Albertina Vaz
Uma poça de água no chão espelha as pontas esguias das árvores onde as folhas começam a rebentar. Há flores por toda a planície e sabe bem pressentir o renascimento que se aproxima. Quem dera que o sol apareça! Faz-nos falta sorrir ou fazer sorrir uma criança…
![]() |
Vamos chapinhar num charco de água |
Anda, vem daí: vamos correr pela praia e atirar areia ao ar e sentir o cheiro a maresia e os pingos das ondas que rodopiam no mar. Vamos senti-las e lamber os braços que sabem a sal e correr, correr – espera por mim, que me dói… eu vou já! Espera aí! Que bom sentir a tua mão na minha e a outra a limpar-me o sal da água e os salpicos das ondas.
![]() |
Vamos construir um castelo de areia |
Vamos construir um castelo de areia: vamos fazer um grande monte e depois dar forma às ameias e fazer um fosso a toda a volta – eu sei, eu sei – uma ponte para a princesa sair ou para o príncipe entrar. Sim, vamos pôr uma bandeira lá na torre mais alta: isso, traz esse pauzito da duna e vamos fazer um desenho neste lenço. Que lindo: esvoaça com o vento. Vamos apanhar conchinhas e fazer uma muralha de rendas à volta das janelas. Olha a bandeira, parece uma nuvem branquinha a descer, a descer e a desfalecer-se lá longe no horizonte, perto do mar…
Deitarmo-nos na areia húmida? Mas depois ficamos todas ensopadas… Vamos lá, tens razão: vamos fazer tudo o que é proibido, hoje! Que lindo o céu – está cheio de nuvens! A correrem dum lado para o outro: aquela parece que sopra nas outras todas. O quê? Achas que sim? Estarão mesmo a brincar às escondidas? És capaz de ter razão…Aquela é um urso? Será? Dizes que vai a correr atrás da menina? Mas eu não vejo menina nenhuma… pois é, já não vejo muito bem! Gosto que vejas por mim: ensinas-me o que eu já não consigo ver.