Ester Rocha Martins
Já
a chuva refrescou o monte,
Verdeja
a terra transmontana,
O
largo é uma imensidão de lama.
E a carga lá se vai. |
Aqui
apronta-se a burra,
A
fiel acompanhante,
Carrega
a mala de emigrante,
E
alguns livros à mistura.
Seis
ou sete Km de caminhada,
O
mesmo ritual,
Sempre
igual.
Na
lama, uma pata, outra pata,
E
uma pata que não sai!...
Sopica
e cai…
E
a carga lá se vai.
Transborda
o largo de ciência,
E
eu de euforia.
Revejo
a casa branca com carinho,
Guardo
da minha mãe o sorriso,
E
do cão o último latido.
O
meu pai recolhe por inteiro
a
estranha sementeira
Vamos,
o comboio chega à tabela.
Olho
ainda a última janela…
Assim
parti.
Dos
montes para Coimbra,
Numa
manhã muito fria,
Com
a amarga companhia
Dos
livros … e da lama
Ester Rocha Martins ©2015,Aveiro,Portugal
Evoluir saúda mais uma autora que se quis associar a este projeto. Uma memória de viagens, quando viajar era uma odisseia, ou a história de uma partida que se não queria.
ResponderEliminarHoje, ao recordarmos as vivências de outrora, tudo nos parece uma odisseia, uma verdadeira aventura. E quando encontrávamos o nosso ponto de chegada era o descanso do guerreiro. Podem tirar-nos tudo, mas a riqueza da Universidade da Vida, NÃO.
ResponderEliminarGostei muito e obrigada.
As atribulações duma viagem contadas através dum texto com ritmo, musicalidade, leveza e humor subtil.
ResponderEliminarAs "origens" de cada um marcam e persistem com saudade ao longo da vida.
ResponderEliminar(continuando)
EliminarComo a lama que atrapalha uma e outra pata da mula se mistura com o sorriso da mãe, com a casa branca, com o latido do cão e com as labutas do pai...Da amálgama resultou um texto rico e agradável.
E assim se parte dum lugar onde se fica toda a vida!
A descrição da jovem que parte para os seus estudos em Coimbra, reporta-me às minhas viagens, noutras andanças, da minha juventude.
ResponderEliminarAs coisas simples da vida são a força da poesia.
ResponderEliminarUm lindo poema que me conseguiu transportar para outra época e uma realidade diferente da minha.
ResponderEliminarA Maria de Lurdes Brito Afonso enviou-nos por email este comentário que agradecemos e queremos publicar aqui.
ResponderEliminar"Conheço a Ester há tantos anos e sei da qualidade da escrita dela, pelo que me congratulo duplamente, como amiga e como leitora do Evoluir!.
Abraceijo"
É também porque a conheço bem que senti a força das palavras com que construiu este poema. Bem pode ser a história de muitos transmontanos que tiveram que deixar para trás uma terra que nos prende pela dureza, mas também por sentimentos fortes e muito belos.
ResponderEliminarSurpreendeu (me), agradou (me)...
ResponderEliminarA vida toda a agarrar o presente...
Ou o presente a agarrar a vida toda!
Gostei,Ester