quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

UM CONTO DE NATAL

Idalinda Pereira

Sofia, nascida num palacete, rodeada de criados e de todas as mordomias, sem irmãos para partilhar, sentia-se triste por não ter amigos com quem brincar.

Quando um dia estava no seu jardim, desfolhando um malmequer, vê passar na rua um miúdo mal vestido e de sapatilhas rotas, mas, nos seus olhos, havia um brilho que pareciam duas estrelinhas… E Sofia, a quem nada era negado, convidou-o para entrar no seu jardim. O garoto aceitou e os dois deliciaram-se com as brincadeiras inventadas e impregnadas de travessuras.

- Como te chamas? - perguntou Sofia.
- Chamo-me João - respondeu o miúdo.
- Onde moras?
- Não tenho casa.
- Então onde dormes?
- O dono da quinta tem uma cabana onde dorme uma vaca, um burro e algumas ovelhas. Durmo no meio delas, que vigiam o meu sono e me aquecem.

Sofia ficou triste por o seu amigo ser tão pobre.
- O Natal está a chegar, vais ter prendas? - perguntou Sofia.
- Nunca tenho prendas - respondeu João.
Ouvem-se as três pancadas do sino da torre. João despede-se da sua amiga e vai caminhando por entre as árvores nascidas e plantadas ao acaso, em direcção ao seu aconchego.


Em casa da Sofia, já se ouve o tilintar dos copos, o cheiro a peru assado e os convidados a chegar. Ouve-se o som da campainha de prata. É hora da distribuição das prendas. Sofia recebe todas as prendas que mencionou na carta escrita ao Pai Natal e fica muito feliz, mas, de repente, o seu bondoso coração é invadido por uma grande tristeza por saber que o seu amigo não tem a mesma sorte! Após o jantar, e num surto de coragem, sai, pé ante pé, pela calada da noite, para levar algumas das suas prendas ao amigo.

Estava escuro como breu, sentiu medo… Mas nada a deteve. Ao longe, na floresta, uma estrela apareceu vindo na sua direcção. Sofia já conhecia aquele brilho e não fez mais do que segui-lo. Neste instante, apareceram três homens, de coroa na cabeça e um manto a arrastar pelo chão. Sofia assustou-se! Não tenhas medo, disseram. Nós seguimos aquela estrela, eu também - respondeu Sofia. De repente, a estrela desce e, na sua frente, estava o João juntinho aos seus protectores. Sofia ficou enternecida com tanta beleza dentro daquele cenário tão despido. Pousou os seus presentes junto aos pés de João e voltou a ver nos seus olhos aquele brilho tão forte que a deixou extasiada… Sofia nem queria acreditar no que estava a acontecer!

Uma lágrima soltou-se dos olhos envoltos em palha e transformou-se em milhões e milhões de estrelas, que se espalharam no Céu. Todos ficaram boquiabertos e quiseram segui-las!
Os reis queriam acompanhar os corpos celestes mas sentiam-se já cansados, tinham feito um grande esforço ao seguir a estrela maior.

João estava estupefacto com o que via em seu redor. Em consonância com Sofia, deram as mãos caminhando e, saltitando, seguiram as estrelas. Mas qual o seu espanto - as estrelas, uma após outra, caíam docemente no jardim de Sofia, onde tudo havia começado.
O jardim ficou tão iluminado que os pais, tios, primos e avós, acabados de chegar da Missa do Galo, acorreram ao local ficando deslumbrados com todo o cenário!
A governanta Domingas com o seu fato domingueiro acompanhou os vizinhos que não ficaram indiferentes assim como toda a comunidade que também quis fazer parte.
Sofia e João estavam tão felizes que começaram a saltar e a dançar, em grande rodopio, tocando uma estrela aqui, outra acolá e todos se juntaram, nessa valsa de luz, até que seus corações o permitissem.

Sofia e João estavam delirantes por despoletarem em toda a comunidade o sentido do Natal, da Amizade e do Amor Fraternal.



Idalinda Pereira ©2015,Aveiro,Portugal

5 comentários:

  1. Gostei muito do conto.
    Feliz 2016
    um beijinho
    Gábi

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  2. Belo conto de Natal. Que saudades dos meus tempos de criança em que era permitido quase tudo até acreditarmos em bonitas histórias de natal tal como esta. Gostava de ser criança novamente. Gostei muito

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  3. De Pereira recebemos a seguinte mensagem:
    "Fogo-Terra-Ar-Água. Elementos essenciais para que possa existir vida. Todos os nascituros têm os mesmos direitos. Porquê tantas diferenças? Este conto mostra-nos que é possível mudar desde que o coração humano esteja aberto ao amor, aos afetos e à partilha. Obrigado Albertina."

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  4. Quem de nós não viveu contos de Natal...com todos os ingredientes: carta ao Menino Jesus, nervosismo e atividade, deliciosamente, desenvolvidos por um artífice nestas lides(ainda hoje recordo com a saudade que nunca se vai "o meu parrinho"), vigilâncias às chaminés e tantas outras "mentiras" que nos faziam sonhar! A tradição já não é o que era, mas acredito que se o Mundo fosse à imagem e semelhança da ingenuidade e sentido de justiça das crianças, seria, obviamente, melhor. Bem vinda ao Evoluir, Idalinda.

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  5. A Idalinda não é propriamente uma autora desconhecida para os seguidores do Evoluir mas é a primeira vez que divulga os seus trabalhos neste blogue. Que sejas bem vinda, Idalina e que faças desta a tua casa para a publicação dos teus trabalhos.

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