© José Teixeira
A chuva caía suavemente, libertando-se de uma teimosa névoa, que pairava em forma de véu compacto sobre a copa das árvores da avenida, nesta manhã de outono, em que o sol se perdeu entre as nuvens e o vento não se fazia sentir.
A chuva caía suavemente, libertando-se de uma teimosa névoa, que pairava em forma de véu compacto sobre a copa das árvores da avenida, nesta manhã de outono, em que o sol se perdeu entre as nuvens e o vento não se fazia sentir.
Embrulhado
na minha capa, caminhava eu pela calçada, no passeio matinal com que inicio o
meu dia. Adiante de mim seguia uma jovem mãe, em passo acelerado. Um corpo
esbelto protegido por um vestido esverdeado, talvez um pouco gasto, mas
gracioso na forma como fazia sobressair a beleza da jovem.
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Nunca o Homem, estando tão perto, esteve tão longe do Homem |
Com uma mão
arrastava uma criança com cerca de três anos e na outra segurava um telemóvel
bem encostado ao ouvido. A conversa não lhe estaria a agradar, pois da sua boca
choviam raios e coriscos. A chuva continuava a cair, o telemóvel não se molhava
e a criança choramingava, mas a mãe não a ouvia. Os automóveis passavam
velozmente perturbando o ambiente com o estrépito dos motores. Não conseguiam
escutar o que a jovem dizia, mas eu que seguia mesmo ali, atrás daquela mãe com
a criança pela mão, numa manhã de chuva miudinha, ouvia-a muito bem. E,
sobressaíam o toc, toc dos sapatos de tacão alto e as palavras azedas dirigidas
ao pai da criança que a escutava algures.