Albertina Vaz
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
Um momento diferente
José
Luís Vaz
Saí de casa, sem carro,
desejoso de caminhar sem destino, espairecer, respirar ar puro, descontrair,
desligar do quotidiano dos noticiários que, quanto mais longos, mais
deprimentes. Começa a ser muito penoso ser uma pessoa minimamente informada.
Notícias, umas a seguir às outras, sempre, sempre, a falar da crise e sempre da
pior forma. Caminhava descontraidamente, saboreando o tempo, que ao tempo não
tinha, para relaxar e desfrutar as coisas mais simples da vida. O silêncio da
natureza, harmonizado, aqui e ali, pelo chilrear de um pássaro que, senhor do
seu bico, faz questão de dizer que, aqui quem “canta” sou eu. Andei bastante, o
suficiente, para me apetecer sentar num dos bancos de um jardim, muito
frequentado por pessoas idosas, que ali deixam passar o tempo que teima em não
parar. Julgava eu, continuar o meu salutar alheamento de tudo e de todos os que
diariamente nos massacram. Mas não. Próximas de mim, num banco ao lado,
conversavam compulsivamente três senhoras, sobre um assunto muito pertinente, a
crise! Arrependido de me ter levantado, disfarcei, passeei um pouco por ali e
voltei a sentar-me. Estava disposto a usufruir de um lugar, pelo qual nada
paguei, para poder assistir a um verdadeiro espectáculo popular que me fazia
recordar o tempo em que a “revista à portuguesa” nos informava e mobilizava
divertindo-nos profundamente.
Com um dito destes, é
evidente, que qualquer um se colava ao assento procurando nada perder dum novo
estilo de abordagem da famigerada crise.
– O quê? Ó Guilhermina, isso
nem parece seu? Então, vive tão perto de um ótimo supermercado, com três
empregados tão simpáticos, e vai andar aí a dar voltas, à procura dos mercados?
– Também digo, ainda se
valesse a pena?
Alboi - o meu bairro
Dores Topete
Hoje estou muito triste,
passei uma vez mais no bairro onde nasci e onde brinquei, no jardim que tantas
e tão boas recordações me deixou. Não pude evitar que uma revolta sem fim
tomasse conta de mim e que este desgosto que sinto me doa como uma dor física
que nos assola e se torna intolerável.

Estou a recordar-me do
anterior mandato da responsabilidade do partido socialista, que foi altamente
recriminado, e muito bem, por ter destruído árvores da nossa cidade.
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
História da Dona Redonda
EVOLUIR agradece este texto para publicação
Lindonor Silveirinha
Quando eu era pequena,
ofereceram-me um livro de histórias, que se chamava Dona Redonda e os seus
fanicos.
A Dona Redonda era mesmo
redonda e a história contava que ela fora um dia por uma ribanceira abaixo e se
desfizera em fanicos, ou seja, dezenas de pequenas donas redondas iguaizinhas a
ela.
A história em si era
muito complicada, até metia um dragão que fazia um barulho horrível e pouco me
lembro dela, a não ser da D. Redonda e dos seus fanicos.
Assim, resolvi escrever
a minha versão da história, como eu acho que ela deveria ser, para que crianças
pequenas a entendam e lhe achem graça. A autora da história original, Virgínia
de Castro e Almeida, que me perdoe, pois não pretendo plagiá-la, nem depreciar
o seu trabalho.
Um sonho
Ontem fui para a cama um pouco mais
cedo que o habitual. Talvez contagiada pelo tempo chuvoso e frio, estava um
tanto ou quanto taciturna e não me apetecia ver TV.
De repente acordei. Olhei para o
relógio da mesinha de cabeceira. Marcava três e um quarto da madrugada. Já
tinha dormido tanto, sono já não tinha e o que iria fazer até de manhã?
Sentei-me e, bem acordada, comecei a sonhar, e regressei à minha meninice.
Eletricidade, gás, água canalizada,
novas tecnologias, partidos políticos, democracia, emigração massiva dos nossos
quadros técnicos, de famílias completas, de jovens e menos jovens, fome,
desemprego? Alguém sabia o que isso era?
domingo, 27 de janeiro de 2013
Eu trabalho!
Albertina Vaz
Eu não, eu trabalho, eu sou … uma
privilegiada!
Ainda é noite e a chuva cai, mas
o dia começa bem cedo e tenho de me apressar. Retiro as crianças à pressa do
sono encurtado, sussurro meias palavras: lavar os dentes, a cara, despir o
pijama, tomar o leite… depressa, depressa, é tarde, já estamos atrasados. A
mochila da escola, o lanche arranjado de véspera e o autocarro que não espera.
Quase dói a pressa com que os
apresso, quase dói o dia que começa!
Um beijo de despedida, um até
logo, um aviso – nada de asneiras – uma promessa – eu logo venho buscar-vos –
uma dúvida – e se não te deixarem, mãe? – uma certeza – vem a avó!
Eles vão, pequeninos e indefesos,
rumo a uma vida que começa, num misto de brincadeira apressada que se desfaz
numa esquina. Deixo de os ver ao cruzar da rua e dou uma corrida. Já lá vem o
autocarro: não posso perdê-lo!
Entro e… descanso! Sabem bem
estes minutos que me conduzem: vejo as luzes que iluminam as montras e as
janelas das casas e dentro delas imagino gente apressada, como eu, que se
prepara para mais um dia de trabalho.
E vejo também aquela fila
interminável de gente que dá a volta ao quarteirão e espera, e desespera à
porta do Centro de Emprego! Já passei vezes sem conta por tudo isso! Mas hoje
não, hoje eu sou uma privilegiada: tenho um emprego!
Sou uma trabalhadora
especializada: tenho uma licenciatura em Comunicação Social, um Mestrado em
Estudos Sociais e um Doutoramento em Respostas Sociológicas ao desenvolvimento.
Fiz um Erasmo na Alemanha, tenho um estágio na Bélgica, um pós-doutoramento na
Holanda.
Etiquetas:
2013,
Albertina Vaz
Local:
Aveiro, Portugal
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Testemunho na 1ª pessoa
Maria Jorge
Na
altura, pedi uma simulação do que seria a minha reforma. Depois de me apresentarem
os cálculos, baseados nas contribuições entregues ao longo de toda uma vida,
fizeram-me diversas advertências: não podia nos cinco anos seguintes trabalhar
para a mesma entidade patronal ou em qualquer empresa onde figurasse o nome da
mesma, quer fosse a tempo parcial ou mesmo grátis; iria sofrer uma penalização
por pedir a minha reforma antecipada e ainda, se prosseguisse com a minha
petição, não poderia voltar atrás.
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Um azar nunca vem só
Maria Jorge
Senão vejamos:
Azar
nº 1 – Em Fevereiro de 2009 deram-me um cachorro
com apenas 2 meses. Peguei nele, olhei e gostei do que estava ali nos meus
braços. Muito dócil, muito brincalhão e, carinhosamente, decidi pôr-lhe o nome
de GASPAR.
O
meu cão, hoje com 4 anos de idade, já adulto e nada arrogante, sabendo as
dificuldades que a dona atravessa, (sim porque o meu cão ouve as notícias e
sabe que a dona é reformada) não é nada exigente, apenas quer comer
atempadamente, banho de vez em quando e diariamente dar o seu passeio
higiénico. Também gosta de receber muita atenção, porque também a dá e até
consegue ler o pensamento da dona quando está menos bem.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
CASAS MORTAS
EVOLUIR agradece este texto para publicação
Graciete Manangão
Na minha aldeia há mais casas mortas do que casas vivas.
Numa casa “viva”, há
vida durante 24 horas. Em todos os segundos que compõem o dia de quem nela
habita.
Vida fervilhando,
construindo ou destruindo, amando ou odiando, ora latente ora activa, vida
projectada ou adiada.
É urgente abrir portas,
abrir caminhos, desvendar corpos e almas.
É urgente viver,
abrigar corpos e almas.
Não quero ver mais
casas mortas.
Quero adiar a morte.Queremos ressuscitar as casas mortas.
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
O PESO DA SOLIDÃO - CARTA A UMA AMIGA
Dores Topete
Olá Lígia
Há tanto tempo que não te
escrevo, aliás, parece que a escrita está cada vez mais em desuso, o nosso último
contacto foi pelo telefone e já lá vão uns meses. Espero que tu e a tua família
continuem bem.
Hoje quero escrever-te porque
sinto que ao fazê-lo, vou poder extravasar tudo o que me vai na alma, e só
contigo o posso fazer, não só porque és a minha melhor amiga, mas também porque
sempre me aconselhaste bem, eu é que infelizmente nem sempre te dei ouvidos.
Por isso, agora, que a minha vida
vai levar uma reviravolta, és tu a pessoa a quem quero contar, porque sempre
viste o que eu nunca quis ver e, por isso, sofri e paguei caro a minha
cegueira.
Estou a recordar a minha vida, a
infância maravilhosa que tive, filha e neta única, vivi sempre rodeada de amor
e carinho, tive muitos amigos, brinquei, estudei e namorei, e tu foste a amiga
que me acompanhou desde sempre.
Como tudo na vida tem um fim, a
minha felicidade acabou, precisamente quando acreditei que iria ser completa. Enamorei-me da pessoa errada,
acabei grávida e viúva sem sequer ter casado. O Ernesto foi na minha vida um
pesadelo, não só porque foi um ser humano mal formado, que me enganou, me
engravidou, me mentiu, mas também porque não aceitou a minha gravidez, e acabou
por morrer vítima de um acidente em consequência das noitadas tresloucadas que
fazia com os amigos, antes mesmo de ter tempo para reconhecer o filho.
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