sábado, 23 de novembro de 2013

O moliceiro, o amante da ria



O moliceiro, o amante da ria,
Flutua leve, silencioso,
Rompendo a madrugada,
Rasgando o manto misterioso
Da neblina que os veste;
E com a ajuda do sol nascente
Aparece imponente à luz do dia.

Com a sua proa pintada,
A sua vela içada
Prenhe de vento, de maresia
Vai lavrando
As salsas águas da ria.

O moliceiro, o amante da ria,
Carrega no seu ventre
O húmus, a semente,
Que fecunda a terra
Terra que abraça a ria,
Rotunda de seiva, de alegria.

Corta as águas, ora calmo, gracioso,
Porque Eolo, no Olimpo, está alegre
Ora quase naufraga
Porque o deus seta zangado, furioso.

E ria acima, ria abaixo
Ao som da concertina,
Espalha a cor, a alegria,
Ao levar os mancebos e as moçoilas,
A S. Paio em dia de romaria.

O moliceiro, o amante da ria,
Abraça-a nos seus braços esverdeados,
Trocando ósculos entusiasmados,
Que são as marolas da ria
Marulhando no casco do moliceiro.

Assim desliza o moliceiro
Pelas águas esverdeadas da ria
Ora lisas, ora ondeantes
Trocando juras de amor eterno
O moliceiro e a sua amante,

A ria!


Licínio Ferreira Amador©2013,Aveiro,Portugal

   1º Prémio de Poesia livre dos VII Jogos Florais da Câmara Municipal da Murtosa em 25/03/2006. 

7 comentários:

  1. Antes de mais, muito benvindo Licinio Ferreira.
    De repente vi o meu avô a apanhar o moliço para adubar as terras da Gafanha e uma lagrimita ao canto do olho teimou em aparecer, porque recordei bons e inesqueciveis momentos da minha infância, já que o acompanhei algumas vezes.
    Lindo poema de amor à nossa Ria e às suas gentes!!!
    Do coração, muito obrigada Licinio.

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  2. Para quem não conhecer a riqueza, a beleza e a magia desta ria que não é formosa mas é de Aveiro fica amante dela ao ler este belo poema.

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  3. Evoluir continua a receber novos colaboradores. Como bons anfitriões a nossa casa continuará sempre disponível para divulgar trabalhos como o de Licinio Ferreira Amador que faz das palavras um retrato de rara beleza da região em que vivemos e da Ria que a enobrece. Muito obrigada pela sua participação e ficamos à espera de novas revelações.

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  4. Aveiro a sua ria e os seus moliceiros, são sempre incentivos que despertam poemas maravilhosos como este com que nos brindou.
    Obrigada Licínio, é um belo poema.

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  5. A ria, o moliceiro... Um quadro pintado na tela da memória e aqui transformado num poema pleno de energia e movimento.

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  6. Se eu não conhecesse esta região ficaria curiosa por cá vir e apreciar as tonalidades da água, o fluir da maré, os espelhos de água, a luminosidade, os moliceiros e os amantes que se deslumbram e se esquecem perante tamanha beleza. Obrigada Licinio, esta é uma forma muito bonita de descobrir a nossa Ria

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  7. Ao ler esta poesia, visualizei aqueles moliceiros e os mercanteis que vinham d\ Aveiro à Gafanha trazer as cebolas em grandes quantidades e que eram deixadas na borda da ria, junto do Ti Manel da Borda. Lá iam com os carros de bois recolher o que tinham comprado. Obrigada Licínio por tão belas lembranças.

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