EVOLUIR agradece ao autor o envio deste texto para publicação
Lindonor
Silveirinha
O formigueiro contava com mais uma
formiguinha. Mas, no meio de todas as outras, a nova formiguinha era diferente.
É difícil dizer porquê, mas a verdade é que tinha uns olhos maiores e mais
brilhantes, mais salientes e movia-se com mais rapidez, sempre a olhar para
todos os lados, querendo ver tudo ao mesmo tempo.
Como vocês sabem, as formigas vivem em
formigueiros debaixo da terra e só cá vêm acima para procurar comida que
transportam às costas para o formigueiro. Caminham sempre em filas, umas
entrando, outras saindo do formigueiro.
É muito engraçado observá-las, porque elas
marcham como guerreiros de um exército e têm uma missão bem definida:
transportar comida para o formigueiro, para alimentar aqueles milhares de
formigas que estão constantemente a nascer.
Também como guerreiros, elas têm os seus postos
e tarefas: a rainha só põe os ovos que
vão dar origem às novas formiguinhas de
entre as quais, de vez em quando, sairá uma rainha. As outras são as obreiras
que se encarregam de todo o trabalho
A formiga Rainha |
Há várias espécies de formigas. Algumas tão
grandes e carnívoras que são capazes de devorar um animal cem vezes maior do
que elas. Há outras no Brasil que roem a madeira e, se uma casa for feita desse
material, acaba por cair. Talvez por isso, não seja assim uma admiração tão
grande que elas, mesmo as mais pequenas, muitas vezes transportem pesos muito
superiores ao seu tamanho e, por isso, desenvolvem um extraordinário trabalho
de equipa, em que se ajudam umas ás outras.
A formiga trabalhadora |
Pois a formiguita de que começámos a falar,
deslocava-se mais depressa do que as outras, ultrapassando-as como se tivesse
uma hélice na cauda.
Um dia, o Carlitos estava no quintal sem saber
o que fazer. Eram as férias de Verão e ele não tinha com quem brincar. Pôs-se a
observar as formigas daquele formigueiro, atrapalhando-as com um pauzito,
fazendo-as sair do carreiro.
O que mais o divertia era ver a atrapalhação
delas para retomarem o seu lugar na fila. Mas conseguiam sempre. Chama-se a
isto persistência, uma qualidade que devemos desenvolver para chegarmos aonde
queremos. A certa altura reparou na tal formiguita e esteve a observá-la
durante uns minutos. Achou-lhe muita graça e então, pôs-lhe um dedo à frente. A
formiga hesitou por momentos, antes de começar a trepar pelo dedo, pela mão,
pelo braço do Carlitos. Aí, ele fê-la parar, porque ela lhe estava a fazer
cócegas e atirou-a ao chão com um safanão. A formiga caiu de barriga para cima
e começou a espernear freneticamente ( cheia de nervoso) até que se equilibrou
de novo e continuou a correr, desta vez completamente perdida , porque tinha
saído da fileira do “exército”. “És mesmo rabiga” disse o Carlitos “ mas vou-te
ajudar”. Pôs-lhe outra vez o dedo à frente, ela subiu e ele conduziu-a até ao
carreiro das outras formigas, onde ela imediatamente se integrou.
O Carlitos continuou a segui-la e viu que, a
certa altura vinha a aproximar-se um grupo de três
formigas que transportavam,
às costas, uma enorme folha e que caminhavam com dificuldade. Para seu espanto,
a “formiga rabiga”, como ele lhe chamava, imediatamente se pôs debaixo da folha
para ajudar as outras. O Carlitos ficou verdadeiramente espantado. Como é que o
animalzinho sabia que era preciso ajudar? Ninguém lhe disse! Pelo menos que ele
soubesse.
A Formiga Rabiga |
É claro que nós sabemos que os animais emitem
sons, muitas vezes tão agudos que o ouvido humano não consegue captar, mas se
usarmos um aparelho próprio, ouvimos perfeitamente. È por meio desse som que
elas comunicam. Afinal “a formiga rabiga” era uma espécie de bombeiro, que, por
ser mais rápida , aparecia onde era mais precisa.
A Natureza é realmente uma coisa
extraordinária!
O formigueiro - trabalho em equipe |
O Carlitos foi a correr para casa contar à mãe
o que tinha visto e ela aproveitou para lhe falar do valor do trabalho
organizado em equipe e de como os homens seriam mais felizes se cooperassem
mais uns com os outros, como fazem as formigas.
Mas então o Carlitos perguntou: “ Se as
formigas são assim tão inteligentes, porque é que tu as matas quando as vês em
cima dos bolos ou dentro do açúcar ?”
A
mãe ficou um pouco atrapalhada, mas respondeu:
“
Tudo na vida tem um lado bom e um lado mau. As formigas são úteis porque abrem
sulcos na terra e ajudam à oxigenação do solo, necessária para as plantas
nascerem e crescerem. Mas estes bichinhos são muito gulosos e, se podem roubar
os nossos doces elas não hesitam e então são perigosas, porque trazem agarradas
aos pelos das patas as impurezas por onde passaram. O mesmo acontece com as
moscas, mas eu só as mato “continuou a
mãe” nessas ocasiões e, às vezes, até só as afasto ou tiro os doces do alcance
delas.”
Mas o Carlitos voltou à carga: “ Mas então
porque é que usas veneno para as formigas. Não é para as matar?”
“Bem, se eu puser veneno na entrada da cozinha,
por exemplo, já não as mato, afasto-as”.
O
Carlitos não ficou lá muito convencido, mas como ele já sabia que as mães têm sempre
resposta para tudo, não perguntou mais nada e voltou para o quintal para o seu
posto de observação, pensando como a vida é estranha...
"como a vida é estranha..." Quando o Carlitos perceber bem a sociedade de que ele faz parte... Como irá uma criança entender que não pode "virar" formiga!
ResponderEliminarHistória muito rica que os adultos devem saber utilizar na aliciante e difícil ciência de educar.
Achei deliciosa esta história, não só pelo exemplo que estes pequeninos animais nos dão, como também pelo espírito de interajuda. Pois não há dúvida que a sociedade seria melhor se lhe seguisse o exemplo de persistência e de trabalho em equipe.
ResponderEliminarMuito interessante esta história, Lindonor! Aqui há dias fui à escola da minha neta onde me pediram para contar uma história. E sabe o que fiz? Peguei em dois fantoches e com a ajuda da minha neta falei-lhes da Dona Redonda e da sua casa … redonda. Depois aproveitei e, com as crianças descobrimos o que é uma refeição saudável, o que devemos comer todos os dias e o que nos permitimos comer algumas vezes, o peso da solidão, o valor da amizade, o respeito pela diferença, a relação avós e netos… e tudo isto tendo como base a sua história.
ResponderEliminarObrigado, se não a conhecesse não podia ter-me divertido tanto com as crianças e aprendido que é numa relação de cumplicidade que lhes podemos transmitir os valores que tão importantes são para a nossa vida.
Muito interessante: conhecimentos e curiosidades sobre estes insetos... A forma como vivem e se organizam bem pode servir de modelo para os humanos. Uma boa história para ler aos meus netos. Obrigada, Lindonor.
ResponderEliminarEu fiquei como o Carlitos. Como é estranha esta vida: ignoramos a Natureza, e até a maltratamos, quando ela tem tanto para nos fazer refletir.
ResponderEliminarUma história para ler em conjunto com uma criança. E depois dialogar com um verdadeiro sentido de escuta e partilha.
Agradeço as vossas amáveis palavras. É uma experiência nova para mim.
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