sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Amanhã será NATAL












É urgente que se faça noite
E que as luzes se apaguem!
É urgente calar o ruído e disseminar o silêncio
É urgente instalar a escuridão
E caminhar a passo, devagarinho
Para não cair no fosso sem fundo
E desaparecer no fim do nada.

É urgente instalar o silêncio
E ouvir o passo sibilino da gaivota
Que corta o espaço em voo rasante
E rasga o horizonte
E se entrelaça no adejo picado
Da águia imensa e medonha
Cuja sombra escurece a praça deserta.

Aí ouviremos o tilintar das moedas
E as caixas automáticas
A registarem a vertigem
Dum consumo que se instala
E duma ânsia de adquirir
Que escorrega pelas nossas mãos
E se agarra ao nosso corpo
E não se desprende
Nem se desliga, nem se deslaça.

Onde ficaram os abraços
Os sonhos esquecidos e os sonhados?
Aquele prato de sopa partilhado
Ou aquele sorriso repartido?
Onde paira a magia duma noite de Natal
Em que o calor sabe a mel
E o carinho se multiplica na rua?

Onde ficou o entrelaçar de vozes
E o aconchego do lume da lareira
Cuja dança bruxuleante
Canta o som misterioso
Dum sino que na montanha
É um sinal de esperança?
Onde paira a alegria
Dum recomeço ou dum nascer de dia?

É urgente, sim é urgente
Que cada dia renasça num Natal!

2013/12/23

Albertina Vaz ©2013,Aveiro,Portugal

5 comentários:

  1. É mesmo urgente! Obrigada, Albertina pelo belo poema. Bjs

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  2. O Natal é um forte símbolo da sociedade de consumo em que, quer queiramos, quer não, alimentamos. Individualmente, podemos e devemos contrariar mas acabamos por nos aperceber da nossa impotência. O teu "Amanhã será NATAL" é um poema repto para a mudança tratado como tu muito bem sabes fazer.

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  3. Depois do som da máquina registadora pouco mais houve.
    E eu esperava muito!
    Depois da azáfama eu queria ver braços para abraços.
    E o cansaço instalou-se!
    O Natal de todos, o natal permanente
    É tão urgente que este me emudeceu!
    O teu grito irmanou-me, Albertina!

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  4. Na realidade vivemos numa sociedade de consumo e os valores com que fomos criados e educados cada vez mais longinquos. Abre-se a televisão e a preocupação é perguntarem quanto se vai gastar este ano, se gastamos mais ou menos que no ano passado, se já fizémos as compras todas, blá, blá, blá. Para espanto meu ou talvez não, uma criança, talvez com 10 anos, disse que o mais importante era o amor e a reunião familiar.
    Gostei muito do teu alerta Albertina.

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  5. É urgente rejeitar o consumismo, o materialismo...
    É urgente o silêncio para nos reencontrarmos com a beleza da Natureza, para redescobrirmos a alegria na simplicidade, a felicidade num abraço fraterno... Só então será Natal. Belo poema, Albertina!

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