sexta-feira, 12 de abril de 2013

Não é a resposta que ilumina, mas a pergunta.




Revisitar os Provérbios e, com eles, desnudar o Presente
José Luís Vaz

A situação política do país tem dado origem a imensas conferências de imprensa. Nelas se dá conta de previsões, acontecimentos e conclusões, mais evidentes, aos olhos de quem as protagoniza. 
Chega a Troika, vai-se a Troika...

Chega a Troika, vai-se a Troika, e as tomadas de posição multiplicam-se, acontecendo os mais variados episódios nesses encontros de políticos e órgãos de comunicação social. Desta vez, vamos descrever uma dessas conferências de imprensa, ocorrida há uns dias atrás. A sala estava, conforme às vezes se diz, à pinha, o mesmo é dizer cheia de jornalistas. O conferencista era o Senhor Ministro, que, previamente, havia marcado a hora da mesma. Como de costume, desenvolveu o tema referente às Finanças do País e aguardou as perguntas habituais dos senhores jornalistas. Foram respondidas, as três primeiras, habilidosamente formuladas, recheadas de argumentos técnicos, com prévias exposições inerentes à grave situação financeira, que presumiam respostas longas, completas, esclarecedoras. Pelo contrário, foram muito curtas e demasiado pouco convincentes, para quem, depois de as ouvir, esperaria ficar munido de elementos que lhe permitisse raciocinar sobre a matéria exposta. Surgiu então uma jornalista que, depois de se ter identificado, a ela e ao canal de televisão que representava, deixando transparecer alguma impaciência, formulou a seguinte pergunta:
Pergunta-me se Portugal...
— Sr. Ministro, o meu pedido de esclarecimento é muito claro e objectivo. O povo Português precisa de saber, concretamente, se Portugal já está ou vai a caminho da bancarrota?
— Pergunta-me, se Portugal, já está ou vai a caminho da bancarrota?... A resposta… Não é fácil, mas vou com certeza responder-lhe, de forma a satisfazer a sua natural procura de argumentos sábios, que lhe permitam, objectivamente, poder formular um trabalho completo e esclarecedor sobre matéria tão complicada que não está, naturalmente, ao alcance de qualquer personagem que, de um momento para o outro, se lembre de aprofundar os seus conhecimentos sobre este domínio.


Como deve saber, a crise, agora apelidada de financeira, teve as suas origens numa gestão da coisa pública, não devidamente direcionada para os verdadeiros interesses do país, demasiadamente necessitado da atenção dos verdadeiros agentes económicos, mas…
Nunca pactuando com os erros...
Pelo contrário, a atitude subsidiária, com verbas provenientes da Comunidade Europeia, favoreceu os cidadãos de parcos recursos, tendo desprezado, em absoluto, a política cambial preconizada pelo Banco Central Europeu, que dava orientações, muito precisas, de apoio formal imediato, às instituições financeiras creditadas em Portugal, já que, há muito vinham dando sinais de uma preocupante debilidade, tendo-se mantido num mercado altamente competitivo, como penso, deve saber, à custa de enorme esforço conjuntural, solidário e penoso, principalmente, justificada pela enorme baixa do poder de compra dos portugueses de maiores recursos que, assim, se viram obrigados à prática de uma austeridade forçada pela conjuntura internacional. Importa pois dizer que a nossa inflexão foi, no que diz respeito às exportações, de acordo com o relatório, elaborado pelo Sr. Secretário de Estado, o segundo, à minha esquerda, demasiado pronunciada e pronunciadora de criação de dificuldades acrescidas no que se refere à manutenção de um deficit dentro dos limites impostos por Bruxelas, só recuperado, após evidente esforço dos portugueses, que, vem a propósito dizê-lo, são o melhor povo do mundo, capaz de a tudo resistirem, mas… Nunca pactuando com os erros praticados por alguns, a terceira Sr.ª Secretária de Estado, à minha direita que, com um voluntarismo invulgar, foi obrigada a elaborar projectos de reanimação da economia, superiormente, vistos e revistos, por mim, de forma a convencermos a Troika, de que, em Portugal, é respeitada e admirada por tão notável esforço, o de salvarem o país de males maiores. Tendo ainda em conta, a preocupante perplexidade da macroeconomia e não desprezando as Agências Financeiras internacionais, sujeitas às intempéries dos mercados, podemos afirmar que todos os esforços dos Portugueses não serão em vão porquanto as minhas previsões continuam a não falhar.
A conferência foi dada por acabada...

Nesta altura, quase todos os jornalistas pretendiam ainda formular perguntas, mas a conferência foi dada por acabada, tendo em simultâneo saído da sala o Sr. Ministro e os cinco ou seis Secretários de Estado que o acompanhavam.


8 comentários:

  1. Atendendo aos protagonistas, o texto está muito esclarecedor: tanta parra e tão pouca ou nenhuma uva. Todos sabemos de quem estamos a falar, não?

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  2. Estás de parabéns, é muita criatividade junta, deve-te ter dado um "gozo" escrever este texto. O Sr. Ministro Gaspar continua igual a ele mesmo, ou seja, fala, fala, mas, não diz nada.
    Conseguiste de forma extraordinária descrever o homem.

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  3. Muito bem explicada a posição dos nossos governantes. Falam, falam, falam e não dizem nada, que jeito tenha. Quantos secretários de estado, leva cada ministro, para uma conferência? Ora podiam começar a poupar por aí.

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  4. Não sei se estou a ler um artigo no blogue Evoluir ou a tentar com muita paciência, escutar um senhor qualquer numa conferência de imprensa na televisão ou na radio. O que eu sei, e é certo, é que me parece um retrato autêntico de algumas intermitências que passam por aí. Até a lentidão nos conseguiste transmitir: simplesmente fenomenal!

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  5. Este texto ilustra de forma perfeita o subtítulo - "desnuda o presente", põe a nu o ridículo dos discursos dos nossos políticos. De facto, temos muitas perguntas, iluminadoras, ou não, mas as respostas multiplicam-se em complexidade, ambiguidade, confusão, falsidade...
    Retrato magistral, José Luís!

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  6. Depois destes tão pertinentes e certeiros comentários, só me resta fazer mais algumas perguntas que ajudem a iluminar a situação do nosso país: Portugal paga mensalmente para os trabalhadores do estado terem reformas, como as outras entidades patronais pagam?; até quando vai a máquina tributária do Estado manter-nos como escravos contributivos silenciados?; o governo trata-nos com arrogância e é vingativo, por ainda pensar que gastámos acima das nossas posses?
    Cada leitor deste comentário irá, certamente, acrescentar mais uma pergunta iluminada que será, por si só, uma resposta!

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  7. Muito giro tio.
    Bj.e abraços do sobrinho Nuno.

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  8. Palavras para quê?... São os sucessivos governos de gatunos, esclavagistas, sequestradores, chantagistas, gerontocidas, etc. (São mafiosos da pior espécie que serão reeleitos, pela maioria esperançada em também meter a mão no 'bolo'. Anónimo porque tenho MEDO!!!!!!!!!!!!!!!!

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