Estamos a publicar textos subordinados à temática
AMIGOS e AMIZADE. Colabore e remeta-nos o seu texto ou poema inédito para
publicação. Ouse! A diversidade fortalece a amizade.
Maria Jorge
Depois
dum inverno tão rigoroso, o dia amanheceu primaveril e uma ida até à praia para
fazer uma caminhada pela areia molhada estava mesmo a apetecer-me. Uma leve
brisa sacudia-me os cabelos, assim como o pensamento. Tirei a trela ao meu cão.
Também ele, com toda a certeza, gostaria de se presentear com esta aragem, e
esticar um pouco as patas, e dar asas à sua imaginação e criatividade.
Um passeio pela praia |
Especialmente
nestes dias, um passeio pela praia dá-me muita paz e tranquilidade e a paisagem
convida-me sempre a uma reflexão. Olhei ao meu redor, muito poucas pessoas,
talvez as mais aventureiras, já de fato de banho iam aproveitando os ainda
fracos raios solares, outras, principalmente homens e rapazes, no seu
passatempo favorito, jogando à bola, e outras ainda, tal como eu, de fato de
treino e ténis nas mãos deambulando pelas areias, secas ou molhadas, caminhando
por onde lhes desse mais prazer. As gaivotas também nos faziam companhia, sinal
que havia peixe por perto, contrariando o ditado “gaivotas em terra, tempestade
no mar”. Procurei areia seca para me sentar um pouco. Contemplei até onde a
minha vista alcançou a imensidão desse mar tão relaxante quanto perigoso e
fixei o meu olhar no vaivém das ondas, ora se afastando, ora se aproximando de
mim.
Curiosamente
dei por mim a pensar em todas as pessoas que já passaram ou ainda estão
presentes na minha vida. Na família, que, como qualquer ser humano, não a
escolhemos, mas é aquela que temos que, com todos os seus defeitos e virtudes, fazemos
parte dela e ela de nós. Fomos aprendendo ao longo da vida a amá-la e a respeitá-la,
mas, infelizmente, já desapareceram quase todos e quanta falta me fazem! Nos
amigos que, esses sim, posso escolher, mas nem sempre o fiz ou faço da melhor
maneira.
A família não se escolhe |
Também surgiu o pensamento sobre o quanto as novas tecnologias fizeram
com que a palavra amizade fosse tão banalizada. Hoje é muito fácil dizer-se que
temos não sei quantas amizades quer neste sítio, quer naquele, só porque um dia
alguém se lembrou de nos pedir amizade e, a partir daí, somos todos amigos, sem
nunca termos dado um olá mesmo através das teclas. Lembrei-me igualmente das
pessoas com quem, ocasionalmente e por uma razão qualquer, nos termos cruzado
algumas vezes e temos falado só banalidades para não estarmos calados, e delas
dizemos que são nossos amigos. Tal qual as ondas do mar, também essas pessoas
vieram e desapareceram das nossas vidas.
Há aquelas pessoas... |
Mas
há aquelas pessoas que fazem parte da nossa vida e nos acompanham, não
necessariamente há muitos anos, e que temos a certeza que nos acompanharão até
ao resto dos nossos dias. Aquelas pessoas com as quais não é preciso falarmos
todos os dias, de quem não sentimos a falta de ouvirmos dizer constantemente
que gostam de nós, mas sabemos que, quando precisamos, estão presentes.
Essas
mesmas pessoas que, mesmo vivendo afastadas territorialmente, apenas com um
telefonema já sabem reconhecer pela nossa voz que não estamos bem, que
precisamos duma palavra amiga, de conforto. Essa mesma voz que nos diz: Tu hoje
não estás bem, que se passa? Pessoas que não se impõem, mas que respeitam a
nossa maneira de ser, o nosso modo de vida e que nos dão conselhos e aliviam a
nossa dor interior; pessoas que temos a certeza que, se precisarmos de um
auxílio material ou físico, estão presentes; aquelas pessoas que, desde os
bancos da escola primária, muito embora com percursos de vida diferentes, nos
acompanham.
O meu amigo Gaspar |
E
comecei a enumerar os meus verdadeiros amigos. Absorta nestes pensamentos,
comecei a ser lambida pelo meu cão, como que a dizer-me que o meu tempo tinha
acabado.
O
dia estava lindo, pude relaxar, uma paz interior tinha-se apoderado de mim,
estava bem comigo própria e no regresso a casa, tenho a certeza que, apesar de
poucas, muito poucas, tenho pessoas verdadeiramente amigas.
Valeu
a pena o passeio até à praia.
Um belo texto que aborda um tema bem oportuno.
ResponderEliminarO mar tem este poder de nos fazer sentir parte inteira da Natureza.
ResponderEliminarE a Maria teve a sabedoria de chamar os AMIGOS: então, viveu um momento de plenitude.
Uma abordagem repleta de realismo com os pés bem colados ao chão. Se pretendemos fazer da nossa vida um percurso sério com os outros teremos que começar pelo ser com nós próprios. Os desejos não podem passar a convicções por mera superficialidade. É ótimo conhecer, gostar e ter prazer de conviver com as pessoas. Isso é um sinal de vida. A amizade, também para mim, não se fica por aí, mas pode e deve iniciar-se aí. Ótima reflexão partilhada com coragem.
ResponderEliminarconhecidos, amigos, amigos verdadeiros, amigos falsos, amigos de infância, fiéis amigos, amigos virtuais, amigos chegados, amigos íntimos e até amigos "coloridos"...
ResponderEliminartodos eles fazem parte das nossas vidas, maria, neste mundo global da comunicação, e não só entre os humanos.
Uma escrita clássica, a deslizar em ritmo fluente numa doce inspiração das virtualidades de uma manhã ao longo do aroma da quebra das ondas, acompanhada do amigo sem exigir contrapartidas. Ao ler estamos a ver o espelho retratado na ação. Parabéns!
ResponderEliminarUm texto fluente com cheiro a maresia a espelhar a sensibilidade da autora. Concordo consigo, Maria. Que sensação de conforto nos transmite o facto de sentirmos que podemos contar com os nossos amigos de sempre. Mas muito importantes são também os amigos de infância, que permanecerão indelevelmente ligados ao nosso imaginário, mais vivo e significativo à medida que o tempo nos vai distanciando cada vez mais das vivências que partilhámos; os que encontramos esporadicamente, mas que sempre nos brindam com um cumprimento de inequívoca satisfação e até aqueles desconhecidos, que casual e irrepetidamente, nos mimam com gestos de bondade, generosidade ou simples delicadeza.
ResponderEliminarLindo texto, Maria. Então acompanhada do teu Gaspar, ainda melhor. Foi um verdadeiro desfiar de recordações de amigos e daqueles que se pensam ser amigos. Gostei muito do teu texto.
ResponderEliminarEste é um trabalho que me fez sorrir com uma certa ternura no olhar: é que eu sei que pertenço à terceira foto e isso enche-me de um orgulho enormíssimo. Se um dia voltasse a ter uma irmã acho que gostaria que ela se chamasse Maria: é que ninguém como tu sabe sentir as palavras e transmitir esse sentimento duma forma tão empenhada e tão feliz. Esse passeio à beira mar foi perfeito: deu para tudo, até para escrever um lindo texto sobre AMIGOS e AMIZADE
ResponderEliminarMaria, ao ler o teu texto, senti-me também eu transportada até à praia. É realmente um local onde podemos sonhar acordados e reviver toda a nossa história.
ResponderEliminarFizeste um trabalho muito realista sobre a amizade.
Este comentário foi removido pelo autor.
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