Maria Celeste Salgueiro
Era o dia nacional da POESIA. Acordei feliz, disposta a
tirar o melhor partido da data e tentar encontrar a POESIA nas mais pequenas
coisas.
O dia estava lindo, o sol brilhava radioso num céu sem nuvens
e tudo parecia perfeito. Deixei os meus problemas fechados numa gaveta, e, de
cabeça liberta, lancei-me para a rua, caneta e lápis na mão para poder anotar
tudo o que me chamasse a atenção.
Comecei a procurar. A cidade estava um caos, as ruas em
confusão, só buracos, pedras soltas, só poeira à minha frente. Onde é que
estava a POESIA? Devia estar escondida ou mesmo até soterrada com tanta obra
pendente. Fui ao jardim onde o verde transbordava em profusão. Porém só
desolação havia naquele espaço com as flores a definhar e o lago escuro e baço.
Onde é que estava a POESIA que não a podia achar?
Meti-me no turbilhão de ruas a abarrotar de gente muito
apressada e carros sempre a
apitar. Então vi uma criança de boné e de sacola
que regressava da escola muito contente a cantar. Pegou-me logo na mão e
seguimos devagar, lado a lado a conversar.
...nos olhos de uma criança encontrei-a nesse dia! |
Vês estas folhas no chão? Fazem música ao calcar. Olha o
sol a rebrilhar no lago do meu castelo e os cavaleiros em volta. Já viste um
quadro mais belo? Olhei para o chão pasmada. O lago era água parada, baça,
escura, sem ter nada. O castelo era uma pedra e os cavaleiros formigas! Reparei
no seu olhar: era azul , todo candura. Vi dentro o céu e o mar e o sol nele a
sorrir.
E eu que perdera a esperança de descobrir a POESIA, nos
olhos duma criança encontrei-a nesse dia!
Maria Celeste Salgueiro ©2015,Aveiro,Portugal
Pois: poesia é a transfiguração do real para lhe dar estatura HUMANA!
ResponderEliminarProcurar o inimaginável quando afinal basta olhar por perto e ver o que por vezes nos passa ao lado
ResponderEliminarE que bem soube exprimir essa poesia!
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