sábado, 30 de janeiro de 2016

O Boby

José Luís Vaz 


Havia um caçador que, durante a sua vida, teve vários cães. Um, o Boby, era muito especial para o dono, nem tanto para as outras pessoas. Era astuto, ladino e muito leal, só com o dono e traiçoeiro e manhoso com qualquer outra pessoa. Aquele homem tinha um orgulho enorme naquele animal, que descrevia como um verdadeiro cão de caça, tal a sua eficiência e astúcia em pleno mato. Ele corria, farejava tudo, entregava, com raro despacho, coelho ou perdiz ao caçador que o mimava com festas no focinho. Boby respondia com exuberante ladrar e saltos de satisfação.
 
Normalmente, pregava-a pela calada
        No dia a dia, passava o tempo junto à habitação do dono, num pequeno quintal que não lhe chegava, transpondo muros ou portões para policiar a rua. Aqui, o caso tornava-se muito sério, quando, por ventura, não lhe agradasse quem fosse a passar. Pessoas mal vestidas ou fardadas corriam sério risco ao tentarem passar e, muitas vezes, perante o ladrar típico de pretensa agressão, dono ou algum familiar vinham à porta para o chamar e ralhar com ele.
      Se bem que era perigoso para qualquer pessoa da casa aproximar-se da mesma durante a noite, porque ele só era leal ao dono, apesar de tudo, com uns raspanços, lá continuava, contra a vontade da esposa do caçador, que temia por algo de grave que pudesse acontecer.
        Normalmente, pregava-a pela calada, e desde ter rasgado as calças a um polícia, a batina a um padre, ter urinado nas pernas de uma senhora que, calmamente, conversava com a dona, a ter, repetidamente, feito correr um mendigo a sete pés, ele fez de tudo um pouco. O pouco tornou-se muito no dia em que rasgou a saíta de uma netinha da casa com apenas quatro anitos.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

UM SORRISO

Maria Celeste Salgueiro

E tenho ainda o sol na minha mão

Qual principe de sonho tu surgiste
E eu fiquei suspensa e encantada;
A minha solidão tu invadiste
E logo a minha vida foi mudada!

Tive o sol na mão quando me sorriste,
Mudou-se a noite escura em alvorada;
Com uma seta de ouro me atingiste,
Depois seguimos ambos na jornada!

O tempo foi passando e nos marcou.
Há rugas no teu rosto que mudou
Mas que eu vejo através do coração.

E quando volto atrás em pensamento,
Eu sinto aida o mesmo encantamento,
Eu tenho ainda o sol na minha mão!...


Maria Celeste Salgueiro ©2016,Aveiro,Portugal

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Se eu fosse deus

Vitor Sousa 
Se eu fosse deus
Barjavel, se fosse deus, faria cantar as árvores e florir os pássaros.
Eu… Faria cantar a assembleia da república em etílicos cacarejos e florir com abundância a testa dos políticos.
Hastes desgarradas, brotadas de rebentos viçosos de tonalidades ímpares passando do vermelho vivo da romã à subtileza romântica do pessegueiro.
O aroma intenso lembraria nevões de amendoeira nas encostas de Foz-Côa, crepitado de cor no bordar florido das cadeiras.
O dinheiro seria trajecto de impressora e memória museológica criado em função da carência da vaidade.
Haveria honorários milionários e gratificações chorudas para os eleitos do momento.
Os políticos honrariam finalmente o propósito hilariante da sua existência.
Divertir o povo!                                                                  
Enfim…Alegações absurdas, de um absurdo incontornável!
Na verdade, se eu fosse deus, honraria o dinheiro como fruto do trabalho e torná-lo-ia obrigatório na partilha com modéstia.
Faria com que os homens nascessem livres e dar-lhes-ia asas para voarem por cima das diferenças.                  
Se eu fosse deus, libertava o homem desta forma de olhar o agora com desdém e deificar o além desconhecido.

domingo, 10 de janeiro de 2016

No rescaldo do Natal

Lena Marília Faria Castanhas


O Natal, na sua essência, faz parte de mim desde que me conheço. A tradição veio do meu pai que a recebeu dos seus antepassados de Amarante. Era indispensável fazer o Presépio, com as figuras guardadas no ano anterior e todas as outras que se iam adquirindo. Ficava dignamente instalado na sala e todos colaborávamos na sua montagem, com entusiasmo, alegria e muita imaginação. Com papel grosso e acastanhado, previamente amarrotado e carregado de musgo, representava-se a paisagem natural com rios e lagos (a água era simulada por um espelho) e colinas. Em local privilegiado, ficava a gruta que alojava o Menino, seus pais, o burro e a vaca e as restantes figuras eram espalhadas pelo espaço sobrante de acordo com a lógica de cada um de nós.
Ao lado, fazia-se a árvore de Natal com um pinheirinho, encimado por uma estrela prateada e enfeitado com fitas e bolas de cores variadas e pequenas velas vermelhas que só os pais podiam acender.
O momento principal do Natal era a ceia, a Consoada. À mesa, posta com requinte, sentava-se a família, vestida para aquela ocasião especial, e algum Amigo que não pudesse, naquela noite, estar com os seus. Nesse dia era permitido conversar, rir, contar histórias e quebrar mais algumas regras de “bem estar à mesa”.
A ementa era sempre a tradicional: sopa de lagareiro, bacalhau cozido com batatas, grelos e ovos, um prato confeccionado com couve troncha e bacalhau, ao qual o meu pai chamava “couvanças” (receita de família) arroz de bacalhau com bolos de bacalhau e arroz de polvo. Não se comia carne e a sobremesa era muito variada: rabanadas. Sonhos, coscorões de forma, torta de laranja, torta de noz, leite creme e pudim.
Na mesa de apoio havia pão de ló com queijo da serra amanteigado, passas, nozes, figos secos e pinhões, bombons e outras guloseimas.
Um pouco antes da meia noite, cada um de nós colocava um dos seus sapatos junto da lareira e ia para a cama porque, quando estivesse a dormir, o Menino Jesus descia pela chaminé e deixava lá um presente.

domingo, 3 de janeiro de 2016

O Cachim só sabe responder assim

José Cachim


    
O Cachim só sabe responder assim


Que obra tão meritória
Para gente assisada
O EVOLUIR é uma vitória
Que deve ser realçada


A mensagem recebida
Dá saúde e alegria
É o evoluir da vida
P´ra nascer em cada dia

Dá trabalho e canseira
É cultura e amor
Literatura de primeira
P'ra sossego interior

Saúde e alegria
Sempre sempre a EVOLUIR
E que toda a ACADEMIA
Encare a vida a sorrir


José Cachim ©2016,Aveiro,Portugal

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