sábado, 2 de novembro de 2013

A Rainha Santa Isabel e o milagre das rosas

EVOLUIR agradece ao autor o envio deste texto para publicação

Lindonor Silveirinha


El-Rei D.Dinis e Isabel de Aragão

Sabendo como El-rei D. Dinis, seu marido, não gostava que andasse no meio de andrajosos que a procuravam para pedir esmola, Isabel de Aragão fazia-o quando o rei se encontrava ausente em batalhas. Mas um dia, quando distribuía pão e moedas, foi surpreendida em    “ flagrante delito” e,  atrapalhada, resolveu mentir.
À pergunta: “ Que levais no vosso manto, senhora?”. Isabel respondeu: “São rosas, meu senhor, são rosas ”e, segundo a lenda, o milagre deu-se. A rainha abriu o manto e as rosas espalharam-se pelo chão.
"São rosas, meu Senhor!"

Esta lenda, tão bem conhecida de todos, merece alguma reflexão.
Em primeiro lugar a submissão da rainha à vontade masculina, mas que escondia uma subtil desobediência. Em segundo lugar a “mentira piedosa” que foi premiada em vez de castigada.
Como havemos de interpretar estes acontecimentos?
Talvez por se sentir oprimida e desrespeitada pelo marido que a traía e que até entrou em guerra com o filho, a rainha, que nós conhecemos como Santa, resolveu abrir, em Lisboa, um abrigo para mulheres mal tratadas. Foi o primeiro. Que pena que, passados seis séculos,  ainda sejam necessários e continuem a acontecer mortes de mulheres que são também mães. Quando é que os homens se convencerão que a mulher é o seu complemento e vice-versa?
Quanto à “mentira piedosa” também há algo a dizer. Segundo a nossa religião, mentir é pecado e, neste caso, embora fosse um pecado venial, ele foi premiado. Isabel de Aragão conseguiu sossegar o marido e acalmar o seu coração aflito. Mas, afinal, ela tinha feito uma boa acção e, foi isso, o que Deus premiou, esquecendo a pequena mentira que não prejudicara ninguém.
Era preciso fazer alguma coisa por aqueles pobres e , a Rainha, não hesitou, mesmo contrariando a ordem régia. 

7 comentários:

  1. Esta historia para além de nos recordar que a violência doméstica contra as mulheres já vem de muito longa data e que não vemos indícios de terminar, infelizmente, diz-nos ainda que mentir por uma boa causa, pode ser uma atitude não condenável.
    Obrigada por mais este belo texto Lindonor.

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  2. Texto surpreendente pela projeção do passado no presente. As lendas podem ser muito fecundas, quando lidas com olhos de humanização, como é o caso.

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  3. Quem dera que os governantes deste país lessem este blogue!

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  4. Gostei muito deste texto. Como a Rainha Santa soube tão bem dar a volta ao rei. As mulheres são muito espertas; só é pena que as que estão sentadas no governo o não sejam.

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  5. Há mentiras e mentiras... esta foi a única forma de Isabel de Aragão alterar o rumo da história. Nos dias que correm porém estamos a habituar-nos a encarar como verdade a mentira que soubemos ontem e a que vamos saber amanhã. Se calhar o que deixou de existir foi a verdade! Obrigado Lindonor por me ter obrigado a pensar nestas "verdades" que todos os dias nos cheiram a mentira.

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  6. Este texto faz-me recuar ao passado e como, comparativamente, passados alguns séculos continua tão atual. Continuamos a ter "reis" que nos dias de hoje apesar de terem sido eleitos pelo povo, sem mentiras piedosas, cometem as maiores barbaridades e atrocidades em nome do bem estar desse mesmo povo. Obrigada Lindonor por, uma vez mais, me "fazer" pensar nos dias de hoje e o que teremos no amanhã.

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  7. Boa reflexão sobre este episódio da nossa história longínqua. A prepotência do rei, o autoritarismo do marido ou companheiro atual... À Rainha Santa valeu-lhe o milagre, no momento certo. Será que teremos de esperar por um milagre que salve as vítimas de violência doméstica?

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