Maria Jorge
Joãozinho, igual a tantos outros, de tão irrequieto e curioso,
cansava o mais paciente. Próprio de uma criança de 10 anos, estava na idade de
todos os porquês. A sua cabecita estava povoada de imensas perguntas e gostava
de ter respostas, mas nem sempre tinha êxito. Via coisas na escola com que não
concordava, ouvia na TV algumas notícias que o intrigavam mas os seus pais
raramente tinham tempo para lhe explicar o porquê daquil
Mas Joãozinho nunca
desistia de satisfazer a sua curiosidade. E quem melhor para o fazer do que a
sua avó que já tinha todo o tempo do mundo?
– Avó,
ando muito intrigado com algumas notícias que tenho visto na TV.
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... e chamam a isto racismo. |
– Nos
Estados Unidos, os polícias têm matado miúdos pouco mais velhos do que eu. E
depois dizem que são polícias brancos que matam meninos negros e chamam a isto
racismo. O que é isso de racismo?
– Racismo
filho… é um pouco difícil. Sabes que no mundo há crianças que nascem brancas,
amarelas, negras, olhos em bico, cabelos louros outros de cabelo escuro liso ou
encaracolado, depois quando crescem uns são altos, outros baixos, escolhem a
religião que querem seguir, enfim, não somos todos iguais por fora. Vou-te
contar uma história verídica, ouve com atenção.
– Está bem
avó, vou prestar muita atenção para ver se vou ficar sem dúvidas.
Era uma vez um menino
que teve um sonho: todos diferentes, todos iguais, independentemente de raças, crenças,
religião ou costumes.
E foi assim que em
Atlanta, no estado da Geórgia dos Estados Unidos da América, no dia 15 de
Janeiro de 1929, nasceu uma criança do sexo masculino e de raça negra, a que legalmente
foi dado o nome de Michael King. Mais tarde o seu pai, argumentando que foi
incorretamente registado, retificaria o seu nome.
Filho e neto de pastores
protestantes batistas, depois de ler diversas passagens da Bíblia, muito cedo e
no que se refere à religião, decide seguir os mesmos passos dos seus antepassados.
Em 1951, com 22 anos, licenciou-se em Teologia na Morehouse College. Seguidamente fez o doutoramento em Filosofia na
Universidade de Boston.
Para além de ser pastor
protestante foi um grande ativista político norte-americano
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"Eu tenho um sonho!" |
contemporâneo.
Lutou contra a discriminação racial e tornou-se num dos mais importantes
lideres dos movimentos civis dos negros nos Estados Unidos.
Em 1954 foi para a
cidade de Montgomery, no estado de Alabama para exercer as suas funções de
pastor. Era nesta cidade, na parte Sul dos Estados Unidos da América, que se
verificavam os maiores conflitos raciais e após a prisão de uma mulher negra, Rosa Parks, por se recusar dar o lugar a
uma mulher branca, começou a sua luta incansável pela igualdade das raças.
Em 1957 foi fundador e
presidente da Conferência da Liderança Cristã do Sul, organizando campanhas
pelos direitos civis dos negros, baseadas na filosofia da não-violência.
E foi assim que a partir
de 1960, institucionalmente, os negros têm acesso a parques públicos,
bibliotecas e restaurantes.