domingo, 22 de novembro de 2015

O teu poema

Palmira Alvor Figueiredo 
... um poema por escrever ...

As palavras já não bastam!
Perderam o perfume
nesse exercício vão,
de descrição,
que o poeta
tentou fazer, do amor.
Restam letras estilizadas,
imagens belas,
frases caladas (ocas),
vazadas de sentimento,
des(emocionadas),
roubadas à aliteração
sem comoção, foragidas,
odiadas, rasgadas, perdidas!

Quero escrever-te o mais belo poema (de amor),
mas a fuga das palavras (que fenecem),
apaga a cor,
restando, apenas
esta folha imaculada,
abandonada,
de um poema por escrever.

Como cantar a escaldante dor do sol,
na sua ânsia perpétua, por um só beijo da lua?
Como transcrever o sofrimento gritado,
nas cinzas laranjas do ocaso, que os aparta
e os não deixa abraçar?
Como descrever a força, dessa dança delicada
das lágrimas prata da lua,
dissolvida em marés e em sorrisos de espuma?
Como alinhar as letras, na imagem de um verso
desenhando a epopeia, da terra beijada pela chuva?
Não encontro o perfume das palavras, nem o lenitivo do tempo.
Ao meu redor, apenas o (e)terno brilho dos teus olhos
cega os meus, na noite clara da areia.
Nesse deslumbramento, cúmplice, de pupilas dilatadas
fundidas no teu ser, em viagem sem retorno,
mora o mais sublime poema de amor: a menina dos teus olhos.

Palmira Alvor Figueiredo ©2015,Lisboa,Portugal
In: Palavras de Veludo  Imagem: Josephine Wall

6 comentários:

  1. muito, muito bonito..Bjs. Aida Viegas

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  2. De Manuela G. Silva recebemos o seguinte comentário:
    "Um belíssimo Blog.de partilha e divulgação do melhor que se produz em poesia na actualidade. Grata pela partilha! "

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  3. De Idalinda Pereira recebemos o seguinte comentário:
    "Lindo! Um poema que não nos deixa indiferentes. Parabéns."

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  4. De Natália Vale recebemos o seguinte comentário:
    "Muito bom como a Palmira já nos habituou. Bjs e obrigada pela partilha."

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  5. As palavras não "fenecerão", enquanto houver poetas que lhes comuniquem nova vida. Gostei muito, Palmira.

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  6. Há "poemas" e poemas... grandes, pequenos, muito belos,menos belos, recheados de esmerada poesia ou esmiuçados do poder que um poema sempre tem.
    "O teu poema" é um POEMA com uma força tal, que deixou de ser dele e passou a ser nosso.

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