Maria José Pereira
Era eu ainda bastante pequeno e já a minha
mãe dizia:
– Anda lá, Jaquim, que não é na cama que se
arranja plim-plim!
Pouco fui à escola. Também não conseguia
aprender grande coisa.
A minha mãe via mesmo mal. Usava uns óculos
muito graduados. Era uma autêntica " caixa de óculos".
A minha mãe tinha mais filhos, os meus
irmãos, mas ela não lhes dizia: "Anda lá Jaquim, que não é na cama que se
arranja plim-plim!"
![]() |
"Anda lá Jaquim..." |
Eu acho que a minha mãe descobriu em mim este
talento para arranjar plim-plim.
Quando já era mais crescidito, comecei a ir
para a cidade, que era o sítio onde andavam mais pessoas nas ruas. Acho que a
minha mãe percebeu isso.
A minha mãe andava sempre triste. Devia ser
por causa do meu pai. Ele bebia uns copos a mais e quando chegava a casa era
uma grande confusão!
E lá
ia o Jaquim, todos os dias, para a cidade, para arranjar plim-plim, para a mãe
não ficar zangada. É que ela zangava-se, mesmo, se eu não aparecesse, em casa,
com o plim-plim!
Depois de muitos anos a pedir esmola, comecei
a observar os polícias de trânsito e pensei: Vou arranjar um apito e um livro
de passar multas.
Assim fiz.
Fui para um sítio onde passavam muitos
carros, apitava, fazia de conta que passava multas e o certo é que ia
conseguindo algum plim-plim. Todos os dias entregava plim-plim à minha mãe.