Com este trabalho interrompemos o Ciclo denominado “Violência sobre o ser humano” que temos vindo a desenvolver:
a participação de muitos colaboradores e a importância que lhe queremos dar
leva-nos a voltar ao mesmo no inicio do próximo ano.
E porque é Natal gostaríamos
de desafiar as crianças e os seus pais a participar no EVOLUIR e a enviar-nos os seus
trabalhos para podermos festejar a partilha, a dádiva, os sentimentos que
sempre nos visitam e a família que queremos presente.
Pairava no ar algo estranho,
havia um não sentir nada, mas um palpitar não sabia o quê, uma inquietação do
improvável, um estar lá longe de tudo e de todos. O coração intranquilo de uma
mãe, como outra qualquer que se deita a adivinhar o inimaginável que, na sua
opinião, possa perturbar algum dos seus. Mortifica-se, pensa, observa, quebra
os seus próprios silêncios para não se denunciar.
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O jantar com toda a familia reunida |
Durante o jantar,
finalmente, com toda a família reunida, a satisfação, mas também o cansaço de
mais um dia daqueles que passaram e nada deixaram, aquela inquietação em nada
ajudava a construir a personagem vital daqueles poucos momentos de partilha, de
convívio com as alegrias ou frustrações agora despejadas no cesto das
intimidades de uma família. Três filhos eram a bandeira daquele casal. Por eles
faziam tudo e tudo era sempre pouco para quem tudo lhes queria proporcionar.
Bens materiais? Alguns, os indispensáveis, não eram ricos, longe disso, mas os
pais preocupavam-se no investimento possível que proporcionasse aos filhos o
alargar de horizontes, a aquisição de conhecimento, a experiência de novas
oportunidades, a descoberta dos outros, sempre aprendendo com e respeitando a
diferença, fomentando neles o ser solidário indispensável à nova sociedade global.
À noite, cada um procurava no recanto do seu quarto corresponder às respetivas
exigências académicas e os pais, na sala, entremeavam com os afazeres
inadiáveis o diálogo natural dum casal que quer pôr a conversa em dia depois de
mais um dia de trabalho.
— Lena, dá para perceber que
tiveste um dia esgotante. Estás muito cansada, não estás?
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Há qualquer coisa com a nossa menina |
Completamente surpreendida
tentou recompor-se, passou a mão pelo cabelo e numa atitude aparentemente
descontraída, pestanejou, sorriu e respondeu:
— Sabes que naquela casa
trabalha-se muito todos os dias… É curioso é estares tão preocupado. Simpatia
tua, Jorge.
— Não, não continues a
disfarçar… Já te conheço há uns anitos e não me consegues enganar. Alguma coisa
te preocupa, eu sei. Não queres falar?
— És incrível… Desta vez,
guardou o sorriso, franziu os olhos e com ar preocupado deu-se por vencida.
— Há qualquer coisa com a
nossa menina… Ela anda muito esquisita e eu não sei o que se passa… É muito
triste perceber que a nossa filha não anda bem e nem sequer a posso ajudar…