Que linda a foca criança de pelugem branca, fica-lhe o
vermelho cor sangue tão mal. E o cavalo, negro, castanho, malhado, tantos
filmes, tanto espectáculo, e o burro de carga, a mula
da cooperativa, tanta
história, tanta estrada.
A foca criança |
Senhores, como me apraz o elevar da suricata, atenta,
sagaz a qualquer predador atrevido que queira entrar no seu dominar, debaixo da
terra, a sua família secreta. Lá ao longe, uma explosão de pó atravessa o
horizonte, búfalos, bisontes, manadas a deixar para trás terra calcada à procura
de outra morada, uns ficam outros seguem, envolvidos numa nuvem de força unida.
Porém tenho medo do tubarão branco, da baleia
assassina, da enorme anaconda, e da peluda tarântula, patuda, gorducha, silenciosa,
até me arrepio agora. E toda esta macacada faz-me lembrar do macaco piolhudo,
então o narigudo é uma mossa, o malandro. Porém, o gorila que eu amo canta o
fado, já quase sem ninguém, valha-lhe o Godzilla e a loira na mão, e quem já os
olhou nos olhos, eu já, na televisão, sentem a (des) emoção de testemunhar uma
futura memória.
Porquê o fado, pergunta o pequeno, no gorila e no resto da
turma, chama-se extinção, pela expansão, ambição, maldade e muita transgressão,
dos outros. Digo-te quem no final. Agora os animais fogem, todos, e não há Arca
de Noé, vão e outros ficam, porque chora o elefante junto à cria infinitamente,
é comovente, parecem-se a nós. Quem sabe não andam em conversações os dragões
que habitam numa ilha da Indonésia, os leões reis da selva, e o Nessie, vale
tudo, combinando uma invasão, quem sabe uma revolução, não, claro que não.
Seria um mundo ao contrário, claro que não. O mundo certo é assim: nós vemos os
animais, que são maravilhosos, depois vemos os assassinos, que é um horror, e
depois a nós, todos juntos envoltos num fedor de culpa que agora não interessa
para nada.
O que são inocentes? |
Não há inocentes, diz o panda da sua árvore. O que são
inocentes, pergunta o panda engraçado. Não é nada, dorme, diz a mãe canguru à
sua cria dentro da sua bolsa protegida, escondida.
Não é nada dorme, animal.
Não é nada dorme, filho.
Parece igual, não é.
Corram muito, os que vos amam não chega, seria preciso
virar o mundo ao contrário, ninguém tem força, só a natureza. Vão, durante a
noite enquanto o cérebro dorme, vão.
Ficará aqui alguém que nos travará, o cão e o gato, o
periquito e o pato. Esperarão
eternamente pelo seu dono, pelas suas pernas,
pelo seu colo, pelo seu falar parvo e doce, mesmo que não venha, que nunca
venha, ou que fique esquecido por outro interesse qualquer, eles esperarão,
sempre, com o mesmo amor, sem julgar, exigir, magoar, amarão (a nós) até ao
último fechar de olhos.
Seria um mundo ao contrário... |
Meu Deus, que alegria a minha, que no meio da minha
hipocrisia, te agradeço por não lhes teres tu dado um cérebro. Só corpo e alma.
O homem e os animais.
Racional.
Irracional.
Qual deles é, sabes tu dizer?
Albertina Silva Monteiro ©2014,Aveiro,Portugal
Na realidade o homem não é, não foi nem nunca será o detentor da verdade plena, se é que ela existe realmente. Assim mesmo não será também o único ser racional à face da terra até porque no comportamento animal há ainda muito por desvendar. Agora, aquilo de que não podemos duvidar é que os seres humanos são capazes do melhor e do pior dentro de uma dimensão que rasga universos e delimita verdades. Este é um trabalho, como todos os que já conhecemos da Albertina, cheio de uma força que nos faz parar e deglutir, palavra a palavra, cada frase que se enredeia num conceito de homem humano e homem animal. Excelente, Albertina, gostei mesmo muito.
ResponderEliminar"Não há inocentes", mas, como muito bem sugere o texto, há vítimas da irracionalidade que o homem está a imprimir à sua relação com os animais.
ResponderEliminar"Qual deles é, sabes tu dizer?" Como se a maravilha, a magia e a beleza não fossem suficientes na elaboração deste texto está-lhe subjacente a inteligência que nos obriga a pensar ou preferencialmente repensar conceitos de tudo e de todos.
ResponderEliminarDesfilam, perante os nossos olhos, as mais variadas espécies zoológicas. O mundo animal (irracional?), sem "cérebro", mas com "alma", a confrontar o homem (racional?) com a sua irracionalidade. Um texto a impor uma profunda reflexão sobre a relação do homem (com cérebro) com os outros animais, com a natureza. Gostei muito, Albertina.
ResponderEliminarGrandioso texto para se ler, reler e refletir. Qual o futuro da humanidade? Para onde caminhamos?
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