Conceição Cação
Sinto-me só, muito só |
Cresci vigorosa e saudável |
Mas vieram tempos de dor.
Assisti, sem nada poder fazer, ao sofrimento de muitos dos meus vizinhos –
pinheiros bravos – dizimados pelo inseto implacável. As chamas aterradoras
invadiram várias vezes o nosso espaço: chão coberto de cinzas, árvores de
braços enegrecidos como cruzes num campo santo. Embora com as folhas e ramos
feridos, sobrevivi aos ataques do fogo devastador.
Todavia não fui poupada: tal como muitos dos meus amigos, fui abatida, sem piedade, pelo machado insensato. Senti-me a ser transportado para o Além, mas, graças à persistência da minha alma e à robustez da minha seiva, reencarnei neste mesmo lugar; renasci do velho cepo de raízes profundas. E não estou só, tenho mais dois irmãozinhos gémeos. Vamos crescer juntos e das nossas sementes vão nascer novas árvores, criar um novo bosque. Desiludam-se os que pensavam que eu ia morrer, não me rendo à tristeza. Sou forte, comigo mora a esperança.
Reencarnei neste mesmo lugar |
Todavia não fui poupada: tal como muitos dos meus amigos, fui abatida, sem piedade, pelo machado insensato. Senti-me a ser transportado para o Além, mas, graças à persistência da minha alma e à robustez da minha seiva, reencarnei neste mesmo lugar; renasci do velho cepo de raízes profundas. E não estou só, tenho mais dois irmãozinhos gémeos. Vamos crescer juntos e das nossas sementes vão nascer novas árvores, criar um novo bosque. Desiludam-se os que pensavam que eu ia morrer, não me rendo à tristeza. Sou forte, comigo mora a esperança.
As árvores nem sempre morrem de pé... São muitas vezes - mesmo muitas - abatidas pelos que, desejosos de fortuna, de todos os meios se servem para atingir fins. Às vezes, até morrem queimadas e elas não sabem inflamar um fósforo...
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ResponderEliminarPois na natureza, tudo se transforma. Claro que há árvores que duram uma eternidade, até ficarem mesmo velhinhas.São essas essas que nos trazem tantas recordações. Lindo texto, Conceição.
Uma lufada de ar fresco com este texto de esperança. Que alma de poeta glosará as duas frases finais do texto que é um autêntico mote?
ResponderEliminar"Desiludam-se os que pensavam que eu ia morrer,
Não me rendo à tristeza.
Sou forte, comigo mora a esperança."
Está lançado o desafio. Sei que haverá resposta.
Há palavras que falam quando se escutam e palavras que renascem cada vez que o sol se põe. Gostava de reforçar uma ideia que me assaltou mal acabei de apreciar este trabalho - "reencarnei neste lugar, renasci do velho cepo de raizes profundas!"
ResponderEliminarQue força emana do que escreveu e que bem que o soube transmitir. Obrigado, São.