Júlia
Sardo
Dou comigo muitas vezes parada junto
ao rio, vendo os barquitos de pesca artesanal, andando de um lado para o outro,
à procura do melhor lugar para pescar.
Fico absorvida nos meus pensamentos e
aí começo a recordar; será recordação ou sonho?
Quando os dias estão calmos |
Quando os dias estão calmos de vento
e com um sol quentinho, lá vamos, com um lanche bem abastado, um termo cheio de
café, passar um dia na pesca. Já no barco, começam-se a preparar as canas,
pondo os estropos com os anzóis. Chegados à pescaria, pomos a isca no anzol e
aí vai ele, para a água.
Então, começa o tempo de espera, para
que o peixe pique. De repente, sente-se um ligeiro tremor na linha e com
reflexos, rápidos, dá-se um puxãozinho, para que se for peixe, fique preso pela
beiça. Puxa-se a linha, fazendo rodar o carreto, até que ela chegue ao nosso
alcance. O peixe, ao sair da água, é tão prateado que parece envolto numa luz. Tira-se
o peixe com cuidado, de preferência com um pano na mão, para não haver a surpresa,
de uma espetadela. É posto num balde com água da ria, para que se conserve
vivo.Tem de se pôr mais isca no anzol para que volte à água.
Ao sair da água todo o peixe é bonito,
mas os ruivos são uma delícia. Saem com as barbatanas abertas, parecendo as
asas dum pássaro em pleno voo.
E que lindas são as cores das
barbatanas! Parecem um arco-íris.
O barco vai ao sabor da maré |
Percorremos vários sítios da ria, à
procura de mais peixe. Faz-se um arrolado; passo a explicar o que são
arrolados, para quem não sabe. O barco, sempre com o motor a trabalhar, mas
desengatado, vai ao sabor da maré. A linha, com o anzol deslizando na água vai
mexendo devido à marola que faz a água; o peixe, guloso, ao ver algo a mexer-se,
toca de se atirar.
É bonita a pesca, porque há silêncio,
paz de espírito e sente-se uma serenidade, inigualável.
Entretanto,
ouço a buzina de um barco, que vai a entrar na Barra e desperto dos meus
pensamentos? Ou de um sonho?
Fico triste
por não ter estes momentos felizes, mas ao mesmo tempo recordo com saudade tudo
o que vivi e o que aprendi.
"É bonita a pesca, porque há silêncio, paz de espírito e sente-se uma serenidade, inigualável"
ResponderEliminarAcho bonito. Pela primeira vez, na minha vida, vi algo na pesca de que gostei muito.
O mar, a quietude da ria, os barcos são temas reincidentes nos trabalhos com que nos tem presenteado. Eu que gosto tanto de me deixar ir numa margem submersa com um livro debaixo do braço adorava voltar aos tempos em que o meu avô soltava as redes e "lavrava" a ria. E se calhar encontrávamo-nos por lá e éramos "vizinhas". Adorei, Julinha!
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ResponderEliminarCom esta descrição da Júlia, até eu, que sou mais dada a atividades em terra firme, sinto vontade de alinhar numa pescaria.
A nossa ria é cor e é luz, é luz e é cor. Júlia, já nos pintaste um belo ruivo. Pinta-nos agora as cores e a luz da nossa ria, só luz e cor: intensas e profundas, poderosas e mágicas.
ResponderEliminarGostei das tuas recordações e das tuas imagens carregadas de simbolismo. A tua mestra, a nossa amiga Fernanda Rendeiro, sugere que pintes as cores e a luz da nossa Ria. Eu avançaria ainda com outra sugestão: Tenta pintar o cheiro da laguna, os olhares desconfiados dos peixes que nos fixam das águas, a serenidade transparente das águas que nos cercam... e por aí fora.
ResponderEliminarUm abraço amigo.
Fernando
Está na hora de partilhar connosco essa profusão de cores, sabores e cheiros que nos vão permitir conhecer um pouco mais da sensibilidade de alguém que nasceu a ver a Ria e permanece a descobri-la.
EliminarJúlia como escreve bem ! Parabéns! Ainda bem que recorda esses momentos felizes , poucos se podem gabar de os ter vivido . fica essa conmsolação! Bjs E continue que eu ainda quero ir ao lançamento do seu livro. Bjs
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