Revisitar
os Provérbios e, com eles, desnudar o Presente
José
Luís Vaz
A situação política do país
tem dado origem a imensas conferências de imprensa. Nelas se dá conta de
previsões, acontecimentos e conclusões, mais evidentes, aos olhos de quem as
protagoniza.
Chega a Troika, vai-se a Troika... |
Chega a Troika, vai-se a Troika, e as tomadas de posição multiplicam-se,
acontecendo os mais variados episódios nesses encontros de políticos e órgãos
de comunicação social. Desta vez, vamos descrever uma dessas conferências de
imprensa, ocorrida há uns dias atrás. A sala estava, conforme às vezes se diz,
à pinha, o mesmo é dizer cheia de jornalistas. O conferencista era o Senhor
Ministro, que, previamente, havia marcado a hora da mesma. Como de costume,
desenvolveu o tema referente às Finanças do País e aguardou as perguntas
habituais dos senhores jornalistas. Foram respondidas, as três primeiras,
habilidosamente formuladas, recheadas de argumentos técnicos, com prévias
exposições inerentes à grave situação financeira, que presumiam respostas
longas, completas, esclarecedoras. Pelo contrário, foram muito curtas e demasiado
pouco convincentes, para quem, depois de as ouvir, esperaria ficar munido de
elementos que lhe permitisse raciocinar sobre a matéria exposta. Surgiu então
uma jornalista que, depois de se ter identificado, a ela e ao canal de
televisão que representava, deixando transparecer alguma impaciência, formulou
a seguinte pergunta:
Pergunta-me se Portugal... |
— Sr. Ministro, o meu pedido
de esclarecimento é muito claro e objectivo. O povo Português precisa de saber,
concretamente, se Portugal já está ou vai a caminho da bancarrota?
— Pergunta-me, se Portugal,
já está ou vai a caminho da bancarrota?... A resposta… Não é fácil, mas vou com
certeza responder-lhe, de forma a satisfazer a sua natural procura de
argumentos sábios, que lhe permitam, objectivamente, poder formular um trabalho
completo e esclarecedor sobre matéria tão complicada que não está,
naturalmente, ao alcance de qualquer personagem que, de um momento para o
outro, se lembre de aprofundar os seus conhecimentos sobre este domínio.
Como deve saber, a crise, agora apelidada de financeira, teve as suas origens numa gestão da coisa pública, não devidamente direcionada para os verdadeiros interesses do país, demasiadamente necessitado da atenção dos verdadeiros agentes económicos, mas…
Como deve saber, a crise, agora apelidada de financeira, teve as suas origens numa gestão da coisa pública, não devidamente direcionada para os verdadeiros interesses do país, demasiadamente necessitado da atenção dos verdadeiros agentes económicos, mas…
Nunca pactuando com os erros... |
Pelo contrário, a atitude subsidiária, com verbas
provenientes da Comunidade Europeia, favoreceu os cidadãos de parcos recursos,
tendo desprezado, em absoluto, a política cambial preconizada pelo Banco
Central Europeu, que dava orientações, muito precisas, de apoio formal
imediato, às instituições financeiras creditadas em Portugal, já que, há muito
vinham dando sinais de uma preocupante debilidade, tendo-se mantido num mercado
altamente competitivo, como penso, deve saber, à custa de enorme esforço
conjuntural, solidário e penoso, principalmente, justificada pela enorme baixa
do poder de compra dos portugueses de maiores recursos que, assim, se viram
obrigados à prática de uma austeridade forçada pela conjuntura internacional.
Importa pois dizer que a nossa inflexão foi, no que diz respeito às exportações,
de acordo com o relatório, elaborado pelo Sr. Secretário de Estado, o segundo,
à minha esquerda, demasiado pronunciada e pronunciadora de criação de
dificuldades acrescidas no que se refere à manutenção de um deficit dentro dos
limites impostos por Bruxelas, só recuperado, após evidente esforço dos
portugueses, que, vem a propósito dizê-lo, são o melhor povo do mundo, capaz de
a tudo resistirem, mas… Nunca pactuando com os erros praticados por alguns, a
terceira Sr.ª Secretária de Estado, à minha direita que, com um voluntarismo
invulgar, foi obrigada a elaborar projectos de reanimação da economia,
superiormente, vistos e revistos, por mim, de forma a convencermos a Troika, de
que, em Portugal, é respeitada e admirada por tão notável esforço, o de salvarem
o país de males maiores. Tendo ainda em conta, a preocupante perplexidade da
macroeconomia e não desprezando as Agências Financeiras internacionais,
sujeitas às intempéries dos mercados, podemos afirmar que todos os esforços dos
Portugueses não serão em vão porquanto as minhas previsões continuam a não
falhar.
A conferência foi dada por acabada... |
Nesta altura, quase todos os
jornalistas pretendiam ainda formular perguntas, mas a conferência foi dada por
acabada, tendo em simultâneo saído da sala o Sr. Ministro e os cinco ou seis
Secretários de Estado que o acompanhavam.
Atendendo aos protagonistas, o texto está muito esclarecedor: tanta parra e tão pouca ou nenhuma uva. Todos sabemos de quem estamos a falar, não?
ResponderEliminarEstás de parabéns, é muita criatividade junta, deve-te ter dado um "gozo" escrever este texto. O Sr. Ministro Gaspar continua igual a ele mesmo, ou seja, fala, fala, mas, não diz nada.
ResponderEliminarConseguiste de forma extraordinária descrever o homem.
Muito bem explicada a posição dos nossos governantes. Falam, falam, falam e não dizem nada, que jeito tenha. Quantos secretários de estado, leva cada ministro, para uma conferência? Ora podiam começar a poupar por aí.
ResponderEliminarNão sei se estou a ler um artigo no blogue Evoluir ou a tentar com muita paciência, escutar um senhor qualquer numa conferência de imprensa na televisão ou na radio. O que eu sei, e é certo, é que me parece um retrato autêntico de algumas intermitências que passam por aí. Até a lentidão nos conseguiste transmitir: simplesmente fenomenal!
ResponderEliminarEste texto ilustra de forma perfeita o subtítulo - "desnuda o presente", põe a nu o ridículo dos discursos dos nossos políticos. De facto, temos muitas perguntas, iluminadoras, ou não, mas as respostas multiplicam-se em complexidade, ambiguidade, confusão, falsidade...
ResponderEliminarRetrato magistral, José Luís!
Depois destes tão pertinentes e certeiros comentários, só me resta fazer mais algumas perguntas que ajudem a iluminar a situação do nosso país: Portugal paga mensalmente para os trabalhadores do estado terem reformas, como as outras entidades patronais pagam?; até quando vai a máquina tributária do Estado manter-nos como escravos contributivos silenciados?; o governo trata-nos com arrogância e é vingativo, por ainda pensar que gastámos acima das nossas posses?
ResponderEliminarCada leitor deste comentário irá, certamente, acrescentar mais uma pergunta iluminada que será, por si só, uma resposta!
Muito giro tio.
ResponderEliminarBj.e abraços do sobrinho Nuno.
Palavras para quê?... São os sucessivos governos de gatunos, esclavagistas, sequestradores, chantagistas, gerontocidas, etc. (São mafiosos da pior espécie que serão reeleitos, pela maioria esperançada em também meter a mão no 'bolo'. Anónimo porque tenho MEDO!!!!!!!!!!!!!!!!
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