quarta-feira, 23 de julho de 2014

Pronto para recomeçar


Pronto para Recomeçar - Sinopse

Desempregado, Nick agrava a sua dependência do álcool. Enfrentando problemas com a bebida, acaba por se desentender com a mulher, que despeja tudo o que é dele no jardim de casa. Na tentativa de recomeçar a vida, coloca à venda, à beira do passeio, tudo o que tem. Um novo vizinho pode ser a chave para que o quotidiano de Nick recomece de novo.


Pronto para recomeçar

Diego e Helena eram um casal como tantos outros, com um bom emprego, uma vida social ativa, sem filhos.
O facto de não terem filhos permitia-lhes uma vida com algumas extravagâncias e tempo para viajarem, quando possível, para países que sempre quiseram visitar.
Diego estava ligado a uma multinacional que negociava em consumíveis, era diretor do departamento de vendas. O seu trabalho levava-o muitas vezes a ausentar-se para fora da zona de residência e até do país.
É sabido que uma vida profissional intensa leva a que socialmente se seja ativo e a que se cometam alguns excessos, que noutro ramo, com menor exigência, poderiam ser evitados.
O casamento estava em crise
Diego e Helena estavam casados há quase oito anos. O casamento há muito que estava em crise; o facto de não terem filhos, as frequentes ausências e o vício do álcool do marido, a falta de comunicação entre o casal, estavam a destruir uma relação em que o amor era recíproco, mas em que o respeito e a harmonia estavam quase que diariamente a ser postos em causa.
Posto pela esposa perante a possibilidade de uma separação se não mudasse o seu tipo de vida, Diego assumiu finalmente que tinha um problema grave com o álcool.
Filho de pais alcoólicos, a sua predisposição para o álcool era um fator de grave risco para uma cura. Assim, Diego e Helena resolveram fazer terapia de grupo e frequentar um centro de recuperação de alcoólicos.
Estava a ser difícil, mas o casal sentia que pela primeira vez em muito tempo, estava a obter resultados.
Helena rodeava de cuidados o marido para que ele não sentisse vontade de prevaricar; as saídas para o exterior é que eram uma constante preocupação pelo risco que representavam.
No emprego, Diego estava a passar por algumas dificuldades; era um técnico altamente qualificado, pago em função dessa mesma qualificação e dos resultados que daí advinham, mas os erros cometidos sob o efeito do álcool e as despesas inerentes, levavam a que a empresa já o tivesse advertido de que a sua posição não estava muito segura.
Com toda a pressão que sentia no emprego, ele sabia que as grandes empresas eram por princípio desumanas, e que não tinham problemas morais se o despedissem, a sua tentação para beber era terrível.
Sabia que a todo o momento poderia ser substituído por um jovem licenciado a ganhar menos de um terço do que ele ganhava. Tinha ao longo dos anos realizado um bom trabalho, feito uma boa cobertura de mercado, resultante de um estudo apurado das necessidades do mesmo.
Era pois previsível que a administração, sabendo que bastava manter a estratégia usada
Diego, o que te aconteceu?
até ao momento, o dispensasse a pensar na diminuição das despesas.
— Como vou conseguir enfrentar a Helena, como vou dizer-lhe que estou a correr um sério risco de ser despedido? E porque piorei tudo quando entrei desesperado naquele bar e comecei a beber?
Era este o pensamento de Diego.
— Diego, o que te aconteceu? Tão cedo e já estás em casa? Com um aspeto horrível, bebeste, bebeste e não foi pouco.
— Peço-te perdão por isso, realmente não mereço o teu carinho e a tua preocupação, não sei enfrentar os problemas como um homem e reajo da pior maneira, bebendo.
Helena sentiu-se desesperada, algo tinha acontecido e lamentavelmente o marido mais uma vez havia esquecido as suas promessas, posto em causa os resultados e a continuação dos tratamentos, a confiança e o respeito que deviam um ao outro, enquanto casal que se amava e que queria salvar o casamento.
— Desta vez vais ter que te esforçar muito para me convenceres a entender e a perdoar esta tua atitude de profundo desrespeito para comigo e para contigo próprio.
De nada valeu a explicação de que fora chamado à direção e suspenso durante uma semana, enquanto decidiam a posição a tomar quanto ao seu futuro. Reconhecia que era um ser humano irresponsável por não conseguir agir de forma correta, deixar o vício da bebida, quando tinha todo o apoio em casa, um casamento e um emprego a preservar.
Helena foi intransigente, não estava disposta a manter uma união que não era suficientemente forte que o levasse a resistir ao vício do álcool.
Diego sentiu que o mundo desabava ao seu redor. Tinha o seu casamento como um dado adquirido, nunca pensara seriamente que a sua mulher tomaria a qualquer momento a decisão de que o vinha ameaçando. Agora era tarde demais; Helena pedira-lhe que saísse de casa até ao fim do mês e ele sabia, porque a conhecia bem, que era uma decisão irrevogável.
A decisão final relativamente à sua permanência na empresa chegou e com ela o despedimento que tanto temia. Em desespero, pensou no que seria a sua vida, o seu futuro sem emprego, sem Helena e sem casa.
Chegou a casa e deparou com a mala feita e a presença da sua mulher acompanhada pelo advogado da família. Ficou de rastos, mas entendeu a posição de Helena. Combinaram que ele sairia nesse dia, que dividiam a conta à ordem e congelavam os restantes bens até que a situação se resolvesse legalmente.
Depois da saída do advogado o ambiente era desolador; eles continuavam a amar-se mas a confiança e o respeito tinham sido seriamente abalados.
— Diego, por favor, agora que vais estar sozinho, que estamos a passar por este sofrimento, tenta uma desintoxicação séria, muda de emprego se tal achares necessário, mas muda, deixa de beber e se tiveres força de vontade para o conseguires, talvez não seja tarde para recuperarmos o nosso casamento.
...outro whisky
Diego nem teve coragem para lhe dizer que tinha sido despedido e que esta era a pior altura para enfrentar os seus demónios.
— Helena, amo-te e reconheço que mereço o que me está a acontecer, mas vou voltar porque acredito que vou conseguir recuperar a minha vida de volta.
Diego saiu, procurou um hotel e sentiu-se desesperado, atirado para cima da cama, com pena de si próprio e sem vontade de nada fazer.
— Prepare-me outro whisky;
— O senhor desculpe, mas já entrou há horas neste bar e ainda não parou de beber e já não está muito bem.
— Isso é comigo, sirva-me o que lhe pedi e sem comentários.
Diego já tinha perdido a conta ao álcool que ingerira, também não sabia os dias ou os meses que já tinham passado, sentia só que se estava a afundar e o álcool era a única forma de esquecimento que tinha.
Chegou ao hotel e na receção entregaram-lhe uma mensagem. Era o gerente a pedir que fizesse o favor de abandonar o hotel, porque a sua conduta era imprópria e punha em causa o bom nome do mesmo.
Com o orgulho ferido, pediu de imediato a conta e que lhe chamassem um táxi e saiu.
— Leve-me por favor a uma pensão económica.
O taxista deixou-o numa pensão situada numa zona degradante. Não disse nada, também
... um homem caído...
já se tinha apercebido que o dinheiro começava a escassear, a sua vida a degradar-se cada vez mais e sem vontade de nada fazer para o evitar.
— É do 112? Por favor, está um homem caído junto a um banco do jardim e não dá acordo de si. Não, não o conheço; ia só a passar quando o vi.
A emergência médica acorreu de imediato e tentando reanimar o doente verificou que o mesmo se encontrava em coma alcoólico.
— Temos que o levar aos cuidados intensivos rapidamente.
— Aqui emergência médica, vamos a caminho com um doente em coma, o seu nome segundo os documentos é Diego Santini de quarenta anos.
— Onde estou? O que me aconteceu?
— Sou o seu médico, o senhor encontra-se no hospital e acaba de acordar depois de dez dias em coma. O seu estado não é bom, o seu fígado não aguenta nem mais uma gota de álcool. Aconselho-o vivamente a procurar ajuda quanto antes e vou mandar-lhe uma assistente social para falar consigo.
Diego ficou estarrecido, estupefacto, soube que fora encontrado caído na rua e só por milagre estava vivo. Tinha chegado ao limite da decadência, sentia vergonha dele próprio e do que fizera com a sua vida. Como fora possível viciar-se no álcool daquela forma? Como pusera em risco a vida, destruíra o casamento e perdera o emprego?
Estava lúcido e sem beber há um mês, aceitara a ajuda da assistente social e a seu conselho estava internado numa instituição para fazer um tratamento que o ajudasse a manter-se sóbrio.
Para passar o tempo ajudava no economato, na abertura de concursos para as compras, área em que sabia ser bom.
Chegou o dia em que teve alta, tinham passado seis meses e não tinha bebido nem sentido a necessidade de o fazer.
A administração, levando em conta o trabalho realizado no aprovisionamento, tinha-o convidado a ser o responsável pela secção de compras e recursos humanos. Aceitara de imediato e agradecera a Deus pela nova oportunidade que lhe estava a ser dada.
Mudou-se para uma residencial decente perto do serviço, telefonou à mulher a pedir-lhe que se encontrassem, comprou um ramo de flores e foi encontrar-se com Helena.
— Que bom voltar a ver-te depois de todo este tempo Helena. Tinha saudades de olhar para ti. Desculpa, não quero nada embaraçar-te, pretendo apenas que saibas que neste momento estou bem, sóbrio há mais de seis meses.
— Por favor Diego, sentemo-nos. Gosto muito de te ver, estás mais magro mas com um aspeto mais maduro. Como estou contente por estares sóbrio, mas conta-me, o que te aconteceu?
— Helena, quando nos separámos a minha vida transformou-se num inferno, não te quis
... pronto para recomeçar...
dizer que acabara de ser despedido. Estamos a ter agora esta conversa porque, felizmente para mim, houve outra oportunidade e estou muito bem. Bati no fundo como poucos; despedido, separado, bêbado, expulso do hotel onde dormia, acabei apanhado na rua em coma alcoólico e dou graças a Deus por isso, porque foi aí que a minha recuperação começou.
— Como foi possível tudo isso e eu sem nada saber, Diego? Não sou capaz de entender tamanho caos e sofrimento.
— Helena, esquece, cada vez mais sinto que tudo o que passei por minha própria culpa, serviu para me transformar num homem melhor. Amo-te e se me deres outra oportunidade, com o tempo, vou mostrar-te que mudei, para melhor. Porque, estou pronto para recomeçar.

Dores Topete ©2014,Aveiro,Portugal

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