Maria Jorge
A
minha cidade é linda. Banhada por uma ria extensíssima, tem uma igreja matriz,
capelas e capelinhas; tem cemitério, lar da terceira idade e um centro de saúde;
tem escolas,
infantários e escolinhas; tem marina para os barcos de recreio e de
pesca; tem terrenos pequenos e grandes de cultivo, uns bem cuidados, outros ao
abandono; tem supermercados e lojas, muitas lojas do comércio tradicional, umas
já fechadas e outras em vias de fechar; tem espaços verdes, que na sua maioria,
servem de casa de banho aos animais de estimação; tem empresas que, cada vez mais,
empregam menos pessoas; tem avenidas, praças, pracetas e ruas: pequenas,
grandes, particulares, com buracos, sem buracos, umas com os dois sentidos e
outras com sentido único; tem prédios, casas para ricos e pobres, antigas e
modernas: pequenas, grandes e mansões, umas ocupadas, outras a terem vida e
movimento de vez em quando e outras ainda livres para um eventual inquilino ou
futuro proprietário.
Tem uma igreja matriz |
Em
qualquer esquina ou quintal, qual grilo de Barcelona, também aqui no silêncio
das noites quentes de verão com os seus melodiosos cânticos, os grilos
despertam o ouvido do mais distraído, qual trilhar das cordas de uma guitarra
de Coimbra nas mãos dum estudante.
Como
em qualquer parte do nosso planeta, também na minha cidade cada família, na sua
maioria, tem um animal de estimação.
No
início da primavera, apareceu na minha rua uma cadela de grande porte, que pelo
aspeto aparentava ter já alguns anitos, olhar triste e cansado de quem já fez
muitos quilómetros e outros, se calhar, ainda tinha para fazer. Com os ossos a
sobressaírem do seu pelo mesclado de castanho, começou por cheirar tudo que
havia em redor e como a porta do meu vizinho estava aberta foi entrando sem
pedir licença. Estava faminta e sequiosa. Diz quem viu que enquanto o balde
teve água não o largou. Foi fácil e rápida a sua empatia com o novo dono.
Estava faminta esequiosa |
Mas
afinal o que é para nós humanos ter um animal de estimação?
Quando
procuramos uma casa para alugar ou comprar e nos é proibido ter animais em casa,
esquecemo-nos muito facilmente que aquele animal, quer seja novo ou velho, pequeno
ou grande, tão dedicado e que já tantas alegrias deu não só a nós, mas também
aos nossos filhos e netos, faz parte integrante da família.
Depois…
podemos perguntar também se é um animal de estimação, porquê tê-lo acorrentado
dia após dia, ano após ano?
E
também … porque os abandonamos na rua quando vamos de férias?
E
ainda: porque havemos de continuar a pensar que “aquilo” é apenas um animal e
não tem sentimentos?
Não
seria melhor pensarmos nas responsabilidades e nas consequências antes de
metermos um animal em casa?
Enfim,
a minha cidade tem tudo ou quase tudo, não se destacando de nenhuma outra.
Maria Jorge ©2014,Aveiro,Portugal
A tua cidade "tem tudo ou quase tudo, não se destacando de nenhuma outra." Mas, com a tua sensibilidade, se fosses tu a mandar, a tua cidade seria com certeza muito diferente de qualquer outra.
ResponderEliminarA minha cidade, todas as cidades!
ResponderEliminarUm homem, mas, felizmente, nem todos os homens são iguais.
Texto bem estruturado para realçar o tema do abandono.