Idalinda Pereira
Sofia,
nascida num palacete, rodeada de criados e de todas as mordomias, sem irmãos
para partilhar, sentia-se triste por não ter amigos com quem brincar.
Quando
um dia estava no seu jardim, desfolhando um malmequer, vê passar na rua um
miúdo mal vestido e de sapatilhas rotas, mas, nos seus olhos, havia um brilho
que pareciam duas estrelinhas… E Sofia, a quem nada era negado, convidou-o para
entrar no seu jardim. O garoto aceitou e os dois deliciaram-se com as
brincadeiras inventadas e impregnadas de travessuras.
- Como te chamas? - perguntou Sofia.
- Chamo-me João - respondeu o miúdo.
- Onde moras?
- Não tenho casa.
- Então onde dormes?
- O dono da quinta tem uma
cabana onde dorme uma vaca, um burro e algumas ovelhas. Durmo no meio delas,
que vigiam o meu sono e me aquecem.
Sofia
ficou triste por o seu amigo ser tão pobre.
- O Natal está a chegar, vais
ter prendas? - perguntou
Sofia.
- Nunca tenho prendas - respondeu João.
Ouvem-se
as três pancadas do sino da torre. João despede-se da sua amiga e vai
caminhando por entre as árvores nascidas e plantadas ao acaso, em direcção ao
seu aconchego.
Em
casa da Sofia, já se ouve o tilintar dos copos, o cheiro a peru assado e os
convidados a chegar. Ouve-se o som da campainha de prata. É hora da
distribuição das prendas. Sofia recebe todas as prendas que mencionou na carta
escrita ao Pai Natal e fica muito feliz, mas, de repente, o seu bondoso coração
é invadido por uma grande tristeza por saber que o seu amigo não tem a mesma
sorte! Após o jantar, e num surto de coragem, sai, pé ante pé, pela calada da
noite, para levar algumas das suas prendas ao amigo.
Estava
escuro como breu, sentiu medo… Mas nada a deteve. Ao longe, na floresta, uma
estrela apareceu vindo na sua direcção. Sofia já conhecia aquele brilho e não
fez mais do que segui-lo. Neste instante, apareceram três homens, de coroa na
cabeça e um manto a arrastar pelo chão. Sofia assustou-se! Não tenhas medo, disseram.
Nós seguimos aquela estrela, eu também - respondeu
Sofia. De repente, a estrela desce e, na sua frente, estava o João juntinho aos
seus protectores. Sofia ficou enternecida com tanta beleza dentro daquele
cenário tão despido. Pousou os seus presentes junto aos pés de João e voltou a
ver nos seus olhos aquele brilho tão forte que a deixou extasiada… Sofia nem
queria acreditar no que estava a acontecer!
Uma
lágrima soltou-se dos olhos envoltos em palha e transformou-se em milhões e
milhões de estrelas, que se espalharam no Céu. Todos ficaram boquiabertos e quiseram
segui-las!
Os
reis queriam acompanhar os corpos celestes mas sentiam-se já cansados, tinham
feito um grande esforço ao seguir a estrela maior.
João
estava estupefacto com o que via em seu redor. Em consonância com Sofia, deram
as mãos caminhando e, saltitando, seguiram as estrelas. Mas qual o seu espanto - as estrelas, uma após outra,
caíam docemente no jardim de Sofia, onde tudo havia começado.
O
jardim ficou tão iluminado que os pais, tios, primos e avós, acabados de chegar
da Missa do Galo, acorreram ao local ficando deslumbrados com todo o cenário!
A
governanta Domingas com o seu fato domingueiro acompanhou os vizinhos que não
ficaram indiferentes assim como toda a comunidade que também quis fazer parte.
Sofia
e João estavam tão felizes que começaram a saltar e a dançar, em grande rodopio,
tocando uma estrela aqui, outra acolá e todos se juntaram, nessa valsa de luz,
até que seus corações o permitissem.
Sofia
e João estavam delirantes por despoletarem em toda a comunidade o sentido do
Natal, da Amizade e do Amor Fraternal.
Idalinda Pereira ©2015,Aveiro,Portugal
Gostei muito do conto.
ResponderEliminarFeliz 2016
um beijinho
Gábi
Belo conto de Natal. Que saudades dos meus tempos de criança em que era permitido quase tudo até acreditarmos em bonitas histórias de natal tal como esta. Gostava de ser criança novamente. Gostei muito
ResponderEliminarDe Pereira recebemos a seguinte mensagem:
ResponderEliminar"Fogo-Terra-Ar-Água. Elementos essenciais para que possa existir vida. Todos os nascituros têm os mesmos direitos. Porquê tantas diferenças? Este conto mostra-nos que é possível mudar desde que o coração humano esteja aberto ao amor, aos afetos e à partilha. Obrigado Albertina."
Quem de nós não viveu contos de Natal...com todos os ingredientes: carta ao Menino Jesus, nervosismo e atividade, deliciosamente, desenvolvidos por um artífice nestas lides(ainda hoje recordo com a saudade que nunca se vai "o meu parrinho"), vigilâncias às chaminés e tantas outras "mentiras" que nos faziam sonhar! A tradição já não é o que era, mas acredito que se o Mundo fosse à imagem e semelhança da ingenuidade e sentido de justiça das crianças, seria, obviamente, melhor. Bem vinda ao Evoluir, Idalinda.
ResponderEliminarA Idalinda não é propriamente uma autora desconhecida para os seguidores do Evoluir mas é a primeira vez que divulga os seus trabalhos neste blogue. Que sejas bem vinda, Idalina e que faças desta a tua casa para a publicação dos teus trabalhos.
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