A importância da cor e a crise que atravessamos

Dores Topete

Vejo tudo a preto e branco

Vejo tudo a preto e branco, ou vejo tudo tão cinzento. Estas são expressões que surgem com alguma frequência, vindas de pessoas deprimidas, ou cujas vidas se encontram num impasse. São por isso expressões de desânimo, tristeza, de falta de esperança.

A cor é realmente uma das molas que nos move, que nos faz gostar de viver ou não, de sentir ou não prazer pelo que possuímos e vivemos.

A cor é realmente importante na nossa vida.

Olhar o alaranjado intenso do pôr do sol dá-nos tranquilidade, receber um ramo de rosas vermelhas diz-nos muito do amor de quem no-las oferece, receber ou oferecer a alguém um ramo colorido de flores campestres faz-nos sentir felizes, andar pelas ruas com “gente” vestida das mais variadas cores faz-nos sentir leves, realizadas e a gostar de viver.

A vida, quando vista a cores
é divertida

E que dizer ao contemplar uma mesa bem-posta, com pratos de comida decorados a vermelho pimento, verde alface, cinzento brilhante do peixe, o brilhante dourado de um copo de vinho. Que bom que é…

A vida, quando vista a cores é divertida, aconchegante, traz-nos entusiasmo e saúde.

No momento de crise por que passamos, temos infelizmente poucas razões para descortinar o colorido da vida. Esta apresenta-se muitas vezes cinzenta, não de um cinzento brilhante que nos pode empolgar pelo seu brilho, mas de um cinzento pardo, sem vida, a que falta o entusiasmo e em que sobeja a preocupação e o desalento.

Não merecemos viver esta crise porque estamos a passar. Os trabalhadores no ativo sentem que, por mais que trabalhem, não conseguem gerir com eficiência o seu salário e vivem angustiados com o medo de serem dispensados. 

Estávamos pelos vistos enganados

Os jovens, que se prepararam para o exercício de uma profissão, estão sem possibilidades de emprego, de constituírem uma família, de poderem, enfim, seguir com as suas vidas por diante, e emigram na esperança de vida melhor. 

Os desempregados vivem em angústia permanente, sem dinheiro, sem emprego e a sentirem que, a cada dia que passa, a sua dignidade é posta em causa por sentirem que estão a descer cada vez mais baixo. Os aposentados trabalharam duramente, grande parte deles cumpriram durante quarenta anos ou mais de trabalho e de descontos que lhes foram impostos e reformaram-se com a serenidade do dever cumprido e a convicção de terem pela frente finalmente o descanso a que tinham direito e a segurança até ao fim da vida que a sua merecida reforma lhes proporcionava. 

Estávamos pelos vistos todos enganados, governos que desgovernam, corrupção,

Na nossa vida surgirá um arco íris

governantes imaturos, puseram em causa a nossa segurança. Não somos jovens para emigrar, não somos desempregados para ter fé numa colocação, não temos idade para trabalhar, o que nos resta?

Não é pois de admirar que os portugueses não consigam deixar de ver o seu mundo a cores pardacentas, sem brilho e sem futuro.Se para alguma coisa as crises servem, é, talvez, para nos fazer entender que não devemos nunca dar por garantido o que temos, talvez aconteçam para sabermos dar valor ao que possuímos.

É importante acreditarmos que, se quisermos, podemos mudar a cor da nossa vida. Para que isso aconteça precisamos de ter fé, esperança e crer que, com vontade e determinação, não conseguirão derrubar-nos e na nossa vida surgirá um arco íris, radiante de luz e cor.