terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Bullying

Os atos que esta palavra tão esquisita referencia e que só há pouco tempo se tem vindo a ouvir e a falar com frequência, existem desde sempre.
Há muitas maneiras de praticar bullying e nos mais diversos lugares, como, por exemplo, na casa onde se habita, partindo de pessoas de quem menos se está à espera.
Aquelas pessoas que todos pensamos amar o seu próximo, que têm obrigação de defender os mais frágeis, aí reside um dilema grande.
A familia parece unida
Há casas onde a família parece unida, sólida, mas onde existe uma mágoa tão grande, um desconforto e até um medo atroz.
Uma rapariga ainda nova, com a matrícula feita na universidade, ia ingressar no curso que tanto prazer lhe dava. Pois essa menina encantou-se com a conversa de um rapaz bem mais maduro que ela, que já tinha ido à guerra do ultramar, namorou e casou debalde os conselhos da família, nomeadamente do pai.
Foi um desgosto grande que o pai teve, mas se era da vontade dela…não podiam fazer nada. Quando o encanto do casamento passou, essa menina passou a viver um verdadeiro inferno. A bebida era muita o que originava mau estar na família toda. Aos poucos foi passando para as agressões verbais.
Entretanto nasceram os filhos que iam assistindo a todas estas situações.Por muito apoio que a família lhe desse, não compensava a tristeza e o sacrifício que ela passava em casa.

Das agressões verbais vieram as fisicas
Claro que das agressões verbais vieram as físicas. Por muito auxílio que ela pedisse e por muitas participações que ela fizesse à polícia a resposta era sempre a mesma.Não podemos fazer nada; só se o apanharmos em flagrante delito.
Ora era impossível essa situação acontecer, porque as agressões eram feitas dentro de casa.
Os anos foram passando e ele era cada vez mais agressivo; então levava-a para pinhais, tirava-lhe a roupa e deixava-a nua. Havia sempre alguém que lhe acudia, mas ela já não aguentava mais.Com toda a determinação e com muito apoio, resolveu pedir o divórcio. Então, ele tentou situações muito graves, mas aí, já o filho mais velho tinha alguma influência moral e ajudou a mãe a resolver a situação.
Divorciaram-se com muitas turbulências à mistura, ela conseguiu refazer a sua vida. Hoje é uma avó feliz que vive fora do seu país, rodeada dos filhos e netos.
E como este caso, lembro outro.
Uma menina que foi deixada pela mãe, na casa da avó, juntamente com os irmãos, porque andava na estrada, a trabalhar.
Uma menina sem familia
Estas crianças todos os dias iam para uma instituição na carrinha, lá faziam as refeições e lá tinham os seus amigos. De lá iam para a escola. A avó vivia com muitas dificuldades e era na escola ou na outra instituição que estavam atentos àquelas crianças, principalmente à menina.
Entretanto houve um surto de piolhos. Na instituição onde estavam durante o dia tiveram o cuidado de pôr remédio nas cabeças dos meninos.
Qual não foi o nosso espanto quando a Sónia, assim se chamava a menina, no dia a seguir apareceu com o cabelo todo rapado. Ela tinha tanta vergonha que se punha a um canto e não falava com ninguém.
Tentámos falar com ela para compreender a sua solidão. Houve alguém que lhe fez uma touquinha com um lenço bem bonito e nem assim aquela criança, apesar de ter ficado mais contente, se ria.
Aprofundou-se a situação e soubemos, para nossa tristeza, repulsa e indignação, que a criança andava a ser abusada por um tio que vivia lá em casa. Imediatamente a assistente social da instituição se pôs em contacto com várias autoridades e a menina foi para os cuidados de uma instituição bem longe da sua residência.
Mais tarde foram também os irmãozitos para a mesma instituição.
Quando ela vinha cá, ia ter connosco, cheia de orgulho, para nós vermos como ela estava bonita.
Não me lembro se o tio foi castigado, mas às tantas passou despercebido o caso, como tantos outros.
Hoje, a mesma menina é uma senhora casada, é mãe e deve ser feliz, como ela merece.


Júlia Sardo ©2013,Aveiro,Portugal

4 comentários:

  1. Os atos de violência cometidos no seio da família são os que mais nos chocam, os que normalmente se prolongam por mais tempo e que mais danos causam às vítimas - provêm das pessoas de quem deveriam receber afeto. Cabe a cada cidadão estar atento aos sinais de alerta e agir no sentido de reverter a condição da pessoa em sofrimento.

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  2. A violência sobre o ser humano transversal a toda a sociedade é uma realidade que já não pode ser escondida. As histórias multiplicam-se e as vítimas - só elas sabem porquê - continuam a "proteger-se" remetendo-se ao silêncio, a "defender-se" atrás da vergonha e a "persistir" a amores doentios.

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  3. Não à violência!!!
    Punição exemplar para os agressores!!!
    Proteção e acompanhamento efetivos para as vítimas!!!

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  4. A violência esteve sempre associada à natureza do ser humano mas quando ele se exerce sobre o seu semelhante deixa de ser um uma característica e passa a imbecilidade. E quem não punir ou denunciar o agressor é tão imbecil quanto ele. Gostei muito, Julinha!

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