sábado, 17 de maio de 2014

O muro cego do poder

EVOLUIR agradece ao autor o envio deste texto para publicação.


E o corpo é um barco ancorado a uma liberdade a perder-se…
Cruzam-se as palavras na noite comprida
Sem soletrar à alma que o mundo se esvazia pelas dobras das mãos…
Engolem-nos os sonhos
Caiem de cansaço
Estreitam-se amargas pelas paredes
Que os dias desluzem…
Gritam-nos dores persistentes
Entranhadas e abafadas na pele…
Muralham-nos os olhos
Vestem-nos de ruas sombrias
Peregrinos de esquinas encurtadas ao tempo…
Rotina que marca um silêncio mastigado…
Um despejo das garras dos abutres
Soterram-nos a palavra que dançava na garganta
O fulgor dos dias claros
Secam-nos as lágrimas
Emudecem-nos as palavras
Arrastam-nos já áridos por um rio a fugir-nos do rosto
E o corpo é um barco ancorado a uma liberdade a perder-se…

Somos o medo desmemoriado de Ser…

Rosa Fonseca ©2014,Aveiro,Portugal


6 comentários:

  1. Evoluir orgulha-se de contar com um poema de um autor novo neste blogue: Rosa Fonseca. È sempre um agradável prazer saborear a poesia desta autora. Hoje, tendo em conta o tema que estamos a desenvolver – Contradições do Ser Humano – envia-nos um poema em que o ser humano se reflecte em si mesmo e no seu contrário e em que a vida, ela própria se vai esquecendo de viver. Obrigado, Rosa, por se ter associado ao Evoluir e vamos gostar muito de ter por aqui.

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  2. Ao Evoluir, o meu agradecimento!
    Continuarei a estar com todos os que olham para o mundo de uma forma evolutiva. Nesta página tenho encontrado grandes textos e reflexões. Parabéns! Rosa Fonseca

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  3. Por onde anda a nossa liberdade quando as palavras deixam de ter sentido? Somos livres ou a liberdade é apenas uma palavra que se solta da nossa boca? Era esta a liberdade que queríamos ou esta é a liberdade a que nos querem forçar? Interrogamo-nos e não conseguimos respostas: para onde caminhamos?
    Obrigada Rosa pelo seu poema – obrigou-me a uma reflexão muito profunda sobre o que ambicionámos e o que temos e concluí que só teremos aquilo pelo que não deixarmos de lutar.

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  4. Um poema muito forte, uma reflexão muito profunda sobre a condição humana - em cada tentativa de realização dos nossos sonhos sentimos as limitações inerentes ao nosso ser. Obrigada, Rosa.

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  5. Bonito poema para uma reflexão profunda.Obrigada.

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  6. A contradição suprema: o não SER, SENDO o que nenhum ser devia ser!

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