terça-feira, 18 de abril de 2017

AMANTES

© Idalinda Pereira

A chuva não desaparecia e o sol tardava em chegar. Estaria zangado?
A lua, amiga do sol, namorada e amante também, não aparecia para lhe dar ânimo... Também as estrelas, suas filhas, não brilhavam no firmamento... Mas de repente, todas se uniram e provocaram uma explosão tal que o céu ficou iluminado, e viu-se o sol a sorrir e a aquecer!.. Então o sol quis falar à sua amada, mas esta recusou... Pois só lhe falaria quando ele se fosse deitar no seu leito para lá do horizonte, e, então sim! A lua aparece, com o seu sorriso ameno mas de grande luminosidade, e as estrelas brincalhonas acariciam-na e sussurram-lhe ao ouvido: 
Mãe lua, não nos abandones, não deixes que o sol te substitua porque com a sua intensa luz, nós deixamos de brilhar e dar alegria àqueles que nos esperam nas noites calmas e solitárias.
A lua estremeceu com o pedido feito que não lhe deixava alternativa para se enamorar do sol, mas, ao mesmo tempo pensou: ele é tão grande e possante, com um brilho tão intenso e delirante capaz da terra aquecer, faz as plantas crescer, dá luz e conforta os habitantes que o contemplam quando chega e lhe agradecem o dia que mais uma vez desponta!.. E eu, o que sou? Bem!.. Também me sinto amada porque me é permitido tornar as noites iluminadas para o amor fertilizar e o relento acalmar e o povo navegar sob a ténue luz, numa segurança ímpar. Sendo assim, não sou sol mas sou lua!

As estrelas são minhas irmãs, minhas filhas, minhas amigas, que sempre me ajudaram a suportar a paixão que ao sol me quis unir num amor insólito e impossível de alcançar!.. 
A lua vaidosa quis despertar um certo ciúme na estrela maior! Quando o sol acordar vou estar deslumbrante, mas vou recolher meus braços para que o sol não desperte com fúria exagerada e prejudique todo o sistema solar.
A paixão do sol era tanta que, quando abriu seus olhos e não viu a sua amada, ficou tão desesperado que perdeu as suas forças e empalideceu!.. Os dias ficaram mais tristes e cinzentos... As nuvens cobriram o sol para que não arrefecesse... E, de repente, o sol não se conteve! Rasgou o manto nublado e voltou a brilhar.
A lua sentiu-se culpada pela dor que ao sol provocou e chorou!..
O Sol continuava numa paixão sem medida! Um dia pediu às estrelas, às nuvens e ao vento para colaborarem com ele neste amor tão lindo, mas tão impossível e todos se esforçaram e o insólito aconteceu! Deu-se a rota do sol coincidindo com a rota da lua e num manto se envolveram os dois corpos celestiais, num bailado tão intenso, amaram-se tão fortemente que se esqueceram do resto!.. A luz brilhante se apagou, ficando o mundo às escuras pelo eclipse solar, em que o sol e a lua não deixaram de se amar, e os seus colaboradores alegraram-se por este encontro fantástico, em que estes apaixonados são namorados assíduos mas só se encontram, de longos em longos anos, a bem da humanidade.

Idalinda Pereira ©2017,Aveiro,Portugal

1 comentário:

  1. Parabéns, Idalina.
    Este texto, uma parábola muito bem desenhada, remeteu-me para a infância, para a curiosidade e até o respeito que sempre me mereceram os astros.
    Vejo, com regularidade, a rubrica dominical na RTP1 do Miguel Gonçalves, Coordenador da Sociedade Planetária, e fico sempre espantado com a infinitude da existência.
    Este seu texto, terno e pueril, encanta pela beleza narrativa.

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