José Luís Vaz
— Bom dia. Está cansado? E eu
a julgar que só me acontecia a mim…
Um banco localizado num ponto
estratégico do parque, sombreado por farta copa de árvore que filtrava os raios
solares mais intensos e dava guarida a tenro vento que granjeava às pessoas a
frescura do descanso procurado. Albergue da solidão de alguns, local de
encontros conversados ou mesmo advento de amizades não programadas, aquele
banco era detentor de tantas conversas, de tantos segredos, de tantas
intimidades, que ai se ele falasse?!…
Hoje era anfitrião de um
sexagenário que, bastante gasto pela vida, pousava ali o seu corpo, após
caminhada recomendada pelos médicos, não fosse a ociosidade pregar das suas a
quem em tanto stress tinha vivido. Local tão cobiçado, proporcionou-lhe,
passado pouco tempo, a companhia de um jovem de boa aparência atlética que do
exercício tirava prazer, tentando aliviar de tensões inevitáveis aos tempos de
hoje.
— Acontece a todos. Percorri,
em passo de corrida, cerca de seis quilómetros tendo, ultimamente, feito isto
poucas vezes. E sente-se logo a diferença.
— Claro, a quem o diz. Basta
falhar um dia e no dia a seguir já é o cabo dos trabalhos: os músculos ficam
presos, as articulações perras, nada ajuda e tudo se torna mais difícil. Eu
tento fazer isto com uma certa regularidade, mas nem sempre calha e olhe, já
estou como diz o outro, “o óptimo é inimigo do bom” e vai-se andando com o
tempo. E o meu amigo, o que é que faz?
— Ainda sou estudante, estou a
ultimar o meu doutoramento. Por isso, nem sempre consigo conciliar as
obrigações académicas com as desportivas, pelo que vou tentando dividir-me.
— Quer dizer, dentro de algum
tempo, será Doutor. Oxalá que tudo lhe corra bem.
— Obrigado. Mas disso não
tenho qualquer certeza. Sabe, uma das razões porque enveredei pela continuação
dos meus estudos foi, exactamente, não ter arranjado emprego quando terminei a
licenciatura. Ainda estudei a hipótese de emigrar mas os meus pais apoiaram-me,
ou melhor continuaram a assumir as minhas despesas, e só temo não lhes dar a
felicidade de me verem realizado. Então e o senhor, já está reformado?