EVOLUIR agradece ao autor o envio deste texto para publicação
No principiar de uma vida que tudo prometia, como mulher, sentia-me só tua.
Um aflorar de acontecimentos, a cada dia, desabrochava: era o nosso tempo primaveril.
Batias-me no meu coração de amor, e as tuas palavras afáveis enterneciam-me.
De repente, mudaste e tudo mudou – os meus olhos (cegos) pela paixão consumada não queriam enxergar a realidade nua e crua: deixaste de ser homem.
Usava, eu, uma venda invisível, e tu mostraste a capa que te protegia – e uma contracapa destrutível.
Deixei de te conseguir ler.
A tua voz serena, de outrora, perdeu-se.
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| Deixei de te conseguir ler |
A tua voz atroava a minha alma perdida, por ti, para sempre esquecida.
Derruíste por dentro, humilhando-me como só tu gostavas de o fazer; afastaste-me dos meus amigos – e eu procuro, numa busca incessante e suplicante, em vão, outros abrigos.
As nossas aventuras, outrora narradas, tornaram-se em dias inenarráveis: nada do que valha a pena ouvir.
Possuis um corpo infame: pesado e sem graça – tornaste-te na minha desgraça.
Livrar-me de ti tornou-se uma tarefa afanosa, diria, até mesmo, laboriosa.
Jamais me poderia prostrar perante uma pessoa que aguava por se vingar numa alma frágil e sensível.
A tua forma de ser (desabrida) levou-me a agir: um dia, fechei-te a porta na cara e LIBERTEI-
-ME.
Abri a porta: a da LIBERDADE.
Agora - sim, assumo a forma do que sou: MULHER DE VERDADE.
E o bater do meu coração sentiu um novo batimento: o da TRANSVERSALIDADE.
26-11-2013
Cristina Teixeira Pinto ©2014,Aveiro,Portugal
ADMIÁVEL GRITO DE LIBERTAÇÃO.
ResponderEliminarTEXTO DE DENÚNCIA, SINTÉTICO E SENTIDO.
"De repente, mudaste e tudo mudou."
ResponderEliminarDe repente descobriu-o vestido da sua horrenda autenticidade...
E, feliz, libertou-se!
Depois de tanta pressão, veio a liberdade. Gostei muito de ler este texto. Quantas mulheres andam à procura da coragem para fechar a porta do pesadelo em vivem.
ResponderEliminarComo é que uma paixão conduzida ao mais elevado grau de sentimento pode redundar numa violência que mata? Esta é uma questão que me ponho constantemente e para a qual não consigo obter resposta: muitas explicações mas nenhuma resposta. Mais grave porém é quando esta violência é silenciada e o novelo se vai enredando e avolumando sem fim. Felizmente aqui houve um grito de liberdade e a vitima tornou-se "mulher de verdade." Dinâmico, com ritmo, conclusivo - gostei muito, Cristina!
ResponderEliminar"Abri a porta: a da LIBERDADE"
ResponderEliminarQuando a saída é por esta porta poderá proporcionar, não digo um apagar do passado, mas a descoberta de uma vivência autêntica sem simulações disfarçadas de "palavras afáveis" onde a existência de dois seres não perca a individualidade e o respeito recíproco.
Um discurso determinado e incisivo. Que todas as vítimas de violência doméstica saibam cortar assim as amarras e transformar a opressão em liberdade.
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