EVOLUIR agradece ao autor o envio deste texto para publicação
A sua vinda é afirmada e repetida, vezes
sem conta, nos constantes telejornais de todas as estações televisivas.
Pelas cinco e meia da tarde... |
Pintam-lhe o rosto em tudo o que é
imprensa diária, com vedetismo, para que ninguém se esqueça: vai chegar a
noite. Nos mais simples indícios da aproximação dos grandes centros urbanos,
gigantes “outdoors” promovem a sua chegada, com as melhores vestes e sonoras
promessas de brindes e magia que deixam adivinhar o encantamento da grande
festa. E ela tem o rigor de vir cedo. Pelas cinco e meia da tarde dá sinais que
vai descer a cortina festiva para o espetáculo da sua apresentação. Faz
acreditar que vem cheia de mistério. Mais e melhor que todas as outras que a
precederam. Há bastante tempo que a sua entrada no círculo do espaço é motivo
de tagarelice ocasional para uns e de objectivos - que são sonhos - para
outros. Com a maquilhagem de luzes para a celebração a preceito, com o toque de
borbulhas das taças de champanhe, vai chegar dentro de momentos. É a sua
entrada pela primeira vez e que será a única. Antes ninguém tivera o sortilégio
de a contactar na sua ronda astral porque ainda não havia lugar para ela na
esteira da astronomia. Apesar de infinito não cabia no espaço que, para isso
acontecer, tinha que se acrescentar. Astrónomos colocavam a si mesmos a
hipótese de ela ter o berço num dos buracos negros do universo, que a ser certo
seria parida de um buraco mais negro que todos os outros. Negro, negro, mas
mesmo negro. Mas a ser verdade, tal astronómica e estranha ocorrência, o facto
não se podia demonstrar, porque se o buraco era todo negro também a noite, que
é negra, e, para mais, nova, não se podia examinar. Ao certo, o que
se sabia é que aquela noite, pela primeira e única vez, ia chegar. E não ia
faltar, porque até então, embora tenha havido apostas perdidas, que alguns,
mais eufóricos e audazes, fizeram, nunca deixara de vir. Nem sequer de se
atrasar. À hora calendarizada, no preciso ponto anunciado, ela chegaria nem que
fosse só para dizer estou aqui, reparem bem em mim, só para afirmar
a sua grandeza e não deixar mal o oráculo.
Num momento imensurável, sem que alguém
pudesse dizer foi agora, ela chegou. Chegou em pleno, esplendorosa, com a pose
de grande senhora do espaço e do tempo. Não cabia nela de contentamento e por
isso todos participavam na alegria que nela havia e dela sobejava. E o novo
manto, pesado de escuridão a todos envolvia.
... o NOVO ANO traria um NOVO DIA |
Não que ela quisesse dar algo de si.
Pois se o fizesse deixaria de ser noite plena. Ela a tudo e a todos assumia e
integrava em si como fazendo parte de sua essência mas dar de si, além da
alegria, não dava.
Noite linda sim, a hipérbole das noites
lindas.
Mas, como há sempre gente difícil de
contentar que nunca está plenamente satisfeita com o que obtém, mesmo se lhe
dão, apesar de a noite estar linda e estar connosco a primeira noite – pela
primeira e única vez – logo alguém se lembrou de chamar-lhe NOITE VELHA e
a resmungar com ela, desejando-lhe que se fosse embora, porque logo que ela se
fosse o NOVO ANO traria um NOVO DIA.
J. Carreto Lages ©2013,Aveiro,Portugal
Há quem dera que viesse um "NOVO DIA", com noites mais ou menos negras, mas despoluído, com lideres reciclados ou não, mas com novas ideias! Como seria bom abandonarmos esta "NOITE VELHA" que não há maneira de nos largar. Claro que não podemos ficar à espera... Penso que aprendemos alguma coisa com o nevoeiro de outros tempos... Não há outra solução: temos que dar a cara e lutar por um NOVO DIA e então teremos fundadas razões para acreditar num NOVO ANO.
ResponderEliminarE dessa força que temos, muitas vezes inconsciente, virá, no clarear de uma qualquer aurora, se conseguirmos dar a mão, a certeza de que MUDAR/EVOLUIR reside tão só, na união!
ResponderEliminarBOM ANO a todos os amigos deste blog.
A Noite Velha não leva consigo, por si só, todos os inconvenientes de um ano que ficou para trás. O NOVO DIA de que fala também não descerá qual D. Sebastião, o eterno Desejado, ou o fazedor de milagres. Nada surgirá sem o nosso esforço e a nossa tenacidade e, nem mesmo esses, se forem isolados, resultarão num Novo Ano. É em conjunto, juntando esforços e dinamizando vontades, que voltaremos a brindar o nascer do dia. Excelente trabalho para começar um NOVO ANO.
ResponderEliminarBela alegoria para a despedida do Ano Velho e o renascer da esperança no Novo Ano. Parabéns ao autor.
ResponderEliminarBom ano para todos.