu a verdadeira impressão d’aquele
brutamontes.
Lá em cima, onde termina a
lomba da Calçada, começa a erguer-se na penumbra uma massa negra, que se
avoluma pouco a pouco, como a cabeça de um enorme cetaceo. N’aquele negrume há dois
pontos luminosos, mas de uma luz mortiça, fúnebre. Certamente são os olhos de
um monstro que avança com vagares solenes e uns rumores metálicos e que,
chegando ao declive, vae desarvorar-se por ele abaixo, trucidando, esmagando,
reduzindo tudo a pó!
Nunca o imaginoso desterrado
da ilha de Patmos teve uma visão d’aquelas, uma visão que rocasse tanto pela
tremenda realidade. O elevador da Estrela tem o cadastro de um grande
assassino. Foi o terror de Lisboa. Se os eléctricos matassem gente naquela proporção,
não se fazia a chacina com uma morte por dia.
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O rapazio punha-se a fazer gaifonas |
Morreu o machimbombo e vae
ser substituído pelo carro eletrico. Mas o que fazem a esses carrões sinistros,
aos quaes fica perduravelmente ligada a mais abominável tradição de sangue, de
apertões e de ronçaria?
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Para barracas de banhos e para feiras? |
Para barracas de banhos e
para feiras? Não está mal imaginado o disfarce… para quem os não tiver
conhecido. Há morador da Lapa e da Estrela que não quer mais nada com taes
monstros e que é capaz de os conhecer à légua, por mais que lhes adocem a
catadura.
Nada! Transformados em
barracas de feira ou de banhos, são capazes de ter ainda ganas de fazer das
suas e de ferrar com uma pessoa de tarmbulhão por aí abaixo, aos olhos do
respeitável publico, exactamente quando estava a saborear com recato um petisco
em bela companhia, ou a mulher de malha encharcada para uma camisa
enxutinha,
NOTA:
Propositadamente
transcrevemos o texto tal como foi publicado na referida revista – respeitando
a forma original como foi escrito.
Curiosidade enviada por Albertina Vaz
Publicado por Evoluir em 21 de Maio de 2013
“OS
CANALHÍADAS”
Se Camões fosse vivo
escreveria assim os “Canalhíadas”
I
As sarnas de barões
todos inchados
Eleitos pela plebe
lusitana
Que agora se
encontram instalados
Fazendo o que lhes dá
na real gana
Nos seus poleiros bem
engalanados,
Mais do que permite a
decência humana,
Olvidam-se do quanto
proclamaram
Em campanhas com que
nos enganaram
II
E também as jogadas
habilidosas
Daqueles tais que
foram dilatando
Contas bancárias
ignominiosas,
Do Minho ao Algarve
tudo devastando,
Guardam para si as
coisas valiosas
Desprezam quem de
fome vai chorando!
Gritando levarei, se
tiver arte,
Esta falta de
vergonha a toda a parte
III
Falem da crise grega
todo o ano!
E das aflições que á
Europa deram;
Calem-se aqueles que
por engano
Votaram no refugo que
elegeram!
Que a mim mete-me
nojo o peito ufano
De crápulas que só
enriqueceram
Com a prática de
trafulhice tanta
Que andarem á solta
só me espanta.
IV
E vós, ninfas do
Coura onde eu nado
Por quem sempre senti
carinho ardente
Não me deixeis agora
abandonado
E concedei engenho á
minha mente
De modo a que possa,
convosco ao lado,
Desmascarar de forma
eloquente
Aqueles que têm no
seu gene
A besta horrível do
poder perene!
Luíz Vaz Sem Tostões
Curiosidade enviada por José Luis Vaz - Autor desconhecido
Publicado por Evoluir em 1 de Abril de 2013
Publicado por Evoluir em 1 de Abril de 2013
ANTES DA POSSE
O nosso partido cumpre o que promete.
Só os tolos podem crer que
não lutaremos contra a corrupção.
Porque, se há algo certo para nós, é que
a honestidade e a transparência são fundamentais
para alcançar os nossos ideais.
Mostraremos que é uma grande estupidez crer que
as máfias continuarão no governo, como sempre.
Asseguramos sem dúvida que
a justiça social será o alvo da nossa ação.
Apesar disso, há idiotas que imaginam que
se possa governar com as manchas da velha política.
Quando assumirmos o poder, faremos tudo para que
se termine com os marajás e as negociatas.
Não permitiremos de nenhum modo que as nossas crianças morram de fome.
Cumpriremos os nossos propósitos mesmo que
os recursos económicos do país se esgotem.
Exerceremos o poder até que
Compreendam que
Somos a nova política.
Só os tolos podem crer que
não lutaremos contra a corrupção.
Porque, se há algo certo para nós, é que
a honestidade e a transparência são fundamentais
para alcançar os nossos ideais.
Mostraremos que é uma grande estupidez crer que
as máfias continuarão no governo, como sempre.
Asseguramos sem dúvida que
a justiça social será o alvo da nossa ação.
Apesar disso, há idiotas que imaginam que
se possa governar com as manchas da velha política.
Quando assumirmos o poder, faremos tudo para que
se termine com os marajás e as negociatas.
Não permitiremos de nenhum modo que as nossas crianças morram de fome.
Cumpriremos os nossos propósitos mesmo que
os recursos económicos do país se esgotem.
Exerceremos o poder até que
Compreendam que
Somos a nova política.
DEPOIS DA POSSE
Basta ler o mesmo texto acima, DE BAIXO PARA CIMA, linha a linha
Basta ler o mesmo texto acima, DE BAIXO PARA CIMA, linha a linha
(Texto enviado pela Conceição Cação)
Publicado por Evoluir em 27de Fevereiro de 2013
DORES TOPETE
Ladainha a Santa Barbara
Ao sair de casa verifiquei que o tempo estava bem pior do que pensava.A água caía que nem um dilúvio, o vento era tão forte que vergava as árvores da rua, relâmpagos e trovões sucediam-se a todo o momento. Um dia assim, além de nos impedir de sair, põe-nos nostálgicas e sem vontade de nada fazer.
Sentei-me então no sofá e, levada pela melancolia que este tempo me causava, fechei os olhos e recordei os meus tempos de criança em dias como o de hoje em que não podíamos sair de casa. Brincávamos então, eu e os meus irmãos, aos pais e filhos com as nossas bonecas e alguma coisa que tirávamos da despensa da minha mãe, para vendermos na nossa mercearia de brincar. Eram tempos felizes esses.
Continuando com as minhas recordações, ouvi ao longe um trovão enorme e lembrei a primeira vez que me agarrei ao meu marido (então meu namorado), em público. Estávamos a passear, quando cai uma chuvada e ribombam os trovões que assustavam o mais valente, nem sei em que instante me agarrei ao Carlos José a tremer de medo. Ele ainda hoje diz que foi o abraço mais apertado que alguma vez lhe dei.
Este meu medo dos trovões vem de quando éramos muito pequenos, e sempre que trovejava a minha mãe chamava-nos para junto dela, qual galinha com os seus pintainhos e rezava em voz aflitiva uma ladainha a Santa Bárbara que nós repetíamos com ela:
Santa Bárbara bendita
Com uma torrinha na mão
Que nos livre do trovão.
Santa Barbara se vestiu e se calçou
Suas santas mãos lavou
Ao caminho se deitou
E encontrou Jesus Cristo,
– Barbara para onde vais?
– Vou espalhar a trovoada
Que pelo Céu anda armada.
– Espalha-a para bem longe
Lá para os lados do Marão
Onde não haja vinho nem pão
Nem bafinho de cristão”
De cada vez que se repetiam os trovões, repetia-se a ladainha, mas de uma forma mais aflitiva. Vem daí o meu pânico pelas trovoadas…
De repente, senti uma paz, um bem-estar, abri os olhos e verifiquei que, tal como tinha chegado, a tempestade também tinha ido.
Que bom! Sentia-me mesmo bem, tinha recordado os meus tempos de criança, a tempestade tinha passado, e eu estava pronta para sair para a rua, sentir o ar ainda fresco a bater-me no rosto e pensar como era bom viver e ser feliz.
Publicado por EVOLUIR, Terça-feira, 26 de Fevereiro de 2013
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Fernanda Rendeiro
Ciberespaço

Neuromancer

William Gibson

Ciberespaço, Neuromancer e William Gibson. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-02-15]
Publicado por EVOLUIR, Domingo, 17 de Fevereiro de 2013
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Fernanda Rendeiro
Palavras amalgamadas
Amálgama designa um dos processos morfológicos de formação de novas palavras (neologismos), isto é, um dos tipos de neologia.
Consiste numa palavra resultante de um processo morfológico que se baseia na fusão de duas ou mais palavras. Nesta fusão permanece o início da primeira unidade lexical e o fim da segunda. São exemplos de amálgama:
telefonia > consiste na fusão das palavras telefone e radiofonia;
informática > consiste na fusão das palavras informação e automática;
biónica > consiste na fusão de bio- (elemento de formação que exprime a ideia de vida) e da palavra eletrónica;
(Biónica: ciência cujo objetivo é o estudo de características, comportamentos e mecanismos dos seres vivos, no sentido de desenvolver sistemas artificiais que funcionem da mesma forma que os mecanismos biológicos, podendo substituí-los.)
bit > consiste na fusão das palavras binary e digit;
(Bit: menor unidade de informação processada por um computador e que pode apenas representar um de dois valores binários: 0 ou 1)
diciopédia > consiste na fusão das palavras dicionário e enciclopédia;
Neologismo
Beijo pouco, falo menos ainda.
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.
Manuel Bandeira, Antologia Poética, 12ª edição, 1981
Publicado por EVOLUIR, Sexta-feira, 16 de Fevereiro de 2013
Publicado por EVOLUIR, Sexta-feira, 16 de Fevereiro de 2013
Teadoramos, Fernanda! Dir-se-á também? Se não se diz acabei de o inventar. As coisas que aprendemos consigo... E a forma inteligente, poética e empenhada como no-las transmite.
ResponderEliminarAdorei mesmo!
Belo começo desta página
Curiogostei! Esta já não é amalgamada. Acabei de a criar, curiosidade, muito bem amassada com o sentimento provocado pelo texto e já está.Inteiramente de acordo com o primeiro comentário. Só me levanta uma questão. Não sabia que tinha uma tia na Gafanha da Nazaré...
ResponderEliminarEStes alunos estão mesmo a aprender coisas novas... quem diria?
ResponderEliminarE que palavra nova poderei inventar?
Vou pensar bem no assunto e depois voltarei aqui.
Mas agora um pouco mais sério. É isto mesmo aprender sempre e sempre até que o nosso disco rigido, já um pouco preenchido e não direi fora da ultima atualização, mas tem sempre espaço para mais uma novidade. Deveras gostei muito do começo da nossa pagina de "Curiosidades" e quem melhor que a Fernanda para dar inicio à mesma?
Obrigada por estes esclarecimentos. Quem diria que a página
ResponderEliminarde curiosidades começava com tanta informação. Gostei de saber.
Temos Cibernauta, embora ela continue a preferir um telefonema a um mail.Fico muito surpreendida com esta faceta da nossa Fernanda.
ResponderEliminarNa realidade o que eu penso é que as novas tecnologias nos facilitam a vida pondo ao nossa dispôr um manancial enorme de informação que está aí à distância de um toque de rato. Por outro lado já pensaram o que seria a vida de muitos dos nossos filhos emigrantes sem o poder da Net para matarem saudades de nós e do país?
Ai Fernanda, estamos sempre a aprender contigo.Outra coisa não seria de esperar conhecendo a tua sensibilidade e interesse pela escrita e investigação.
ResponderEliminarÉ bom que o nosso blog tenha esta qualidade e denote cada vez mais atividade e interesse.
Ai Fernanda, estamos sempre a aprender contigo.Outra coisa não seria de esperar conhecendo a tua sensibilidade e interesse pela escrita e investigação.
ResponderEliminarÉ bom que o nosso blog tenha esta qualidade e denote cada vez mais atividade e interesse.