José Luís Vaz
Havia um caçador que,
durante a sua vida, teve vários cães. Um, o Boby, era muito especial para o
dono, nem tanto para as outras pessoas. Era astuto, ladino e muito leal, só com
o dono e traiçoeiro e manhoso com qualquer outra pessoa. Aquele homem tinha um
orgulho enorme naquele animal, que descrevia como um verdadeiro cão de caça,
tal a sua eficiência e astúcia em pleno mato. Ele corria, farejava tudo,
entregava, com raro despacho, coelho ou perdiz ao caçador que o mimava com
festas no focinho. Boby respondia com exuberante ladrar e saltos de satisfação.
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Normalmente, pregava-a pela calada |
Se bem que era perigoso para qualquer
pessoa da casa aproximar-se da mesma durante a noite, porque ele só era leal ao
dono, apesar de tudo, com uns raspanços, lá continuava, contra a vontade da
esposa do caçador, que temia por algo de grave que pudesse acontecer.
Normalmente, pregava-a pela calada, e
desde ter rasgado as calças a um polícia, a batina a um padre, ter urinado nas
pernas de uma senhora que, calmamente, conversava com a dona, a ter,
repetidamente, feito correr um mendigo a sete pés, ele fez de tudo um pouco. O
pouco tornou-se muito no dia em que rasgou a saíta de uma netinha da casa com
apenas quatro anitos.