©Gil Gilardino
A palavra “SINCERIDADE”, por muito paradoxal que possa parecer, nasceu de uma
mentira.
Os estudiosos da semântica contam,
segundo reza a lenda, que no tempo do antigo Império Romano se vendiam estátuas
com mármore rachadas.Para disfarçar as feridas destas
infelizes estátuas, enchiam-se as rachas de cera e, assim, os escandalosos
mercantes eram tão prósperos como pouco honestos.Os comerciantes honestos alertavam os
seus clientes de que as suas estátuas eram “sem-cera”
… e a palavra nasceu.
As diferentes palavras tais como
sinceridade, verdade e mentira possuem um forte significado simbólico.Na actual sociedade a simbologia das
palavras perdeu o seu peso, criando um vazio pouco confortável para quem todos
os dias deve confiar na ética assimilada ao papel da honestidade.
Cada vez com menos transparência social
se aumenta a opacidade nas nebulosas dos relacionamentos, no lugar de
proporcionar espaços cristalinos do verbo, procurando equidade nos valores da
sinceridade ou na verdade.
Em tempos que já foram, existiam nas
diferentes sociedades certas tendências espirituais com diferentes filosofias,
ateias ou religiosas, garantindo valores sociais, proporcionando uma certa
ordem cívica.
Actualmente assistimos a uma
verdadeira apoteose da palavra sinceridade da parte dos políticos actuais,
horas de comentário nos canais de televisões com eminentes constitucionalistas
a analisar todas as versões da importância da palavra DEMOCRACIA. O mesmo
consiste na palavra desportivismo - parece que já ninguém sabe interpretar o
compreender a expressão delas.Um famoso concílio no século 1101 D.C.
deliberou o celibato dos padres, mas, paradoxalmente, os primeiros discípulos
do nosso Jesus Cristo eram quase todos casados.
Cheios de verdades ou de mentiras, os
séculos transformaram as mentalidades e tudo evoluiu, chegando a época moderna
onde assistimos tranquilamente a uma violência verbal, sem vergonha da mentira,
e onde muita gente impressionada continua a amar a “DEMOCRACIA” mesmo reconhecendo as suas imperfeições.
E surgem as dúvidas sobre até quando
podemos inventariar este valor democrático na sociedade: será melhor pensar num
outro futuro, ou será que os oportunistas, de forma disfarçada, poderão impor
uma nova ditadura?
As forças intelectuais não conseguem
ter voz capitular, as forças políticas perderam a vergonha, esqueceram o simbolismo
das palavras, da ética e da moral, substituíram valores morais pelo deus
dinheiro.
Pela
falta de sensibilidade, sem medo e hesitação espera-se pelas dolorosas
transformações sociais?
Bem sei que vou ser acusado de
visionário idealista, pois o povo lusitano é pacífico, limitado nesta tranquila
e dolorosa inércia.
Em gastronomia o sucesso é atingido no
equilíbrio da intensidade dos sabores e dos aromas e a sociedade exige uma mais
justa distribuição das riquezas e da justiça e parece-me termos chegado ao
limite das possibilidades. A fome e a miséria podem despertar fantasmas muito
estranhos, às vezes difíceis de gerir.
Seria bom não se exagerar e fazer um
retorno aos valores das palavras, reencontrar a ética
nos intercâmbios
comerciais e políticos, finalmente retirar do pó os ideais esquecidos, renovar
os sonhos na juventude e abrir as esperanças no futuro da vida. A palavra ultimamente é dada aos
economistas que brilhantemente explicam as terríveis estatísticas, errando nas
previsões.
Num dos últimos comentários
televisivos foi emitida a pergunta “em quanto tempo se pensava pagar a dívida
de Portugal” e a resposta foi “30 anos”, dito com calma e ponderação, esperamos
com competência.
Não constatei que alguém opinasse e questionasse
os 30 anos de sacrifícios da futura geração. Será que a ideia destes governantes
é que, durante os futuros 30 anos, sejam retirados os sonhos e as esperanças da
juventude?
E surge-me a dúvida, depois do
primeiro-ministro declarar, “ainda não estamos fora da crise mas quase”, forçando-me
a perguntar: Afinal quem acerta?
Gil Gilardino ©2016,Aveiro,Portugal
uma reflexão sensata e pertinente
ResponderEliminarEvoluir quer saudar mais um novo autor que, em dia de liberdade, nos traz uma reflexão sobre as armas da liberdade e como elas são utilizadas pelos seus mentores. Muito obrigada, Gil, pela sua colaboração: fique connosco que nós vamos gostar muito de o ter por cá.
ResponderEliminarDe Celeste Heleno recebemos o seguinte comentário:
ResponderEliminar" Lindíssimo."
De Jeannine Brunet recebemos o seguinte comentário:
ResponderEliminar"Bon sujet de réflexion ...L'oeillet est superbe !"
De Idalinda Pereira recebemos o seguinte comentário:
ResponderEliminar"Um despertar de consciências, uma voz que ecoa Até quando? Gostei. Parabéns Gil. Continua."
De Ilda Pires recebemos o seguinte comentário:
ResponderEliminar""Foram dias, foram anos..." . Este Poema leva a um outro de Sophia "Esta é a madrugada que eu esperava...O dia inicial inteiro e limpo...". Este ano o 25 de Abril soube-me particularmente bem. Soube-me àquele 25 de Abril primeiro, o de 1974. Mesmo se muita coisa ainda não anda como nós gostaríamos, sente-se no ar um não sei quê de esperança nova. Pelo menos, eu sinto-a. E gostei desse texto sobre as palavras e os seus significados."
De Augusto Sousa Barbosa recebemos o seguinte comentário:
ResponderEliminar"De certeza que existe. E da esquerda à direita, estou convencido.É certamente um tema nobre que gostaria de debater."
Esta é uma pergunta que me faço muitas vezes. Infelizmente, chego à triste conclusão de que ser sincero deixou de ser socialmente aceite - na política, na economia, na nossa vida do dia-a-dia. Claro que somos sistematicamente bombardeados com factos cujo conteúdo se torna contraditório ou até mesmo inverosímil. Deixámos de poder viver com sinceridade? Eu continuo a achar que não é uma utopia mas sim um dever de todos os que se orgulham de viver de acordo com o que pensam. Mesmo que isso lhes traga dissabores, mesmo que isso os isole do mundo onde os valores passam pelo poder e o poder se exerce sem sinceridade.
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