terça-feira, 31 de dezembro de 2013

NOITE VELHA

EVOLUIR agradece ao autor o envio deste texto para publicação


A sua vinda é afirmada e repetida, vezes sem conta, nos constantes telejornais de todas as estações televisivas.
Pelas cinco e meia da tarde...
Pintam-lhe o rosto em tudo o que é imprensa diária, com vedetismo, para que ninguém se esqueça: vai chegar a noite. Nos mais simples indícios da aproximação dos grandes centros urbanos, gigantes “outdoors” promovem a sua chegada, com as melhores vestes e sonoras promessas de brindes e magia que deixam adivinhar o encantamento da grande festa. E ela tem o rigor de vir cedo. Pelas cinco e meia da tarde dá sinais que vai descer a cortina festiva para o espetáculo da sua apresentação. Faz acreditar que vem cheia de mistério. Mais e melhor que todas as outras que a precederam. Há bastante tempo que a sua entrada no círculo do espaço é motivo de tagarelice ocasional para uns e de objectivos - que são sonhos - para outros. Com a maquilhagem de luzes para a celebração a preceito, com o toque de borbulhas das taças de champanhe, vai chegar dentro de momentos. É a sua entrada pela primeira vez e que será a única. Antes ninguém tivera o sortilégio de a contactar na sua ronda astral porque ainda não havia lugar para ela na esteira da astronomia. Apesar de infinito não cabia no espaço que, para isso acontecer, tinha que se acrescentar. Astrónomos colocavam a si mesmos a hipótese de ela ter o berço num dos buracos negros do universo, que a ser certo seria parida de um buraco mais negro que todos os outros. Negro, negro, mas mesmo negro. Mas a ser verdade, tal astronómica e estranha ocorrência, o facto não se podia demonstrar, porque se o buraco era todo negro também a noite, que é negra, e, para mais, nova, não se podia  examinar. Ao certo, o que se sabia é que aquela noite, pela primeira e única vez, ia chegar. E não ia faltar, porque até então, embora tenha havido apostas perdidas, que alguns, mais eufóricos e audazes, fizeram, nunca deixara de vir. Nem sequer de se atrasar. À hora calendarizada, no preciso ponto anunciado, ela chegaria nem que fosse só para  dizer estou aqui, reparem bem em mim, só para afirmar a sua grandeza e não deixar mal o oráculo.
Num momento imensurável, sem que alguém pudesse dizer foi agora, ela chegou. Chegou em pleno, esplendorosa, com a pose de grande senhora do espaço e do tempo. Não cabia nela de contentamento e por isso todos participavam na alegria que nela havia e dela sobejava. E o novo manto, pesado de escuridão a todos envolvia.
... o NOVO ANO traria um NOVO DIA
Não que ela quisesse dar algo de si. Pois se o fizesse deixaria de ser noite plena. Ela a tudo e a todos assumia e integrava em si como fazendo parte de sua essência mas dar de si, além da alegria, não dava.
Noite linda sim, a hipérbole das noites lindas.

Mas, como há sempre gente difícil de contentar que nunca está plenamente satisfeita com o que obtém, mesmo se lhe dão, apesar de a noite estar linda e estar connosco a primeira noite – pela primeira e única vez – logo alguém se lembrou de chamar-lhe NOITE VELHA e a resmungar com ela, desejando-lhe que se fosse embora, porque logo que ela se fosse o NOVO ANO  traria um NOVO DIA.

J. Carreto Lages ©2013,Aveiro,Portugal

4 comentários:

  1. Há quem dera que viesse um "NOVO DIA", com noites mais ou menos negras, mas despoluído, com lideres reciclados ou não, mas com novas ideias! Como seria bom abandonarmos esta "NOITE VELHA" que não há maneira de nos largar. Claro que não podemos ficar à espera... Penso que aprendemos alguma coisa com o nevoeiro de outros tempos... Não há outra solução: temos que dar a cara e lutar por um NOVO DIA e então teremos fundadas razões para acreditar num NOVO ANO.

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  2. E dessa força que temos, muitas vezes inconsciente, virá, no clarear de uma qualquer aurora, se conseguirmos dar a mão, a certeza de que MUDAR/EVOLUIR reside tão só, na união!
    BOM ANO a todos os amigos deste blog.

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  3. A Noite Velha não leva consigo, por si só, todos os inconvenientes de um ano que ficou para trás. O NOVO DIA de que fala também não descerá qual D. Sebastião, o eterno Desejado, ou o fazedor de milagres. Nada surgirá sem o nosso esforço e a nossa tenacidade e, nem mesmo esses, se forem isolados, resultarão num Novo Ano. É em conjunto, juntando esforços e dinamizando vontades, que voltaremos a brindar o nascer do dia. Excelente trabalho para começar um NOVO ANO.

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  4. Bela alegoria para a despedida do Ano Velho e o renascer da esperança no Novo Ano. Parabéns ao autor.
    Bom ano para todos.

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